Cosmologia indígena e mudanças climáticas em debate

Participaram do evento estudantes, pesquisadores, antropólogos, indígenas, entre outros interessados (Foto: Assessoria Biblioteca da Floresta)

Participaram do evento estudantes, pesquisadores, antropólogos, indígenas, entre outros interessados (Foto: Assessoria Biblioteca da Floresta)

Como as populações indígenas, que têm uma visão e uma vivência com a natureza diferentes dos não índios, percebem as alterações do clima? Na palestra “Cosmologia dos Índios do Alto Juruá sobre Mudanças Climáticas”, promovida pela Biblioteca da Floresta/FEM na última terça-feira, 24, a doutora em Antropologia Erika Mesquita esclareceu esta e outras questões sob o olhar dos povos Ashaninka e Huni Kui – mais conhecido como Kaxinawá.

A palestra, baseada na tese de doutorado de Mesquita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também apresentou as percepções desses povos sobre o aquecimento global a partir de suas relações com espécies de animais da floresta amazônica.

O sapo que antes “cantava” para avisar a chegada da chuva ou de uma frente fria não o faz mais com esta finalidade, assim como a presença de teias de aranhas na floresta não sinaliza mais a aproximação do verão – entre outros exemplos. Para Erika, tudo isso é consequência das mudanças do clima e tem desorientado tanto os índios como esses bichos.

“A normalidade para os ciclos climáticos determina atividades específicas para esses povos. No verão, por exemplo, é tempo de coletar sementes para o artesanato. Mas os indígenas tem percebido que determinadas sementes não são mais encontradas neste período”, disse a pesquisadora. O atraso na floração das árvores e o mau cheiro dos peixes também indicam essa anormalidade.

A palestra fora baseada na tese de doutorado de Erika Mesquita pela Unicamp (Foto: Assessoria Biblioteca da Floresta)

A palestra fora baseada na tese de doutorado de Erika Mesquita pela Unicamp (Foto: Assessoria Biblioteca da Floresta)

Segundo a cosmologia dos indígenas, os efeitos das mudanças climáticas são respostas (ou “castigo”) ao desmatamento e à poluição provocada pelos não índios.

“Os moradores da floresta, indígenas ou não indígenas, também contribuem, e muito, com sua ciência nativa, para os debates atuais sobre as transformações no clima”, concluiu Mesquita.

Participaram do evento estudantes, pesquisadores, antropólogos, indígenas, entre outros interessados. Também estiveram presentes o diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso Pontes; a presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), Francis Mary Alves; o assessor para Assuntos Indígenas do Governo do Estado, Zezinho Yube Kaxinawá; e o pró-reitor de Assistência Estudantil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac), Emerson Gaspar.

A palestra fez parte da programação dos “25 Anos Chico Mendes Vive Mais”, um conjunto de ações realizadas ao longo do ano para celebrar os ideais do líder seringueiro e ambientalista xapuriense.

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