Pioneiro na luta contra a hanseníase, o Acre sediou nesta segunda e terça-feira, 30 e 31, a 1ª Mesa Redonda sobre Hanseníase, promovida pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Saúde.
O evento, realizado no auditório da faculdade Estácio Unimeta, em Rio Branco, representa um importante avanço nas políticas públicas de prevenção à doença e cuidado com os pacientes, ao capacitar representantes dos municípios acreanos, técnicos e profissionais de saúde em geral, além de fortalecer a cooperação com o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e o Ministério Público Estado (MPAC), visando à construção de um um plano de ação para implementação de uma linha de cuidados no Acre.
Durante os dois dias, foram discutidos temas como a realidade da hanseníase no estado e no mundo, as dificuldades e desafios nos cuidados às pessoas com hanseníase e o diagnóstico da doença no SUS.
A enfermeira Suilany Souza é responsável pela área técnica da hanseníase do Núcleo de Vigilância de Doenças Transmissíveis da Sesacre e explica que o combate à hanseníase é uma luta permanente. Neste ano, 122 casos foram registrados em todo o estado até o momento.
“A gente ainda tem muitos casos de hanseníase aqui no Acre e é nossa obrigação, não só como profissionais de saúde, mas como pessoas, cuidar bem da semente plantada pelo Bacurau, em seu sonho de ver a doença erradicada”, disse, referindo-se ao fundador do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) e líder comunitário que atuou no Acre e em outros estados do país a partir da década de 1960.
A gestora acrescentou que o objetivo do evento é discutir como a política do SUS pode facilitar o acesso da pessoa com hanseníase à medicação, ao diagnóstico e ao tratamento.
“Histórica e simbolicamente, as lutas populares pelos direitos das pessoas com hanseníase começaram aqui no Acre e, além disso, o estado ainda tem alguns números importantes, epidemiologicamente falando, para o enfrentamento da hanseníase. Ver que o programa estadual está comprometido com essa luta, convidando-nos para estar aqui, em parceria com os municípios e com a Organização Pan-Americana de Saúde, é sinal de que vem muita coisa boa por aí no enfrentamento à doença”, avaliou Gustavo de Oliveira, coordenador-geral substituto do setor de Vigilâncias das Doenças em Eliminação do Ministério da Saúde.
Já Miguel Aragon, coordenador da Unidade Técnica de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde (Opas/OMS), reforçou: “Estamos aqui para identificar oportunidades de cooperação técnica e trabalhar com a Secretaria de Saúde do Acre e as secretarias municipais na eliminação da hanseníase”, destacou.
Coordenador do Morhan no Acre, Elson Dias ressaltou que a logística para que os pacientes cheguem até as unidades de saúde ainda é um problema, por isso, a busca ativa é uma das soluções debatidas.
“Esse debate é importante pra que a gente possa desenvolver uma estratégia pra tentar diminuir esses casos da hanseníase e pra que as pessoas não fiquem com sequelas da doença. Muitas vezes é a falta de informação e até mesmo o próprio paciente que não quer continuar o tratamento, então é muito importante que a gente trabalhe isso, principalmente na busca ativa”, observou.
Quem foi Bacurau?
Francisco Augusto Vieira Nunes, mais conhecido como Bacurau, faleceu em 1997. Ele foi fundador e Coordenador Nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, (Morhan) experimentou o preconceito social ao contrair a doença. Por isso, fez da luta contra a discriminação uma missão de vida, que continua hoje, quase 30 anos após sua morte.