Uma vocação econômica ainda pouco explorada no Brasil é o turismo. Mas antes tarde do que nunca! Nossas belezas naturais são incríveis e hoje existe um grande movimento nacional entre os secretários das pastas de turismo trabalhando fortemente nesse sentido.
Os governos estaduais e federal também estão abrindo os olhos para esse potencial capaz de gerar emprego e renda em 53 setores da economia (da construção civil ao setor imobiliário), afinal se tem gente visitando nosso país, precisamos de mais brasileiros trabalhando para bem servir.
Se os turistas chegarem, precisamos de mais mobiliários (olha a indústria) camas, colchões, lençóis, fronhas, travesseiros, ar-condicionado, ventiladores e por aí vai; mais pessoas trabalhando (olha os serviços), cozinheiros, garçons, ajudantes de cozinha, motoristas, jardineiros, artesãos, tradutores, recreadores, gerentes, camareiras, barqueiros e barcos (olha a indústria naval); reformas e ampliações (olha o setor da construção civil) eletricistas, pintores, pedreiros, carpinteiros, engenheiros; para o entretenimento (olha a cultura envolvida) cantores, músicos, atores, dançarinos e mais comida (olha a agricultura e a pecuária)! É um círculo virtuoso que traz muitos benefícios econômicos. E, se os turistas gostarem, podem até comprar umas casas por aqui (olha o setor imobiliário aí!).
Nesse sentindo, o governo federal vem desburocratizando a entrada de estrangeiros como os australianos, americanos, japoneses, chineses e canadenses que não mais precisam de visto para desfrutar nossas belezas cênicas, fauna, flora e biodiversidade. Esse é o ponto número 1 do Plano Nacional de Turismo 2019/2022 que visa aumentar a entrada de 6,5 para 12 milhões de turistas estrangeiros no Brasil!
Para isso acontecer temos muito o que fazer!
De norte a sul e de leste a oeste do Brasil, os estados estão conseguindo aprovar leis de redução de ICMS para os combustíveis de aviação, na tentativa de reduzir o valor das passagens aéreas e aumentar o fluxo de turistas estrangeiros em nossos destinos mas, infelizmente, essas ações não tem sido suficiente. O governador Gladson Cameli, por exemplo, reduziu de 25% para 3% o ICMS (uma das maiores reduções do Brasil) e os preços das passagens continuam tão caras como antes!
Os brasileiros não estão satisfeitos com os valores cobrados pelas companhias aéreas e isso também desfavorece o turismo interno. Nesse sentido é preciso que estados e governo federal conversem sério com as empresas aéreas, para que os incentivos fiscais que os estados estão dando se reflitam em redução nos preços das passagens, além de ampliar o Acordo Céus Abertos Multilaterais com países ricos e outras ações como o stopover (forma de conexão em que o passageiro chega a passar alguns dias numa cidade intermediária até que seja possível seguir viagem) que facilitaria a chegada de passageiros, em vários destinos brasileiros, com uma única passagem.
O último relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF), intitulado The Travel & Tourism Competitiveness Report (TTCR), realizado em 2017, colocou o Brasil na 27ª colocação num ranking de 136 países analisados como competitivos para o mercado de turismo.
Segundo o relatório, nosso país é considerado o número 1 do planeta no quesito diversidade de recursos naturais, além de se destacar como 8º classificado no item recursos culturais. No entanto, apesar desta vantagem comparativa, no quesito “priorização do setor”, fica na 106ª posição, e no item “ambiente de negócios”, em 129º, devido à ineficiência do arcabouço legal, burocracia e impostos elevados.
O fato é que precisamos de políticas públicas eficientes para o setor, investimentos para sediar grandes eventos corporativos, divulgação positiva do Brasil no exterior, estímulo ao turismo interno, passagens aéreas acessíveis, treinamento e desenvolvimento de atitudes empreendedoras para o trade turístico, além de fazer a população abraçar o turismo como mais uma oportunidade para os negócios.
No caso do Acre, estamos engatinhando nesse setor. Mas, em 10 meses, conseguimos sensibilizar e ajudar tecnicamente 12 municípios acreanos, inclusive a capital Rio Branco, a montar seus Conselhos Municipais de Turismo e seus departamentos ou secretarias de Turismo de forma que pudessem entrar no Mapa do Turismo Brasileiro.
Os desafios ainda são grandes e o principal é projetar nossa imagem como um destino turístico inusitado e especial. Precisamos de gente chegando e saindo todos os dias, circulando no nosso estado, comendo, bebendo e comprando. Temos potencial para isso!
O Acre é o berço da doutrina do Santo Daime, com suas comunidades autossustentáveis no cultivo da chacrona e do jagube (utilizados no preparo do chá). Fascina com os seus rituais. As aldeias indígenas com suas medicinas tradicionais, cantos e encantos, sua cultura, suas danças e músicas, já têm ganhado os corações de muitos estrangeiros que buscam uma nova experiência de vida; nossas florestas e comunidades ribeirinhas são ideais para o turismo de base comunitária, onde a própria comunidade se encarrega de servir um peixe assado na palha da bananeira e um deliciosa galinha caipira; nosso artesanato madeireiro e seringueiro é o que tem maior valor agregado com essa “pegada ecológica”; nós temos pássaros especiais e raros; nossos rios com águas turvas, barrentas ou escuras também são lindos.
O Acre é a terra de Chico Mendes e Xapuri precisa se apropriar disso
Nossa história pode ser contada em prosas e versos, pois é o único estado da Federação que lutou para ser brasileiro. Temos uma religiosidade pujante com Nossa Senhora da Glória, em Cruzeiro do Sul, São Sebastião, em Xapuri, e Santa Raimunda, lá em Assis Brasil, na tríplice fronteira, único acesso terrestre do Peru com o Brasil.
Precisamos explorar economicamente nossos heróis, nossa história, nosso folclore (Mapinguari é um exemplo), nossa culinária, nossa fauna e flora e nossa cultura indígena! As pessoas viajam em busca de conhecer o desconhecido, de viver novas experiências, gostam de ter acesso aos saberes e sabores de outras culturas e se sentem motivadas a gastar seu dinheiro em locais que irão, de alguma forma, transformar sua forma de ver o mundo e a própria vida!
Os mais pessimistas dirão: mas não temos estradas, os acessos são ruins, as passagens são caras, os barcos são precários etc. Para esses eu digo: não precisamos ter as condições ideiais para começar a desenvolver o turismo no Acre. Precisamos é tirar a venda dos nossos olhos e ver que o que é “complicado” para nós, é aventura para outros. Que o que é comum para nós é inusitado, diferente e curioso para outros. Que, enquanto não nos mexermos, para o fortalecimento desse setor, outros estados e empresários de visão estão fazendo sua parte para colher, num futuro próximo, as melhorias financeiras e a prosperidade que o turismo pode trazer.
O tempo está passando e quanto mais tempo demorarmos para valorizar os potenciais da nossa terra, mais tempo levaremos para colher os frutos. É preciso pensar e agir. É necessário ter atitude e fazer, entre outras coisas, a comunicação correta para atrair os turistas.
Ouso dizer que o turismo é o setor que tem capacidade imediata de geração de emprego e renda, pois é gente chegando e a roda da economia girando. Sem gente não temos consumo, sem consumo não há demandas para o mercado de produtos e serviços. Simples assim! Não podemos desperdiçar mais essa vocação produtiva que temos no nosso estado.
Vamos arregaçar as mangas que, com certeza, com todos os atores envolvidos, imbuídos no propósito de fazer o turismo ser alavancado com resultados positivos para todos, vamos conseguir. Afinal, turismo é empreendedorismo que gera dinheiro!
Eliane Sinhasique
Secretária de Empreendedorismo e Turismo do Estado do Acre