Da Provação à esperança

“Estamos bem assistidos, mas, Deus, isto é uma grande provação”, comentava, serena, incógnita, uma senhora dentro do abrigo na Avenida Amadeo Barbosa. De fato, uma situação aflitiva, um sofrimento profundo enfrentados com coragem, solidariedade, ética,  fé, convicções firmes, capacidade de comando, liderança e ação dos que têm responsabilidade e compromisso públicos, na sociedade civil e no governo. Uma provação coletiva.

A enchente é mais do que a incerteza. É uma surpresa. A gente sabe que pode acontecer, mas não conhece nem a dimensão nem o tempo. O prefeito Angelim, que tem vasta experiência na matéria, teve sempre um Plano de Contingência à mão. Aliás, não apenas por isso, o prefeito mostrou invulgar competência na administração do socorro às famílias desabrigadas por alagações em Rio Branco.

O que estamos vivendo, nos rios Acre e Purus, não tem precedente, pelo caráter espantoso, surpreendente e o tamanho do impacto econômico, social e ambiental.

Quando o homem muda os fatores de preservação do regime dos rios, com a ocupação predatória das bacias hidrográficas, ou invade o seu leito natural, a cheia do rio transmuta-se em fenômeno social. No Acre, aconteceram os dois atos, determinados por circunstâncias históricas.

A mudança na base produtiva gerou imensos desmatamentos, destruição de áreas de preservação permanente (APPs) e assoreamento. Os rios entupidos de areia e argila não dão conta do mesmo volume de água e transbordam. Como consequência da expropriação de seringueiros e pequenos agricultores, a população rural foi empurrada para os centros urbanos, ocupando as margens dos rios, as matas ciliares, as chamadas áreas de risco.  A água transbordada vai encontrá-los lá. É assim que a enchente vira alagação.

O Acre viu-se, de repente, diante de uma tragédia.  As lideranças políticas, as pessoas de bem, as instituições públicas e a sociedade civil criaram uma rede de solidariedade que alcançou e mobilizou o país. Num gesto magnânimo e generoso, uniram-se para socorrer os desabrigados.

A origem do fenômeno remonta aos anos setenta. Faltam com a verdade e o fazem de má-fé os que tentaram atribuir ao governo os efeitos da alagação. Politizar e manipular o sofrimento de pessoas humildes para tirar benefício eleitoral é vilania.

Sob o comando seguro, determinado e resolutivo do governador Tião Viana, na gestão da crise, somaram-se a Prefeitura de Rio Branco, a Defesa Civil Nacional, o Exército, a Aeronáutica, a Força Nacional, toda a estrutura do governo do Estado, o empresariado e uma legião de voluntários, formada, principalmente, por jovens.

O planejamento cuidadoso, a atenção e a assistência eficazes, o trato humano, a capacidade de prevenção, de tomar decisões e resolver problemas, de agir com precisão e rigor, enfim, o pleno domínio de uma situação complexa, de crise; despertaram na população a certeza de que não está só, que as instituições funcionam, há governo, responsabilidade social e seriedade. E que o destino do Acre é conduzido por mãos seguras, socialmente comprometidas e competentes.

Merece destaque a campanha Acre Solidário, coordenada pela primeira-dama Marlúcia Cândida que se constituiu numa operação de grande envergadura para arrecadar donativos, sendo o recebimento, a embalagem, o transporte e a distribuição feitos pelo Exército. A campanha arrecadou 115 toneladas de alimentos e 44.287 peças de roupa que estão sendo distribuídas.

Impressionam os números da alagação, em especial a extensão dos danos sociais e econômicos. Conforme a estimativa feita para todo o Estado, até 03.03.2012, a enchente atingiu 38.200 residências, o que corresponde a 144.730 pessoas, desabrigou 8.764 famílias que foram socorridas e acolhidas em abrigos públicos.

Para estabelecer uma referência do tamanho da assistência, somente no abrigo do Parque de Exposição estão alojadas 4.442 pessoas. Isto significa fazer a gestão de uma cidade de pequeno porte.

Na área rural foram atingidos 1.700 trabalhadores rurais e o prejuízo está estimado em R$ 25,0 milhões. O governo está negociando com o Banco do Brasil e o Basa a prorrogação dos empréstimos e crédito do Pronaf emergencial.

Prestados o socorro, a assistência e a reabilitação das pessoas, o gabinete de crise está começando o período de reconstrução com a limpeza das cidades atingidas, numa operação que envolverá 280 máquinas, 500 homens, em 32 bairros, apenas em Rio Branco. E a distribuição de kits de limpeza domiciliar.

Mitigar e resolver os impactos materiais da alagação exige capacidade de gestão, comando, mobilização de recursos, liderança, articulação e conhecimento, entre outras. É a parte, digamos, menos complexa da solução. É A face objetiva da catástrofe, em que a solução é meramente técnica. Mas há uma face subjetiva, menos visível, não menos catastrófica. Conta-se, de Brasiléia, o caso de um senhor, de idade avançada,  que se recusava firmemente a deixar a casa que construíra e sempre vivera. Preferia morrer ali, no seu lugar. O dano psicológico é profundo, sofrido, avassalador. Uma marca difícil de ser apagada.

É preciso muito senso humanitário para perceber e cuidar de tão danosa sequela. Foi neste quesito que se fez mais sentir a grandeza do governador Tião Viana. Ele levou a palavra de conforto, de ânimo, de estímulo e de estima às pessoas em todos os abrigos. Não uma, mas muitas vezes. A alimentação está boa? A resposta era sempre bem acreana: tá mesmo!!!” Como vai, está sendo bem tratado? Sim, muito bem governador. Vamos sair juntos dessa, não vamos? De novo: vamos mesmo!!! A tréplica: “estaremos juntos”.

Visitar diariamente as áreas alagadas, como fez o governador, também faz parte desse cuidado especial, que não trata a necessidade do corpo, mas da alma.

Este alento significa restaurar a confiança e devolver às pessoas a esperança roubada. Iluminar o caminho da provação à esperança.

Um povo revigora-se e fortalece a autoestima quando, na calamidade, é capaz de criar, com trabalho, amor, competência e dedicação, a esperança superior à provação.

 

José Fernandes do Rêgo, secretário de Estado de Articulação Institucional

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