Criação de abelhas sem ferrão conquista produtores acreanos

Ele tem cinco vezes mais propriedades antibióticas, além de características diferenciadas que são apreciadas também pela indústria farmacêutica e alta gastronomia. Além disso, se for produzido na Amazônia, tem textura, sabor e aroma únicos. O mel das abelhas sem ferrão é uma das apostas dos produtores acreanos e do governo do Estado como alternativa de renda para quem mora na floresta.

O mel da abelha sem ferão tem cinco vezes mais propriedades antibióticas (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O mel da abelha sem ferão tem cinco vezes mais propriedades antibióticas (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

A meliponicultura – criação racional de abelhas sem ferrão – não faz pressão sobre a floresta, não exige desmatamento, ao contrário, precisa da mata preservada, não demanda despesas com manejo e tem mercado garantido, cada vez mais promissor, aliás. É nesse filão que o governo, através da Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN), tem investido.

O governador Tião Viana decidiu investir na meliponicultura e já garantiu recursos para a área. Além de recursos próprios e de um convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) de R$ 480 mil, o Ministério do Desenvolvimento Social aprovou projeto acreano de R$ 1,1 milhão que vai garantir a distribuição de 14 mil caixas – as “colmeias” que as abelhas usam para se reproduzir. As caixas são produzidas pelos marceneiros acreanos, aquecendo também este setor.

 

"O produto é escasso no mercado, mas, ao mesmo tempo, tem caído nas graças da alta gastronomia, da indústria de cosmético, da farmacêutica", disse o secretário de Pequenos Negócios, José Reis (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“O produto é escasso no mercado, mas, ao mesmo tempo, tem caído nas graças da alta gastronomia, da indústria de cosmético, da farmacêutica”, disse o secretário de Pequenos Negócios, José Reis (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

“O Acre se prepara para um grande debate sobre economia verde com essa atividade ambientalmente correta, que inclui socialmente as pessoas e de fácil processo. É uma renda extra na propriedade, que a esposa pode cuidar enquanto o marido toma conta de outras atividades. O produto é escasso no mercado, mas, ao mesmo tempo, tem caído nas graças da alta gastronomia, da indústria de cosmético, da farmacêutica. Ou seja, a demanda está crescendo demais, o produto é muito valorizado e não é encontrado em escala. O Acre entra na meliponicultura aproveitando este momento”, disse o secretário de Pequenos Negócios, José Reis.

 

O Ministério do Desenvolvimento Social aprovou projeto acreano de R$ 1,1 milhão para a distribuição de 14 mil caixas (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O Ministério do Desenvolvimento Social aprovou projeto acreano de R$ 1,1 milhão para a distribuição de 14 mil caixas (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

O responsável técnico pelo programa de meliponicultura no Acre, Engelberto Flach, explica que a meta deste ano é treinar 120 produtores em cada município, atingindo 800 produtores até dezembro somente na região do Juruá, que demonstra maior vocação para a cultura. Ele explica que ainda não se tem dados mais concretos, mas estima-se que cada produtor com dez caixas terá uma renda anual entre R$ 2,5 e R$ 4 mil, em valores de hoje. Cada caixa, dependendo da espécie, pode produzir entre três e dez quilos de mel por ano. As técnicas adequadas de manejo e o clima também influenciam na produção.

Engilberto é um produtor que há anos lutou sozinho cobrando ações mais pontuais do governo para a meliponicultura. O esforço foi recompensado e, de produtor, foi recrutado para ajudar a coordenar o programa de criação de abelhas sem ferrão no Acre. Hoje o conhecimento dele, adquirido na prática e no que aprendeu com os avós e o pais em Santa Catarina, tem ajudado centenas de produtores que apostam no negócio no Acre.

“Isso aqui é a minha poupança”

O produtor Tiago Costa Alencar mora há 41 anos na Comunidade Pentecostes, em Cruzeiro do Sul. Ex-seringueiro, viva exclusivamente da produção de farinha de mandioca até que, em setembro, teve conhecimento da meliponicultura. A atividade, embora nova, chamou a atenção do cruzeirense, que logo se encantou não só com a criação fácil e a possibilidade de lucro, mas com a organização, disciplina e todas as lições que as abelhas ensinam.

 

O produtor Tiago Costa, acompanhado por sua esposa, Maria Zilda e seu filho. A família aposta na meliponicultura (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O produtor Tiago Costa, acompanhado por sua esposa, Maria Zilda e seu filho. A família aposta na meliponicultura (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

“Eu fiquei fascinado. Comecei com duas caixas e já construí mais dez, além das seis colmeias que tenho pra transferir dos troncos das árvores que capturei na floresta para as caixinhas. Isso aqui é a minha poupança, sei que no futuro vou viver só das abelhas”, disse.

A esposa de Tiago, Maria Zilda, brinca que agora ele passa mais tempo com as abelhas que com ela, mas não tem ciúmes, ao contrário, nesta fase inicial da produção, quando as abelhas ainda precisam ser capturadas na mata até que possam se multiplicar em cativeiro, ela não hesita em entrar na floresta em busca das abelhas.

 

"Isso aqui é a minha poupança, sei que no futuro vou viver só das abelhas”, diz Tiago (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“Isso aqui é a minha poupança, sei que no futuro vou viver só das abelhas”, diz Tiago (Foto: Sérgio Vale/Secom)

 

“Eu ajudo mesmo, no que for preciso. Também fiz o curso que a secretaria de Pequenos Negócios deu e sei mexer com elas também”, disse.

Mercado garantido

Além de custar bem mais caro, há um mercado garantido para o mel das abelhas sem ferrão não só no Brasil, mas na Europa. França e Itália já fizeram contato com o governo do Estado interessados em comprar o produto e estão aguardando que a produção ganhe escala e chegue ao padrão exigido pelo Ministério da Agricultura.

 

Além de custar bem mais caro, há um mercado garantido para o mel das abelhas sem ferrão não só no Brasil, mas na Europa (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Além de custar bem mais caro, há um mercado garantido para o mel das abelhas sem ferrão não só no Brasil, mas na Europa (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“O mel das Apis [abelhas com ferrão] já é produzido em vários estados e teria uma concorrência bem maior se fossemos entrar neste caminho. Já a abelha sem ferrão encontra um mercado aberto e poucos produtores. Além disso, o mel produzido na Amazônia se diferencia. Ou seja, a única preocupação do produtor é produzir, mercado tem”, explica Flach.

O produtor Gênesis Silva recebe orientações de Engelberto Flach. Ele acredita que a meliponicultura é uma atividade que vai dar certo  (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O produtor Gênesis Silva recebe orientações de Engelberto Flach. Ele acredita que a meliponicultura é uma atividade que vai dar certo (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Até que a produção ganhe a escala necessária para atingir outros mercados, o governo do Estado se comprometeu a comprar toda a produção familiar através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pela Secretaria de Produção e que usa recursos garantidos pela presidente Dilma Rousseff. O mel será utilizado na merenda escolar.

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