A construção da Ponte sobre o Rio Juruá e a ligação terrestre definitiva entre Cruzeiro do Sul e Rio Branco, pela BR-364, alteraram a logística de abastecimento do comércio local e o fluxo de passageiros, que passaram a priorizar o transporte terrestre em vez do aéreo.
No mês de janeiro, apenas uma balsa de mercadorias aportou em Cruzeiro do Sul. No ano passado foram nove, no mesmo período.
Segundo o gerente do porto, José Cláudio Marques de Oliveira, de outubro de 2011 a fevereiro de 2012, chegaram 12 balsas a Cruzeiro do Sul, enquanto o normal para o período seria de 20 a 25 balsas carregando produtos como ferro, cimento, brita, tintas, açúcar, trigo, gás e combustível. Ele calcula que o movimento no porto deve cair mais de 50%, quando a BR-364 estiver concluída.
Cruzeiro do Sul chegou a ter três voos diários para Rio Branco e hoje só tem um. Segundo o superintendente da Infraero no município, Carlos Alberto Pereira Costa, em 2011 houve uma redução de 5 mil passageiros em relação a 2010, incluindo pessoas que embarcaram em voos para dentro do Estado e sul do Amazonas.
Segundo Costa, em 2011, logo após a abertura definitiva da BR-364, o embarque diário diminuiu para 60 pessoas. Esse número normalizou em fevereiro deste ano, quando subiu para 100 pessoas por dia. Para o superintendente da Infraero, mesmo com a estrada aberta, haverá mercado para o transporte aéreo, pois muita gente precisa de rapidez em seus deslocamentos.
O transporte aéreo de mercadorias praticamente acabou. Era costume, em anos anteriores, a chegada de cargueiros Boeing durante o período invernoso, que era a única possibilidade de colocar produtos perecíveis nas mesas dos cruzeirenses. No entanto, desde a ligação definitiva dos vales do Juruá e Acre não houve mais vantagem econômica no transporte aéreo e cessaram os voos.
Comércio tem novas estratégias
O presidente da Associação Comercial do Alto Juruá, Marcos Venício Alencar de Souza, acredita que o abastecimento de Cruzeiro do Sul via fluvial vai cair 80% com a conclusão definitiva da BR-364. Os produtos, segundo ele, chegam mais rápido por terra, o que dá mais folga aos comerciantes com relação à validade deles. Além disso, não há mais necessidade de formação de grandes estoques reguladores: todos os dias chegam caminhões com mercadorias pela BR-364.
Por hora, o que ainda encarece o produto em relação a Rio Branco é o transbordo que é necessário fazer em Sena Madureira, já que no trecho até Feijó a estrada ainda é precária e o Deracre só admite caminhões pesando no máximo sete toneladas. Isso gera algumas aberrações: do Rio Grande do Sul até Sena Madureira um empresário cruzeirense paga R$ 10 por fardo de 30 quilos de arroz, e de Sena até Cruzeiro do Sul ainda tem que pagar mais R$ 12.
Mesmo assim, o presidente da ACAJ considera que o custo de vida ficou mais acessível depois da integração dos vales. Em anos anteriores, o preço de produtos como tomate, batata, cebola, beterraba chegavam a R$ 8 o quilo na época das chuvas. Hoje o tomate custa cerca de R$ 3, e a batata e a cebola, menos ainda.
Para Marcus Venício, a abertura da BR-364 democratizou a concorrência. Antes os pequenos comerciantes eram reféns dos que possuíam balsa, hoje qualquer um tem a liberdade de encomendar mercadoria pela rodovia, o que também dificulta a formação de cartéis, que padronizam os preços.