Chefe de  turma, ordem unida, pontualidade: um dia no Colégio Militar Tiradentes

Em forma, alinhados, com uniformes impecáveis, peitos estufados e olhos voltados levemente acima da linha do horizonte. Com todo este garbo e elegância, típicos do militarismo, os 989 alunos do Colégio Militar Estadual Tiradentes (CMET) matriculados neste ano letivo de 2021 iniciam um dia de estudos comum. Eles carregam na cabeça a preocupação diária de ter na ponta da língua os cânticos e hinos cívicos, e têm os corpos já quase condicionados a agir no automático com os comandos militares da ordem unida.

Entre os “pequenos militares”, uma mocinha de apenas 12 anos tem o primeiro contato com essa versão mirim, mas não menos empolgante, da “caserna”: a estudante do 6º ano Alícia Freitas foi apresentada ao novo regime de ensino com a volta da modalidade presencial, depois do afrouxamento das medidas sanitárias contra a Covid-19. Até então aluna de escolas civis da rede pública, este foi seu primeiro ano em um colégio conduzido por militares.

A pequena, filha deste pai orgulhoso que aqui escreve, em princípio temerosa com as exigências e rigidez que ouvia sobre colégios militares (e também por já ter testemunhado a rotina do pai ao longo de mais de 10 anos servindo na Polícia Militar), entrou em pânico quando descobriu que aquele cabelo com tintura rosa, as unhas coloridas, os brincos, pulseiras e colares, mochilas banhadas em brilho e tênis extravagantes não seriam permitidos na rotina da nova escola.

Mas, bora lá, né! Entre a resignação e a curiosidade, o que mais a nossa estudante poderia fazer além de imergir nessa experiência e colocar os uniformes? Processo seletivo cumprido, matrícula feita, fase de ensino na modalidade à distância (imposta pela pandemia) vencida, chegou a hora de frequentar as aulas e descobrir a nova rotina. Em princípio, em semanas alternadas (metade dos alunos matriculados no colégio – pouco menos de 500 – frequentariam por vez), diminuindo a aglomeração e riscos de contaminação.

Todos em seu turno usando máscaras de proteção, voltamos ao início deste relato: a escola inteira em formação militar, com as classes distribuídas em diferentes pelotões de um pequeno “batalhão escolar”, dando início ao dia letivo. Pela manhã, às 7h em ponto, é realizado o hasteamento da Bandeira, em seguida os estudantes entoam as canções e hinos cívicos e recebem orientações diversas antes de serem encaminhados às salas de aula. A pontualidade é exigida à risca, atrasos só são tolerados com uma boa justificativa!

Os professores e funcionários de apoio da escola são do quadro da Secretaria Estadual de Educação (SEE), mas o diretor, vice-diretor, coordenação do corpo de alunos e supervisores são militares da Polícia Militar do Acre. A rotina do colégio lembra muito a de um quartel. As turmas são comandadas por chefes de turma, alunos com função de auxiliar os supervisores no controle e organização das salas de aula, e que já desenvolvem, durante essa atividade, importantes noções de liderança.

Além da presença física dos militares, o currículo escolar do CMET também inclui instruções militares, pautadas na hierarquia e disciplina, entre elas a Ordem Unida (que trata da formação da tropa para marchar, movimentos sincronizados, continências e sinais de respeito, etc.), Defesa Civil e palestras planejadas sobre os mais variados temas de relevância social.

Entre os alunos, há pontuação decrescente e promoções por mérito. Todo aluno começa recebendo oito pontos e classificação no comportamento bom. Essa nota pode ser descontada em caso de advertências ou mau comportamento/desempenho, decaindo até o comportamento “incompatível”, motivo este de desligamento do colégio. Mas o aluno também pode melhorar, chegando no comportamento “excepcional”, quando passa a ter mais benefícios em relação aos demais, entre eles ocupar posição de destaque no “batalhão escolar” e receber homenagens e insígnias.

Instituído por Lei em 2017, o Colégio Militar Estadual Tiradentes abriu suas portas em 2018, com 50% das vagas destinadas à comunidade civil e 50% a filhos e dependentes de militares estaduais. O Major PM Agleisson Alexandrino é o diretor do colégio desde sua criação, e nesse período conquistou o respeito dos funcionários e subordinados, mas sobretudo de alunos e pais, que vêem resultados reais nos métodos de ensino utilizados na sua gestão.

Como prova, as notas obtidas na última aferição do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) colocaram o Colégio Militar Estadual Tiradentes acima da média nacional, entre as 5% melhores escolas do país. Para o Major Agleisson, no entanto, mais que notas e pontos percentuais, o CMET tem a função primordial de ensinar valores e difundir uma cultura de honestidade e respeito.

E nossa pequena estudante Alícia Freitas, como está encarando tamanha mudança de ares? Após alguns meses de idas e vindas, formaturas, instruções militares, aulas remotas, ordem unida, aulas presenciais, hinos e canções, continências pra cá, algumas flexões de braço pra lá… Pergunte a ela se quer mudar de colégio! Mesmo morando em uma cidade vizinha (mais de 20 quilômetros de distância), pegando dois ônibus no trajeto e chegando bem tarde em casa, ela diz que não sai mais de lá, nem amarrada! Para orgulho deste pai aqui, claro!

 

Joabes Guedes é jornalista e Sargento da Polícia Militar. Trabalha na Assessoria de Comunicação da PMAC

 

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