Do ponto mais ocidental do Brasil, em Mâncio Lima, o povo indígena Puyanawa realiza a sexta edição de seu festival, que teve início nesta quinta-feira, 18, com cânticos, danças e rituais que celebram o criador e a natureza. O evento segue até o próximo dia 22, com uma programação voltada para a conexão do homem com a floresta, que vai desde o banho no igarapé com medicina nas águas para a limpeza do corpo à caminhada na trilha da Floresta Puyanawa.
Mas antes de todas essas experiências, o público presente na abertura do evento pôde conhecer um pouco mais sobre a história dos Puyanawa, com apresentações de danças e cânticos que reverenciam à atsa, que é a mandioca. É dela que provém a principal fonte de renda da comunidade, garantindo a independência econômica do povo Puyanawa.
“Nossas danças e cânticos apresentados aqui, hoje, são para mostrar as fases do plantio, colheita e produção de alimentos a base de mandioca. Aqui na nossa Terra Indígena temos várias casas de farinha que abastecem parte do município de Mâncio Lima com a farinha que produzimos”, explica o cacique Joel Puyanawa.
O orgulho da produção vem desde muito cedo. Prova disso é que crianças puxaram as apresentações junto com os adultos, mostrando tudo o que a culinária permite fazer a partir da mandioca, como mingau, suco, goma, sorvete e a própria farinha.
O Festival Atsa Puyanawa recebe apoio do governo do Estado, representado pelas Secretarias de Povos Indígenas (Sepi) e de Empreendedorismo e Turismo (Sete), durante a abertura. Para a titular da Sepi, Francisca Arara, fortalecer a cultura, a linguagem, a culinária e, principalmente, a economia dos povos indígenas, são os maiores objetivos dos festivais realizados atualmente no estado.
“Esse é um dos 23 festivais indígenas presentes no calendário do estado e que recebem apoio do governo para sua realização, a partir de um desejo do próprio governador Gladson Cameli. Com isso, estamos valorizando a cultura de 16 povos diferentes que temos em nosso Acre e fazendo com que o mundo conheça a sua história”, destacou Francisca Arara.
Segundo o secretário de Turismo e Empreendedorismo, Marcelo Messias, uma das metas de gestão estabelecidas pelo governo é avançar ainda mais no setor do etnoturismo. “Já iniciamos um diálogo com a Secretaria de Povos Indígenas para estruturar as aldeias que recebem esses 23 festivais. O objetivo do governo é construir redários, banheiros e restaurantes para receber os turistas de forma confortável, sem interferir em sua experiência com a natureza”, disse.
Atrativo turístico para o mundo
O Festival Atsa Puyanawa é conhecido por atrair turistas de diversos lugares do mundo devido à hospitalidade do Povo do Sapo, como são conhecidos os Puyanawa. “Durante o festival a gente se encontra com a nossa essência e espiritualidade, e compartilhamos tudo isso com os nossos visitantes”, destacou o cacique Joel Puyanawa.
O turista belga Laurent Van Eesbeeck conta que esta é a segunda vez que visita a terra indígena. Há cinco anos veio para conhecer a medicina Ayahuasca, mas retornou por outro motivo. “A maior riqueza que pude encontrar aqui na comunidade foi o convívio social. De onde eu venho, as pessoas sequer conhecem seus vizinhos, mas aqui, desde a primeira visita, me senti parte dessa grande família que ao me dizer ‘bem vindo’, me fez sentir bem vindo de verdade e querer retornar mais vezes”, disse o visitante.
Em sua sexta edição, o Festival Atsa Puyanawa também recebe visitantes da Espanha, dos Estados Unidos e da Grécia. O grego Ioannis Oyahanos disse que o mundo inteiro deveria conhecer o modo de vida e a consciência dos indígenas. Para ele, os povos indígenas são detentores da maior sabedoria popular. “Existe uma riqueza aqui, que está muito mais ligada ao modo de vida dos indígenas, conectado diretamente com a natureza, do que qualquer descoberta nova científica. Conheço pessoas que foram curadas com a medicina Ayahuasca e receberam uma nova oportunidade de vida”, completou.
Até o dia 22, os visitantes do Festival Atsa Puyanawa poderão viver diversas experiências, como a cerimônia espiritual da Ayahuasca. O festival também oferece pinturas corporais, exposição de artesanatos e um amplo cardápio para quem deseja conhecer a culinária indígena Puyanawa.