Como se realiza uma operação de paz


Na sexta-feira, 16, o Parque de Exposições sediou a primeira edição do evento, em que foram oferecidas 30 mil peças ao público (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Na sexta-feira, 16, o Parque de Exposições sediou a primeira edição do evento, em que foram oferecidas 30 mil peças ao público (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

No último fim de semana, a ação Acre Solidário organizou diversos brechós gratuitos para distribuir roupas arrecadadas a partir de doações locais e de todo o país.

Na sexta-feira, 16, o Parque de Exposições sediou a primeira edição do evento, em que foram oferecidas 30 mil peças ao público. Cada pessoa teve dez minutos para selecionar dez unidades. No sábado, houve mais dois brechós, um na Baixada da Habitasa e outro no Taquari: 2.700 peças. E, no domingo, foi a vez da Sobral, onde foram distribuídas mais de seis mil peças.

O Exército prestou apoio na operação, para regular o fluxo do grande número de interessados e o controle de entrada e saída nos espaços (Foto: Arquivo Secom)

O Exército prestou apoio na operação, para regular o fluxo do grande número de interessados e o controle de entrada e saída nos espaços (Foto: Arquivo Secom)

O Exército prestou apoio na operação, para regular o fluxo do grande número de interessados e o controle de entrada e saída nos espaços. Ilza Carvalho, moradora da Baixada da Habitasa, que perdeu quase tudo na alagação, escolheu peças para si e para os filhos. “É boa demais essa ajuda. Deus abençoe quem doou essas coisas”, disse. Já a faxineira Nazaré Lima surpreendeu-se com a qualidade do que viu: “Tem peças novas, bem conservadas. Tem sapato. A gente tava precisando”.

Nas últimas semanas, ainda nos abrigos, cada família recebeu um kit contendo roupas para todos os seus membros (Foto: Arquivo Secom)

Nas últimas semanas, ainda nos abrigos, cada família recebeu um kit contendo roupas para todos os seus membros (Foto: Arquivo Secom)

Nas últimas semanas, ainda nos abrigos, cada família recebeu um kit contendo roupas para todos os seus membros e mais lençóis, edredons, toalhas, cortinados e utensílios domésticos. O kit era personalizado, feito sob medida, a partir dos dados sobre a composição da família, coletados no local: número de pessoas, idade e sexo.

 Além de Rio Branco, a ajuda com alimentos e roupas também tem sido enviada aos municípios atingidos pela enchente (Foto: Arquivo Secom)

Além de Rio Branco, a ajuda com alimentos e roupas também tem sido enviada aos municípios atingidos pela enchente (Foto: Arquivo Secom)

Também os municípios do interior têm recebido sacos de roupas. Brasileia, Xapuri, Santa Rosa do Purus, Sena Madureira e Epitaciolândia já receberam cerca de dez mil peças. O resultado dessa iniciativa, na maioria das vezes, é a satisfação de quem recebe. Mas, até chegar à etapa da distribuição, o caminho é longo. A organização Acre Solidário, liderada pela primeira-dama do estado, dona Marlúcia Cândida, arrecadou mais de 152 mil peças de vestuário, além de lençóis e toalhas. “Em geral as pessoas foram bem generosas em quantidade e qualidade”, diz Risonete de Souza, servidora da Secretaria de Gestão Administrativa (SGA), encarregada pela distribuição das peças.

A tarefa, que ainda não foi concluída, é hercúlea. Embora bem-vindos, os volumes recebidos são de assustar: verdadeiras montanhas de roupas para selecionar, agrupar e embalar. As peças muito velhas ou sem condições de uso são descartadas. Depois, as roupas são agrupadas segundo o tipo (calça, blusa, vestido, etc.) e a idade a que se destina (adulto ou criança). É, também, feita a contagem, para fins de relatório e distribuição.

É esta a etapa final da operação. Depois dos esquemas de retirar famílias e mobílias das casas atingidas, do recebimento de mais de seis mil pessoas nos abrigos públicos do estado, com distribuição de cinco refeições diárias, fraldas, leite em pó, além da ativação de postos de saúde e oferta de entretenimento, há, ainda, neste momento em que as últimas famílias retornam para casa, a distribuição de cestas básicas e material de limpeza. No estado todo, foram distribuídos mais de 14 mil sacolões no último mês. E as entregas prosseguem.

A ação de apoio do governo do Acre e Prefeitura de Rio Branco aos desabrigados pelas enchentes, iniciada em meados de fevereiro, é de tamanho porte, organização e sobretudo caráter cooperativo que é um contrassenso defini-la com a expressão “operação de guerra”. É, antes, uma bem sucedida operação de paz.

O estilo de Dona Marlúcia na solidariedade

 A primeira dama do Acre coordena todas as ações do Acre Solidário (Foto: Arquivo Secom)

A primeira dama do Acre coordena todas as ações do Acre Solidário (Foto: Arquivo Secom)

As ações do programa Acre Solidário têm uma marca impressa: o temperamento ponderado e sensível de sua coordenadora geral, a primeira-dama do estado, dona Marlúcia Cândida.

Partiu dela uma recomendação muito simples e significativa: que as roupas distribuídas à população estejam em bom estado. Assim, todas as 152 mil peças arrecadadas têm passado por um controle de qualidade e é descartado o que está velho ou roto.

“A situação emocional do desabrigado é de vulnerabilidade. Receber doações de material em mau estado ofende sua dignidade humana”, reflete a primeira-dama.

Um cuidado sutil, que leva em conta a autoestima de quem perdeu muito.

O parecer do especialista

Major Djalma Belmonte, especialista em socorro a catástrofes (Foto: Sergio Vale)

Major Djalma Belmonte, especialista em socorro a catástrofes (Foto: Sergio Vale)

Tendo integrado equipes de socorro social em ocasiões como o terremoto do Haiti, o tsunami do Japão, as enchentes do Nordeste, Rio de Janeiro e Petrópolis, o Major Djalma Belmonte, da reforma do Exército, declarou-se admirado com a qualidade do serviço público prestado às vítimas da alagação no Acre. “Nunca vi igual acolhimento, organização, sistema de alimentação, de acomodação, de guarda de móveis, de policiamento, presença do Ministério Público e senso humanitário. Nem no Japão presenciei algo assim. Esse know-how precisa ser documentado e compartilhado com representantes de organizações nacionais e internacionais”, depôs o especialista.

A voluntária dedicada

Nuely Oliveira, servidora do Depasa, é voluntária na triagem de roupas (Foto: Sergio Vale)

Nuely Oliveira, servidora do Depasa, é voluntária na triagem de roupas (Foto: Sergio Vale)

Nuely Bastos de Oliveira, servidora do Depasa, quis atuar como voluntária no socorro às vítimas da alagação desde os primeiros momentos da ação, logo após o Carnaval. Compõe a equipe de triagem das roupas recebidas para doação. “Estou aqui de peito aberto. Eu me sinto com o dever cumprido, eu fiz a minha parte”, diz.

Uma frase para meditar

“Aprendi que um homem só tem o direito de olhar outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.” Gabriel García Marquez

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