Cine+Cultura Hélio Melo exibe obras de realizadores indígenas do Acre

Vídeos retratam as festas, os rituais, narrativas míticas e histórias formando um rico  patrimônio material e imaterial desses povos

 

shomotsi.jpg

Shomõtsi, de Bebito Piãko (42 min) foi produzido pela ONG independente Vídeos nas Aldeias (Imagem: Acervo Vídeo nas aldeias)

Com um acervo de documentários premiados em festivais de nível nacional e internacional, os realizadores indígenas do Acre se debruçam sobre a tecnologia digital, produzindo obras que se constituem em rico patrimônio material e intelectual, utilizadas por estes povos como recurso didático no desenvolvimento curricular nas escolas indígenas, bem como nas práticas cotidianas. Para promover e divulgar estas obras, no mês em que se comemora o Dia do Índio, 19 de Abril, o Cine+Cultura Hélio Melo exibe quatro filmes desses artistas da imagem no Circuito Documentário: Yawa – História do povo Yawanawá, de Joaquim Tashka e Laura Soriano (55 min), Katxa Nawá, de Zezinho Yube  (29 min), A Gente Luta Mas Come Fruta, de Bebito e Issac Piãko (39 min) e Shomõtsi, de Bebito Piãko (42 min). Esses três últimos foram produzidos pela ONG independente Vídeos nas Aldeias. As sessões acontecem às quartas-feiras de abril, às 19 horas.

Para o professor e videasta Issac Piãnko esses vídeos possuem um significado importante para os povos indígenas principalmente quando utilizado nas escolas como recurso didático. "Cada vez que fazemos um trabalho em vídeo e mostramos ao nosso povo é um enriquecimento muito grande: olha, isso aconteceu daquela maneira, hoje está acontecendo desse jeito. Os próprios alunos que estão estudando, que vêem a gente falar do mundo, da vida, das pessoas, através do vídeo, eles sabem o que aconteceu, o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer".

A pesquisadora indígena Nietta Monte, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, comenta o importante papel que os videastas indígenas desempenham como mediadores e intérpretes de conhecimentos. "Essas obras são como o elo de continuidade entre as novas e velhas gerações. Festas, rituais, narrativas míticas e histórias recentes estão processadas nesses filmes formando um rico  patrimônio material e imaterial desses povos.  Atualmente, não é rara a organização de sessões de vídeo nas malocas, escolas e centros culturais de algumas aldeias".

O documentário Yawa – A História do Povo Yawanawa,  foi o primeiro a ser exibido. O filme  é um registro do festival que acontece durante sete dias na situada terra indígena do rio Gregório, em Tarauacá. O Yawa reúne dança, expressão artística, manifestação cultural e espiritual da aldeia. As imagens captadas trazem poesia, embaladas por uma trilha sonora envolvente.

Katxa Nawá, de Zezinho Yube  (29 min) é o próximo da lista com sessão  no dia 22. Yube é um dos videastas indígenas mais premiados e atuantes, é dele Xinã Bena, Novos Tempos, Melhor Filme do Festival Forumdoc BH 2006, evento dedicado ao filme documental e etnográfico, referência em mostras de cinema e vídeo no Brasil. Katxa Nawá,  é um vídeo com o olhar de dentro para fora da aldeia, revela como é feita  a festa da fertilidade dos Huni Kuin, apresentando para os mais jovens os costumes de seu povo. O filme foi produzido com recursos do prêmio Culturas Indígenas Ângelo Kretã, recebido pelo professor e líder indígena Joaquim Maná. Para produzir o vídeo, Maná chamou mestres de cerimônia de outras aldeias para realizarem o Katxa Nawá (2008 – 29 min) a festa da fertilidade do povo Huni Kuin, que nunca havia sido realizada em sua terra. Quem assina a fotografia é Tadeu Siã Kaxinawá. 

a_gente_luta_mais_come_fruta.jpg

A Gente Luta Mas Come Fruta, de Bebito e Issac Piãko é vencedor do prêmio Panamazônia ActionAid 2007 como melhor produção audiovisual. O filme se passa na aldeia Apiwtxa no rio Amônia (Imagem: Acervo vídeo nas aldeias)

A Gente Luta Mas Come Fruta, de Bebito e Issac Piãko (39 min) será exibido após Katxa Nawá. Vencedor do prêmio Panamazônia ActionAid 2007 – Pobreza, Desigualdade e Direitos, como melhor produção audiovisual, o filme que se passa na aldeia Apiwtxa no rio Amônia, Acre  registra como é feito o manejo agroflorestal  realizado pelos Ashaninka, fazendo uma abordagem que mostra ao mesmo tempo, o trabalho de recuperação dos recursos naturais da reserva  e também a constante luta contra madeireiros que exploram excessivamente essas terras. 

A quarta produção a ser exibida é Shomõtsi de Bebito Piãko, no dia 29. Uma crônica do cotidiano de Shomõtsi, um Ashaninka, da fronteira do Brasil com o Perú. Professor e um dos videastas da aldeia, Valdete retrata o seu tio, turrão e divertido em sua rotina, mostrando todos os seu hábitos, como o preparo da comida, o trabalho na roça, demonstrando em gestos mínimos toda a cultura de uma coletividade. A obra já recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio da Unesco na 8ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, do Rio de Janeiro (2001), Grande Prêmio Rigoberta Menchú Tum, na categoria Comunidade no Festival Présences Autochtone, Montreal (2002) e o de Melhor Documentário na Mostra Competitiva Nacional do Forumdoc.bh em 2002.

Todas esses filmes representam a rica cultura indígena retratando o cotidiano desses povos na busca pela afirmação de suas identidades. Vale à pena conferir a produção desses artistas da imagem.

Serviço

Realização ABDeC/AC em parceria com o Governo do Acre, através da Fundação Elias Mansour. Cine+Cultura Hélio Melo – Av. Getúlio Vargas, s/n – Centro – Tel.: 3224-2133. Entrada gratuita.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter