Comunidades extrativistas lucram com a extração de óleos e ajudam a conservar a floresta

LPN recebe a matéria-prima para testes de qualidade e rendimento (Foto: Angela Peres/Secom)

Há 30 anos, a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) contribui com avanços científicos e tecnológicos no estado. Na área da pesquisa com oleaginosas, comunidades extrativistas têm sido beneficiadas com a comercialização de insumos florestais para a produção de cosméticos, fitoterápicos e até gastronômicos.

De acordo com a diretora-técnica Silvia Basso, uma das propostas do Laboratório de Produtos Naturais (LPN) foi estudar, inicialmente, espécies não-madeireiras abundantes na região amazônica, a exemplo da copaíba, murmuru, açaí, buriti e castanha. Mas logo o projeto foi ampliado e incluiu outras espécies, como a andiroba, cocão, patauá, ouricuri, tucumã, cupuaçu e bacaba.

“O desafio maior a princípio era trabalharmos um ciclo que desse possibilidade de encontrarmos metodologias de rastreabilidade das espécies, e foi assim que iniciamos um trabalho de campo para mapeamento, identificação botânica e perfil químico, até chegarmos às capacitações junto às comunidades”, explica Silvia.

Via de mão dupla

Espécies podem ser utilizadas para diversos fins (Foto: Angela Peres/Secom)

Os estudos resultaram na consolidação da parceria com a comunidade, que passou a receber capacitação da equipe técnica para a utilização de boas práticas de extração da matéria-prima. Por não ser uma instituição apta a comercializar, a Funtac emite laudo de qualidade dos óleos para que estes possam ir para a indústria de insumos.

Atualmente, o termo de cooperação técnica envolve quatro cooperativas: a Coopfrutos, de Mâncio Lima, Cooperiaco, de Sena Madureira, Coopercintra, de Rodrigues Alves, e Caet, de Tarauacá. Além dessas, há atividades desenvolvidas com cinco associações espalhadas pelo Juruá.

A utilização dos óleos se dá em maior parte na área de cosméticos. A exemplo da Cooperativa Nova Cintra, que já tem contrato de venda de insumo com duas empresas de São Paulo e Belém. Em Rio Branco, a indústria Sabonetes da Amazônia também comercializa produtos para a rede hoteleira, que são resultado do repasse de tecnologia feito pela Funtac.

“Na área de gastronomia essas matérias-primas também têm se tornado um potencial econômico muito forte, temos como exemplo no estado empresas como a Cooperacre e a Olam, do grupo Miragina, que utilizam o óleo da castanha e tem grande aceitação no mercado nacional”, acrescenta a diretora.

Além das transferências tecnológicas, outros avanços podem ser destacados como estudos que apontam a possibilidade de utilização de resíduos e produção de éster, uma espécie de subproduto dos óleos para outros fins.

“O mais importante de se destacar é que o Estado tem visto o potencial dessas comunidades e tem buscado, por meio de projetos, financiamentos e investimentos para subsidiar esse trabalho de parceria que vem dando certo”, finaliza.

Incentivos financeiros

“Desde 2016, temos contrato formalizado para venda externa de pelo menos 10 toneladas/ano”, afirma Lima, da Nova Cintra (Foto: Arison Jardim/Secom)

O aporte de recursos alcançados via projetos governamentais tem sido essencial para a ampliação da estrutura das cooperativas extrativistas, que são fundamentais no processo das políticas voltadas à baixa emissão de carbono.

Por meio do programa REM* do banco alemão KfW, por exemplo, o Acre já recebeu o incentivo de R$ 100 milhões, que viabilizaram o fornecimento de bolsas para agentes florestais de 32 áreas indígenas, a construção de viveiros e produção de mudas para os sistemas agroflorestais no estado.

Cooperativas como a Nova Cintra, em Rodrigues Alves, também receberam subsídios para capital de giro para a aquisição de matéria-prima por meio do programa, o que de acordo com José de Lima Queiroz, tesoureiro da Coopercintra, impulsionou a produção.

“Os incentivos foram bastante significativos, porque além de valorizarmos as pessoas que estão lá dentro da floresta, ajudamos a incrementar renda dentro da própria comunidade, porque hoje a cooperativa compra o coco pra extrair a manteiga do murmuru de 120 famílias no Alto Juruá e de umas 123 famílias do baixo Juruá. Desde 2016, temos contrato formalizado para venda externa de pelo menos 10 toneladas/ano”, informa.

COP 23

A Nova Cintra compra o murmuru de 243 famílias nos Alto e Baixo Rio Juruá (Foto: Arison Jardim/Secom)

Os resultados de investimentos em projetos que visam a conservação ambiental, a exemplo das experiências com os ativos amazônicos, serão apresentados durante a 23ª edição da Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP), que teve início na segunda-feira,6, em Bonn, na Alemanha.

A COP é um evento internacional significativo em termos de negociações globais em favor de estratégias de adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. E desde 2014 o Acre vem mostrando seu pioneirismo em políticas de desenvolvimento sustentável.

Na COP 20, no Peru, o governador Tião Viana falou sobre a criação do Sistema Estadual de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA), discutiu sobre os desafios e a escala de desenvolvimento de baixas emissões de carbono por meio de sistemas jurisdicionais e formalizou o compromisso da contínua redução do desmatamento no Acre.

No ano seguinte, durante a COP 21 realizada em Paris, o estado ganhou reconhecimento internacional pela aplicação de salvaguardas socioambientais no programa ISA Carbono. A entrega da certificação REDD+SES foi feita em Paris pela Aliança para Conservação da Biodiversidade e do Clima (do inglês CCBA).

*REDD for Eerly Movers (REDD para pioneiros) é um programa bilateral de cooperação internacional que disponibiliza pagamentos por resultados de emissões de carbono reduzidas, geradas pela redução do desmatamento

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