Quem nunca recorreu à farmácia durante uma crise de enxaqueca para comprar aquele remedinho já conhecido ou pediu recomendações de amigos sobre qual medicamento ingerir em determinadas ocasiões, ou, ainda pior, fez uma pesquisa rápida sobre um sintoma na internet e logo em seguida se medicou, sem consultar um profissional?
A prática da automedicação é algo comum entre boa parte da população, que diante da pouca fiscalização na venda de medicamentos, influência de familiares e da publicidade com promessas milagrosas no tratamento de doenças, acaba colocando a saúde em risco ao não procurar um profissional para diagnosticar a doença.
O Brasil é recordista em automedicação. Segundo pesquisa feita pelo Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ), realizada em 2014, 76.4% dos brasileiros se automedicam. Em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado neste dia 5 de maio, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) alerta a população sobre os riscos do consumo de remédios sem indicação médica, que de 2010 a 2015, segundo o Ministério da Saúde, levou mais de 60 mil brasileiros ao hospital em decorrência da automedicação.
“O risco da automedicação é muito grande, não só pela combinação errada de substâncias, que pode anular ou potencializar o efeito da outra, mas também o risco de lesões renal, hepáticas do fígado e estômago. Apesar de aliviar um sintoma imediato, o medicamento pode apenas mascarar a doença, causando um agravamento no caso e dificultando um diagnóstico por parte dos profissionais da área. Além disso, muitos drogas, como os psicotrópicos, medicações controladas utilizadas no tratamento de insônia, depressão e ansiedade podem até matar, se usadas sem orientação e prescrição médica”, observa a gerente de assistência da UPA do Segundo Distrito, Gleiciane Miranda.
O objetivo do Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, celebrado neste 5 de maio, é justamente conscientizar a população quanto os riscos à saúde causados pela automedicação, alertando que essa prática é uma das responsáveis pelos altos índices de intoxicação por remédios.
“Acontece muito de pacientes chegarem nas Upas com intoxicações medicamentosas, não só alergias, que é da pessoa e podem ocorrer mesmo quando o médico prescreve. A intoxicação é pelo uso de uma dose elevada, por indicação incorreta, que pode levar até uma parada cardíaca. É importante que as pessoas tenham essa consciência do uso racional.”, orienta Miranda.
A farmacêutica da Sesacre, Rossana Freitas, fala da importância da data que reforça os perigos do uso indiscriminado de medicamentos sem prescrição de um profissional habilitado. “É um dia para alertar a sociedade quanto ao uso indiscriminado de medicamentos. Existe a questão cultural, que se aquele medicamento serviu para um conhecido vai servir para mim. E isso é perigo. A prescrição é individualizada e o paciente é individual. A automedicação traz riscos à saúde, pode causar reações como dependência, intoxicação e até a morte”, ressalta.
A profissional lembra ainda, que o farmacêutico, no ato da dispensação, é o único capacitado para prestar informações ao usuário, tirar dúvidas sobre o princípio ativo do produto, possíveis interações com outros medicamentos, horários em que deve ser ingerido, além das orientações sobre como esse medicamento pode ser utilizado e guardado.
“É importante destacar que o farmacêutico é um profissional da aérea da saúde, e acaba que muitos não tem o costume de procurá-lo dentro dos estabelecimentos. Eles estão lá para servir a população, sabendo que o farmacêutico é o único habilitado e apto para tirar dúvidas e orientar sobre o uso correto de um medicamento, tanto aquele prescrito quando aquela história da “farmacinha”, que se toma em casa e os fitoterápicos, entre outros”, pontua.
Seguindo a orientação do Ministério da Saúde, evite recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou até mesmo pesquisas na internet e também ajuda de balconistas de farmácias como solução para alívio rápido de alguns sintomas, que leva ao uso incorreto ou desnecessário de medicamentos, que por consequências, podem causar efeitos colaterais indesejados, reações alérgicas, intoxicações e até a morte.
Automedicação
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a automedicação é a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para tratamento de doenças cujos sintomas são percebidos pelo usuário, sem a avaliação prévia de um profissional de saúde (médico ou odontólogo). A automedicação diz respeito, portanto, ao uso de medicamentos sem prescrição de um profissional habilitado. Medicamentos que mais causam intoxicação são os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios.
Cuidado com a “farmacinha” em casa
Na maioria dos casos, as pessoas conservam em suas casas vários medicamentos para lidar com contratempos como dor de cabeça, coriza e resfriado, como se fosse uma pequena farmácia. O risco da permanência de medicamentos em casa está no fato de que pode ocorrer ingestão acidental por crianças, além de o armazenamento poder diminuir a eficiência do produto.