O Acre possui a maior floresta de bambu nativo do mundo. São cerca de 600 mil hectares da planta que possui aplicações em diversas áreas, desde a culinária, ao artesanato e até mesmo a construção civil. E com base nisso, os luthiers Lucas Mortari, Wesley Araújo e Nelcimar da Silva pensaram num ousado projeto: o de construir guitarras de bambu.
Mas o que é um luthier? É o profissional que trabalha com a construção e manutenção de instrumentos musicais de corda, sopro ou percussão. Um tipo de artesão exclusivo de instrumentos musicais. E o trio resolveu apostar em um produto genuinamente acreano e com alto potencial de mercado, usando justamente uma madeira abundante na região.
“O mercado de instrumentos musicais de madeira já existe. Pra esse tipo de instrumento ainda precisamos estudar e saber se ele vai ser aceito. Mas garantimos que é um produto de alta qualidade, por causa de seu timbre que é superior, com tempos de acordes maiores e sons mais agudos”, conta Lucas Mortari, músico profissional.
Com muito trabalho, o resultado foi apresentado ao governador Tião Viana e a primeira-dama Marlúcia Cândida, maiores apoiadores do projeto, na última semana, com a primeira guitarra de bambu já produzida, um produto de visual bastante diferenciado e alto valor agregado que se encaixa na ideia de economia criativa defendida pelo governo do Estado.
Desafios na produção
A guitarra de bambu é um produto inédito e já há diversas pessoas querendo conhecer, testar, saber se funciona. Mas o bambu é um produto difícil de ser trabalhado, algo não possível por máquinas convencionais. A madeira normal é trabalhada por lâminas, mas como o bambu tem uma textura sílica, o corte é muito mais difícil. Manualmente, são necessárias duas semanas para produzir um instrumento.
“É um produto que tem um potencial enorme de aproveitamento. A resistência dele é similar a da folha de carbono. E pra produzir em série precisamos de um investimento, de um lugar para levar esse projeto pra frente”, ressalta Lucas Mortari.
O governador Tião Viana garantiu que se esforçará para que o projeto encontre possibilidades de financiamento dentro das políticas públicas do Estado de fomento a empreendedores, além de espaço para o desenvolvimento das atividades como o Polo Moveleiro.
Para Marlúcia Cândida, defensora das potencialidades do bambu e dos ganhos econômicos que ele pode trazer para o Acre, o resultado final pode ser de muito reconhecimento. “O governo do Estado está fazendo todo um trabalho de desenvolvimento da cadeia produtiva do bambu e essa guitarra mostra a diversidade dessa madeira, com a abertura de um grande leque na economia criativa”.
A marca de guitarras de bambu se chamará Bravos, uma referência aos índios isolados na fronteira do Peru que usam o mesmo bambu como pontas de suas flechas.