Curso de Medicina completa 10 anos no Acre

Trajetória do ensino superior da medicina já tem feito a diferença em todo o estado

O curso de medicina da Universidade Federal do Acre completa 10 anos (Foto:Angela Peres/Secom)

O curso de medicina da Universidade Federal do Acre completa 10 anos (Foto:Angela Peres/Secom)

A medicina é uma das áreas do conhecimento ligada à manutenção e restauração da saúde. Não se pode imaginar a vida moderna em sociedade sem a presença dos médicos, profissionais que serão necessitados uma hora ou outra. Mas e na região Norte do Brasil onde a carência de profissionais em todas as áreas médicas sempre foi grande? Esse quadro tem mudado apenas recentemente, principalmente no Acre, que comemora em novembro de 2011, o aniversário de 10 anos do Curso de Medicina da Universidade Federal do Acre, que já realiza uma mudança significativa na história da medicina do estado.

Quase como um presente, o Curso de Medicina recebeu dia 17 de novembro, do Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), os resultados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e o Conceito Preliminar de Curso (CPC), para o ano de 2010. O Enade representa a avaliação do desempenho dos estudantes, através da medida de conhecimentos dos que estão entrando e saindo dos cursos de graduação. Na avaliação que varia de 1 a 5, o curso de Medicina da Ufac recebeu conceito 4-3, isto é: 4 no Enade (desempenho do aluno) e 3 no CPC (condições gerais do curso).

“Esse resultado enterra o mito de que o profissional médico formado na Ufac é de baixa qualidade”, conta o coordenador do curso de Medicina, o médico infectologista Thor Dantas. Assim, o curso de medicina do Acre deixou claro que não difere de grandes cursos de medicina do país, como as PUC’s localizadas no sudeste do país. “Fiquei muito satisfeito e feliz com a nota adquirida, um mérito que também merece o agradecimento às universidades federais do Pará, Amazonas e Rondônia, que de alguma forma contribuíram”, disse o governador Tião Viana, um dos grandes responsáveis pela criação do curso no Acre há mais de uma década.

Caminho de melhorias

“Devemos uma melhor estrutura, e trabalhamos para mudar isso, pois não estamos acomodados, temos excelentes alunos”, reforça Thor Dantas. Com 46 professores fazendo parte de seu quadro, o curso de Medicina caminha para a formação de sua 5ª turma já nos mês de dezembro. Ao todo, quase 200 profissionais médicos já foram formados pela Universidade Federal do Acre.

O curso foi uma das maiores conquistas da Ufac. Um marco na história do sistema de saúde acreano e fruto de emendas parlamentares, de mais de R$ 2 milhões, do ainda senador Tião Viana, que além do apoio do Governo do Estado, contou com o empenho da Universidade e do Ministério da Educação. “O curso de medicina simboliza um encontro de gerações comprometidas com os valores fundamentais como salvar vidas. Ele foi a organização de um centro de conhecimento para estudar a vida, romper as mazelas, formando técnicos que jamais podem se distanciar da responsabilidade humanista. Ele representa o rompimento das barreiras do tempo, apostando no conhecimento, na organização de equipe e adequação nos serviços de saúde. É uma grande conquista do povo do Acre”, exalta o governador Tião Viana.

Mas o caminho a percorrer ainda é longo. Mesmo completando 10 anos, melhorias são necessárias em estrutura e tornar o Acre auto sustentável na área médica é um processo a longo prazo. A coordenação deseja para o curso um CPC 4, para chegar no nível de uma Unifesp ou uma UNB, que tiraram 4-4 em ambos os exames. Além disso, com condições de estrutura nível 4 a seus alunos, pode-se chegar a uma nota 5-4 como a Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Através da Ufac e do apoio do governador Tião Viana e outros parlamentares, o curso de medicina conseguiu junto aos Ministérios da Saúde e Educação o valor de um milhão de reais, já aprovados e disponíveis a partir do próximo ano, para investimento maciço em estrutura de laboratórios e equipamentos. O início do ano letivo de 2012 também será marcado por um importante processo de reforma curricular, tão ansiado pelos alunos. O convênio entre o Governo do Estado e o curso de Medicina da Ufac, recentemente assinado, prevê, dentre outras parcerias, a disponibilização de carga horária de profissionais Médicos da Secretaria de Estado de Saúde, com formação técnica adequada e interesse no ensino, para atuarem como professores-colaboradores no curso, solucionando carências específicas com a área clínica.

Processo de formação

O acadêmico Sidnei Bertholdi, de 23 anos, já está no 10° semestre de Medicina (Foto:Angela Peres/Secom)

O acadêmico Sidnei Bertholdi, de 23 anos, já está no 10° semestre de Medicina (Foto:Angela Peres/Secom)

O processo de formação no curso de medicina é longo e intenso. São seis anos de curso que garante ao aluno o diploma de Médico como Clínico Geral. Desses seis anos, os quatro primeiros são considerados os de estudos básicos, os dois últimos são de ensino profissional, o chamado internato, quando o aluno praticamente frequenta apenas ambientes hospitalares, conhecendo as áreas de saúde e suas especialidades.

O acadêmico Sidnei Bertholdi, de 23 anos, já está no 10° semestre de Medicina. Ele conta que o investimento para chegar ao curso não foi simples, hoje o mais disputado da Ufac e que possui as melhores notas do vestibular. Mesmo passando na primeira tentativa, Sidnei fez o último ano do Ensino Médio em São Paulo, além de dois anos de cursinho pré-vestibular. Próximo de se formar, Sidnei conta que, “O curso de medicina pode ter deficiências, mas a prática é muito boa. A estrutura já melhorou muito, contrataram professores, organizaram os estágios”.

 “Tudo que você tem que fazer na vida, você tem que se identificar, mas para ser um ótimo médico você tem que acima de tudo se sacrificar”, disse Rodrigo Almeida (Foto:Angela Peres/Secom)

“Tudo que você tem que fazer na vida, você tem que se identificar, mas para ser um ótimo médico você tem que acima de tudo se sacrificar”, disse Rodrigo Almeida (Foto:Angela Peres/Secom)

Já Rodrigo Almeida, 22 anos, também no 10° semestre, nascido em Rio Branco, revela que, “Tudo que você tem que fazer na vida, você tem que se identificar, mas para ser um ótimo médico você tem que acima de tudo se sacrificar”, demonstrando o quanto o curso é puxado. Para quem pretende fazer medicina, Rodrigo confessa que sempre foi muito estudioso, “Eu gosto de estudar. Tinha um ritmo de estudos, me aprofundava. Isso é necessário”.

Residência e fixação

Ainda é um fato o de que vários profissionais médicos recém-formados pela Ufac saem do estado, seja para realizar sua carreira em outro local ou se especializar através da residência. A residência médica é uma pós-graduação obrigatória para que um médico clínico geral possa assumir um título de especialista. Na residência, os clínicos gerais são orientados por profissionais mais experientes, por um período de tempo, para que possam ter o domínio sobre uma área em especial.

Segundo o médico Nilton Siqueira, coordenador do programa de residência médica do Hospital das Clínicas do Acre, é a residência que fixa o profissional na região onde se ele especializa (Foto:Angela Peres/Secom)

Segundo o médico Nilton Siqueira, coordenador do programa de residência médica do Hospital das Clínicas do Acre, é a residência que fixa o profissional na região onde se ele especializa (Foto:Angela Peres/Secom)

Segundo o médico Nilton Siqueira, coordenador do programa de residência médica do Hospital das Clínicas do Acre, é a residência que fixa o profissional na região onde se ele especializa. O Acre oferece residência nas áreas de Cirurgia Geral, Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Ortopedia, Infectologia, Oncologia Clínica e Neumatologia. Para 2012 estão programadas as residências de Cardiologia, Radioterapia, Hematologia e, para 2013, Nefrologia.

“Hoje, cerca de 50% das vagas da residência acreana são preenchidas por alunos formados pela Ufac”, conta o médico cirurgião geral Nilton Siqueira. Em 11 anos de residência médica, quase a mesma idade do curso de medicina, 34% dos registros firmados no Conselho Regional de Medicina do Acre já são de profissionais que cumpriram sua residência no Hospital das Clínicas. “Ter o curso fixa apenas uma parte dos profissionais formados, ter um programa de residência fixa ainda mais”, reforça o médico.

Sucesso lá  fora

Lucianni Cruz Souza pertence a segunda turma de alunos formados na Ufac. Hoje, a médica faz residência de Radioterapia no Instituto Nacional do Câncer (Inca), o órgão auxiliar do Ministério da Saúde no desenvolvimento e coordenação das ações integradas para a prevenção e o controle do câncer no Brasil, maior referência do país para os casos dessa doença, com ações que compreendem a assistência médico-hospitalar, prestada direta e gratuitamente aos pacientes com câncer como parte dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde.

Nascida em Tarauacá, a médica Lucianni já está no final do terceiro ano da residência no Rio de Janeiro e confessa, “Desejo muito voltar pro Acre. Meu desejo é voltar e daqui há 10 anos falar que eu realmente fiz algo pelo meu estado”. Ainda sobre o curso de medicina da Ufac, Lucianni lembra que embora já tenha dez anos, esse é um curso novo, em construção, “Somos sim bem informados e instruídos a saber bem o que devemos fazer na profissão”.

Fazendo a diferença

Olga da Cruz Silva é  uma senhora que junto com o marido, cuida de sua mãe, a senhora Maria Leandro Cruz, em sua própria residência, no bairro Universitário III. Como Maria, aos 88 anos, é portadora de Alzheimer em seu último estágio, Olga não poderia cuidar da própria mãe se não tivesse tido todo o apoio do Dr. Pablo Rodrigo, responsável pela unidade de saúde do Universitário. Foi ele quem ensinou Olga a cuidar da mãe, além de acompanhar seu caso, para que não fosse necessária a mudança da senhora para um hospital.

Dona Maria Leandro Cruz é portadora de Alzheimer em seu último estágio e recebe toda a atenção dos estudantes que estão no internato (Foto:Angela Peres/Secom)

Dona Maria Leandro Cruz é portadora de Alzheimer em seu último estágio e recebe toda a atenção dos estudantes que estão no internato (Foto:Angela Peres/Secom)

Mais do que a presença médica, através do programa Saúde da Família, Olga e Maria tem a visita especial dos alunos de medicina internos da Ufac. “A presença dos alunos aqui faz a diferença. Toda semana eles estão de passagem por aqui. Além de ajudar a cuidar da minha mãe, eu sei que o caso dela serve de estudo pra eles. Quem esta entrando na medicina ainda vai pegar seus puxões de orelha para aprender a ser um bom profissional”, conta a senhora que não quer ver a mãe em um leito de hospital, mas sim em casa.

Para Maria, todas as unidades de saúde deveriam ter um trabalho de acompanhamento como esse. Ela que recebe a visita das equipes médicas desde 2007, conta que muitos dos internos se apegaram e ligam perguntando: “Como tá a vó?”. Maria acredita nesse sistema de ensino e na competência dos médicos a frente dos alunos, “A obrigação deles é orientar e isso eles tem feito muito bem”.

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