Com apoio do governo, acreanos que estudam medicina na Bolívia são repatriados

Eram por volta de 8h20 da manhã desta sexta-feira, 17, quando dois ônibus chegaram ao seu destino após percorrerem, em quatro dias de viagem, os 3,1 mil quilômetros que separam as cidades de Corumbá (MS) e Rio Branco. Dentro deles, estavam 79 acreanos que cursam medicina nas cidades bolivianas de Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra.

Momento em que os ônibus chegaram em Rio Branco com 79 acreanos que estudam medicina na Bolívia Foto: Odair Leal/Secom

A repatriação só foi possível graças ao esforço do Governo do Estado do Acre, Universidade Federal do Acre (Ufac), Instituto Federal do Acre (Ifac), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do deputado federal Alan Rick.

Os ônibus foram cedidos pelas duas instituições de ensino, coube ao governo arcar com o combustível, manutenção mecânica e quatro motoristas. Já a PRF ficou responsável pela escolta dos ônibus durante todo o trajeto desde o Mato Grosso do Sul até o Acre.

Repatriação dos estudantes acreanos contou com o apoio incondicional do Governo do Estado Foto: Marcos Vicentti/Secom

O que era para ser um momento de felicidade na vida de Cássio Soares acabou se transformando em dias de angústia. Formado em medicina recentemente, ele foi à Cochabamba no último dia 14 de março para buscar o diploma e carteira de médico na faculdade onde estudou. Dois dias depois de sua chegada, o governo boliviano decretou situação de emergência nacional e impôs uma série de restrições.

“Devido a pandemia, a faculdade reduziu o horário de atendimento e isso acabou dificultando que eu pegasse a documentação, que não seria algo demorado. Por causa disso, fiquei ‘preso’, infelizmente. Confesso que fiquei bastante preocupado. Não estava preparado economicamente para passar tantos dias lá. A intenção era ficar, no máximo, cinco dias e acabei ficando quase um mês”, revela.

Estudantes reconhecem e agradecem apoio dado pelo governo do Acre

O estudante Marcos Alírio afirmou que o esforço do governo e demais instituições foi fundamental para o sucesso da repatriação dos acreanos. Diante da crise global causada pela Covid-19, a situação é considerada crítica na Bolívia, sobretudo, com pessoas de outros países.

“Decidi retornar para minha terra natal porque a situação na Bolívia é muito imprevisível. Considero o sistema de isolamento que eles colocaram como abusivo, principalmente, para os estrangeiros. Classifico esse esforço essencial e necessário. O que o governo fez é importante para todos e este repatriamento causará um bálsamo para a população porque existe muitas famílias envolvidas nisso. Apesar de ser uma dificuldade global, estamos tendo a oportunidade de estar com a nossa família. Agradeço ao governo, aos motoristas, aos policiais que fizeram nossa escolta e demais pessoas que estiveram envolvidas”, pontuou.

Estudantes reconhecem esforço e agradeceram apoio dado pelo governo Foto: Marcos Vicentti/Secom

Mesmo sentimento de gratidão também foi revelado por Sthefany Brito. A futura médica revelou que a situação no país estava se agravando dia após dia. Como a saída de cada pessoa é permitida apenas uma vez por semana, ela relata que estava encontrando dificuldade para fazer o câmbio com a moeda local e até mesmo para encontrar alimentos, cada vez mais escassos.

“Eu tenho muito a agradecer à equipe que nos trouxe até aqui. Eles nos ajudaram muito na questão de encontrar hotel, alimentação. E aos motoristas que sempre estiveram dispostos e se responsabilizaram por nossa segurança. Gostaria também de agradecer ao governo do Acre e ao deputado Alan Rick, que sempre defendeu a bandeira dos brasileiros que estudam na Bolívia”, ressaltou.

Sthefany Brito estuda medicina em Cochabamba. Ela agradeceu empenho do governo acreano por transportá-los até Rio Branco Foto: Marcos Vicentti/Secom

A estudante ainda comemorou a oportunidade de estar de volta ao Acre e poder passar por esta pandemia junto com seus familiares. “Estou muito feliz e aliviada por estar aqui. É o principal motivo de estarmos aqui e, com certeza, poder estar perto da nossa família até que essa situação que estamos vivendo seja resolvida”, declarou.

Além dos 79 estudantes acreanos, outros quatro policiais militares e dois motoristas fizeram parte da equipe responsável pelo translado. O capitão da Polícia Militar, Reginaldo Carneiro, participou da missão. Ele explica que a viagem não foi fácil devido às restrições impostas pelos governos estaduais, mas que todas as dificuldades foram superadas.

Capitão Reginaldo Carneiro foi um dos militares que participou da missão de repatriação dos acreanos Foto: Marcos Vicentti/Secom

“Foi uma missão de guerra. Uma logística muito grande que envolveu viaturas da Polícia Rodoviária Federal, um carro de apoio para verificar a parte de alimentação e hospedagem de todos. Como militar, fazemos o juramento de arriscar, com permissão, a nossa própria vida. Mas Deus nos abençoou e nos trouxe até aqui sãos e salvos”, observou.

Encontro com familiares dos estudantes foi marcado pela emoção

Do lado de fora do Colégio Militar Dom Pedro II, local escolhido para recepcionar os estudantes, as famílias aguardavam ansiosas para encontrá-los. Gestos e olhares curiosos procuravam identificar seu ente querido em meio a tantas pessoas. A cada encontro, era impossível conter a emoção. Dona Nazaré Selhorst foi às lágrimas quando viu a neta, a jovem Karoline Selhorst. O abraço apertado carregava a saudade que já se acumulava há quatro meses. Esta é a primeira vez que elas passaram tanto tempo separadas uma da outra.

“Estamos vivendo um momento que o mundo inteiro está nessa angústia. Em função disso, a gente também se sensibiliza e se emociona. O encontro com ela foi marcado por muito amor e carinho e ela pediu que eu ficasse tranquila. Estou torcendo, rezando, cumprindo quarentena e tendo todos os cuidados possíveis com a higiene e limpeza para que tudo isso passe logo”, declarou Nazaré.

Encontro entre avó e neta foi marcado pela emoção Foto: Marcos Vicentti/Secom

Apesar do abraço caloroso, as duas voltarão a se distanciar por, pelo menos, mais 14 dias. Com 70 anos de idade, dona Nazaré faz parte do grupo de risco. Por precaução e sinal de afeto com a avó, Karoline ficará isolada na residência do namorado, em Cruzeiro do Sul.

“Foi muito emocionante encontrar com ela após quatro meses e a situação ficou ainda mais preocupante após a pandemia do coronavírus. Gostaria de ficar com ela neste momento, mas temos que fazer o esforço para garantir a saúde dela”, frisou a estudante.

Estudantes passaram por triagem e serão monitorados pela Vigilância Sanitária

Recepcionados com um café da manhã, os estudantes foram atendidos por servidores da Vigilância Epidemiológica municipal e cadastrados para serem acompanhados de perto nos próximos 14 dias. Além disso, todos eles foram orientados com os cuidados que devem adotar a partir de agora.

Todos os estudantes passaram por triagem e serão acompanhados pelos próximos 14 dias Foto: Odair Leal/Secom

“Fizemos toda a logística e cuidado necessário para receber estes estudantes com toda segurança. Todos foram devidamente cadastrados, passaram por uma entrevista para saber se estão sentindo algum sintoma da doença e eles também orientados em relação a quarentena que eles devem cumprir a partir de agora”, disse o chefe da Vigilância Sanitária estadual, José Ribamar Queiroz.

Caso apresentem algum sintoma da Covid-19, os repatriados serão submetidos a exames para confirmar a presença do vírus no organismo. O governo vem somando esforços para equipar a rede de hospitais e ampliar a quantidade de novos leitos de UTI para atender os casos mais graves.

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