Curso do Mestrado em Ecologia da Ufac pesquisa área de vegetação sobre areia branca em Cruzeiro do Sul

A Universidade Federal do Acre (Ufac) deu início, no fim do mês passado, ao curso de Ecologia de Campo, em área de floresta sobre areia branca, microrregião com vegetação peculiar, que ocorre em manchas, nos municípios de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, no Acre, e Guajará, no Amazonas.

Pesquisa dos alunos do curso “Ecologia de Campo”, integrante do Mestrado em Ecologia da Ufac em Cruzeiro do Sul (Foto: Onofre Brito)

Pesquisa dos alunos do curso “Ecologia de Campo”, integrante do Mestrado em Ecologia da Ufac em Cruzeiro do Sul (Foto: Onofre Brito)

A disciplina integra o curso de pós-graduação de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (Meco/Ufac). Promovido em conjunto com o Núcleo Regional do PPBIO no Acre (NR-AC), o curso, que se estende até 10 deste mês, tem a participação de 25 pessoas, entre alunos do Meco, membros da coordenação do NR-AC, pesquisadores do NR-Manaus, bolsistas Pibic-AC e professores da Ufac (Campus Rio Branco e Campus Floresta, em Cruzeiro do Sul). O grupo está acampado na comunidade Santa Bárbara, distante 35 km de Cruzeiro do Sul, à margem da BR-307.

Segundo o coordenador do Meco, o professor Elder Ferreira Morato, doutor em Ecologia, os mestrandos estão realizando pesquisas no curto prazo, coletando informações no campo, organizando as informações e, nos próximos dias, vão produzir relatórios e conclusões sobre as pesquisas. Ele conta que essa área é extremamente importante do ponto de vista geográfico, social e da biodiversidade. A disciplina propõe realizar inventários em parcelas permanentes Rapeld, sistema de trilhas nas quais são feitas as coletas e que está sendo montado na comunidade Santa Bárbara. Nessas áreas de vegetação sobre areia branca, são estudadas ervas, árvores comerciais, fatores abióticos, herpetofauna, avifauna, sapos, abelhas, aranhas e outros artrópodes.

Elder Morato é coordenador do mestrado (Foto: Onofre Brito)

Elder Morato é coordenador do mestrado (Foto: Onofre Brito)

Morato considera: “Esta é talvez a mais importante das disciplinas do mestrado, porque, a partir da experiência viva no campo, os alunos vão integrar também os conhecimentos que adquiriram da ecologia teórica. Por exemplo, os conhecimentos da estatística, a análise dos dados que estão sendo coletados”, disse. Também é importante, segundo o professor, o fato de que os mestrandos irão levar o conhecimento; transportar o que estão aprendendo com a experiência, as dificuldades, inclusive logísticas, para o próximo ano, quando executarão, na prática, os projetos de suas dissertações. Lembra Morato que a dissertação é a principal atividade que os mestrandos têm dentro dos dois anos do curso.

Único curso voltado para a ecologia

Morato salienta a importância do curso na região: “Na Amazônia Ocidental este é o único curso voltado para esta área de ecologia e manejo”. Existente desde 1996 (primeiro curso de mestrado da Ufac), o curso já formou pessoas que hoje estão nos quadros das esferas municipal, estadual e até federal como funcionários, técnicos e analistas do Ibama e ICMBIO. “A gente tem muito orgulho do que o curso representa”, disse.

A preservação da Amazônia tem, nesse tipo de estudo, um grande aliado, garante Morato. Ele explica que, a partir do momento em que se está gerando informações sobre a biodiversidade – respondendo questões aparentemente muito simples como, por exemplo, “quantas espécies existem de sapos, de samambaias, borboletas, peixes, abelhas” -, essas informações são importantes para que se possa fazer estudos mais amplos para a criação de unidades de conservação ou medidas de proteção e uso sustentável da biodiversidade.

Interação com a comunidade

O professor Marcos Silveira, doutor em Ecologia, é o coordenador da disciplina Ecologia de Campo e coordenador do núcleo regional do PPBIO no Estado. Ele comenta que as pesquisas dentro desta disciplina, além do cunho básico, que é gerar informação sobre o conhecimento da biodiversidade da região, ainda pouco conhecida, podem redundar em aplicações práticas no contexto social da região: “Ainda mais numa comunidade como esta, que vive num sistema muito frágil, com uma vegetação única no Acre, que só ocorre aqui e abriga pequenos animais que também só existem aqui. Estes recursos poderiam ser utilizados para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, gerando renda e conservando a natureza”, argumenta.

O professor Marcos Silveira é coordenador da disciplina de Ecologia de Campo (Ufac) (Foto: Onofre Brito)

Professor Marcos Silveira é coordenador da disciplina de Ecologia de Campo (Ufac) (Foto: Onofre Brito)

Silveira explica que os sistemas da microrregião são frágeis e a comunidade não tem grandes alternativas em termos de produção, mas existem alternativas de uso da biodiversidade como atividade econômica, o que ajudaria muito na qualidade de vida da comunidade local. Para isso, é necessário também o apoio do poder público ou de empresas. “Esta região precisa de um olhar diferenciado, pela sua fragilidade, além de ser cortada por uma rodovia federal, cujo planejamento é alcançar o Peru como rota turística e econômica”, destacou. Para Silveira, o ideal para uma universidade que produz conhecimentos é que eles tenham implicações práticas.

PPBIO

O Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBIO) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), cujo núcleo no Estado é coordenado pela Ufac, é um dos apoiadores do curso de mestrado. A área de vegetação sobre areia branca é de alto interesse para a conservação e sobre ela há uma lacuna de informação biológica. Assim, os mestrandos contam em suas pesquisas com a ajuda de um programa em rede do MCTI, que visa melhorar o conhecimento sobre a biodiversidade.

 

“Biodiversidade da região ainda é pouco conhecida”, diz Silveira (Foto: Onofre Brito)

“Biodiversidade da região ainda é pouco conhecida”, diz Silveira (Foto: Onofre Brito)

“Através do PPBIO, nós inserimos na esfera da disciplina um sistema de amostragem da biodiversidade. Então, instalamos parcelas permanentes, nas quais são estudados os vários grupos de plantas e animais e, com isso, a gente insere os alunos numa esfera que é muito importante e contribui para a sabedoria do conhecimento que é o trabalho em rede. Os dados coletados aqui seguem os mesmos protocolos que os dados coletados, por exemplo, em Manaus, em Belém, Tocantins, Rondônia e outras localidades”, lembra Silveira.

A presença do PPBIO no Estado, o estabelecimento de um site pioneiro (http://ppbio.inpa.gov.br/nregionais/nracre) e a instalação de uma parcela permanente na região de areia branca deverão gerar produções científicas que interessam tanto ao curso de mestrado quanto ao próprio PPBIO.

A dissertação é a principal atividade que os mestrandos têm dentro dos dois anos do curso (Foto: Onofre Brito)

A dissertação é a principal atividade que os mestrandos têm dentro dos dois anos do curso (Foto: Onofre Brito)

“Muitos trabalhos que estão sendo feitos aqui poderão se tornar resumos, eventos científicos, artigos, capítulos de livros e até mesmo materiais para servirem de base para um documento sobre este sistema, de forma que a gente possa contribuir, no futuro, para a instalação de uma área de conservação ou pensar numa maneira de conservar a natureza daqui mantendo a comunidade tradicional”, sugeriu Silveira.

Peixes com potencial ornamental

A bióloga Monique da Silveira, de Rio Branco, está participando do curso e diz que está gostando muito. Corajosa, não se nega a entrar no mato ou nos igarapés para fazer coletas com os colegas. Ela diz que em sua vida profissional pretende se dedicar a pesquisas envolvendo a fauna e a flora.  A disciplina Ecologia de Campo está mais voltada ao estudo dos peixes e das características e qualidade da água. “Achamos peixes com potencial ornamental”, disse.

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