A Conferência do Clima COP23, em Bonn (Alemanha), chegou ao fim neste sábado, 18. O pedido por mais ambição nas decisões em favor do clima global e um avanço no Livro de Regras do Acordo de Paris, firmado na COP21, em Paris, marcaram os trabalhos dos mais de 27 mil participantes.
Desde as semanas anteriores à abertura da conferência, a urgência em parar a mudança do clima causada pelo efeito estufa era anunciada e colocava o mundo em alerta para a tomada de decisões positivas. Por exemplo, a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) divulgou relatório anunciando um “crescimento perigoso do dióxido de carbono na atmosfera nas últimas sete décadas, chegando a nova alta em 2016″.
A missão dos delegados e países presentes à COP era avançar nas regras para que o Acordo de Paris pudesse alcançar suas metas, entre as principais, baixar as emissões de carbono para que o mundo não aqueça mais do que 2 graus Celsius até o fim do século.
Entre as decisões tomadas está o lançamento de uma conversa mais amigável entre as Partes* para 2018, o Diálogo de Talanoa, palavra em Fiji, país que preside a COP, que significa diálogo inclusivo, participativo e transparente. Com isso, os membros irão fazer um balanço dos esforços coletivos quanto ao progresso no objetivo de limitar o aquecimento do planeta.
O secretário-geral da Organização da Nações Unidas (ONU), António Guterres, reafirmou o sentido de urgência que os países precisam ter e apontou cinco áreas de ação em que é preciso fazer mais: emissões, adaptação, financiamento, parcerias e liderança.
O secretário-geral deixou ainda uma mensagem proclamando a união. “No final, só existe uma ambição que importa: construir um mundo seguro de paz, prosperidade, dignidade e oportunidade para todas as pessoas, um planeta saudável e desenvolvimento sustentável e inclusivo. O mundo conta com sua sabedoria e antecipação.”
Contribuição amazônica
As nações protagonizam o debate global, estabelecem metas e até mesmo resolvem voltar atrás nos acordos firmados, como é o caso dos Estados Unidos, que anunciou sua saída do Acordo de Paris este ano. Enquanto isso, os estados subnacionais se unem e criam uma nova aliança em busca de soluções para o clima.
Na COP23, o Acre fez parte de duas dessas uniões dos governos estaduais. Primeiro, durante encontros da Força-Tarefa de Governadores para o Clima e Florestas (GCF). O governador Tião Viana, juntamente com sua equipe de governo, participou das discussões de fortalecimento dos povos indígenas como grandes atores de contribuição para ajudar a resolver o problema do clima.
Ainda no âmbito do GCF, o governador participou do debate de regulamentação do Desafio Balikpapan, documento assinado na reunião anual do GCF realizada em setembro deste ano, em Balikpapan na Indonésia. O conteúdo do documento aborda iniciativas integradas para ações de combate ao desmatamento.
“Nós, das florestas tropicais, com altivez dizemos: representamos 25% das metas da luta contra o aquecimento global para este século”, declarou Tião Viana em seu discurso. Em sua fala, o governador demonstra que a Amazônia faz parte do debate global e que está lutando contra o desmatamento, um dos principais fatores de contribuição para o aquecimento do planeta.
O Acre foi também um dos protagonistas durante o Amazon Bonn, evento realizado pelos Fórum de Governadores da Amazônia Legal, com apoio do Ministério do Meio Ambiente do Brasil e parceiros. Na ocasião, Acre e Mato Grosso assinaram acordos com o banco de desenvolvimento alemão KfW, no qual a Alemanha e o Reino Unido irão transferir recursos por resultados alcançados no combate ao desmatamento.
Com isso, o Acre entra em sua segunda fase do programa REM (REDD para pioneiros), recebendo agora 30 milhões de euros, que atualmente chegam a mais de R$ 115 milhões.
O estado foi o primeiro a aplicar esse programa, começando no ano de 2012. Os recursos foram aplicados no desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis e na inclusão dos povos indígenas e comunidades tradicionais em diversas políticas públicas.
“Hoje temos cerca de quatro mil famílias envolvidas na extração da castanha e no trabalho com a seringueira. Temos as cooperativas de trabalhadores da floresta reunidas e organizadas com alto resultado econômico”, citou o governador acreano, como exemplo de avanço social e econômico que está ocorrendo na floresta. Atualmente, o Acre é o segundo maior produtor de castanha-do-brasil, uma atividade que pode gerar R$ 50 milhões por ano.
Quando cita outras atividades florestais, como o plantio de frutíferas, cultivo de abelhas para produção de mel, extração de óleos vegetais com alta agregação de valor, Tião Viana reafirma que é necessário o apoio para a consolidação dessa economia de baixa emissão de carbono. “Nós precisamos da plataforma industrial que nos assegure a escala. Este é o debate que está faltando. Precisamos da última etapa, que é o investimento do capital de giro no nosso estado”, declara o governador.
O debate suscitado por Tião Viana em seu discurso para as organizações em favor do clima, fundos de investimentos e empresários é corroborado por uma das ações que o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma ser imprescindível: o financiamento. “Precisamos parar de fazer apostas em um futuro insustentável que irá colocar sociedades em risco”, declarou Guterres, mencionando que em 2016 foram investidos 825 bilhões de dólares em combustíveis fósseis e setores de alta emissão.
* Conferência das Partes da Convenção-quadro da ONU Sobre Mudança do Clima