Transmissão comunitária

Casos de Covid-19 seguem em ascensão numa média de 4 por dia no Acre

Dos infectados, 86% vão passar incólumes, mas eles podem fazer a curva crescer no estado, que hoje está devagar, mas numa linha constante por causa das transmissões comunitárias

O anúncio de dois homens contaminados por coronavírus sem saber de quem contraíram Covid-19 acendeu o sinal vermelho do alastramento da pandemia no Acre, para além do monitoramento que vinha sendo feito pela Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), e diga-se por mérito, com a ajuda hercúlea dos profissionais do Centro de Infectologia Charles Mérieux.

Profissionais da UPA atentos à capacitação promovida por técnicos da Sesacre, antes da internação de pessoas; nesta sexta-feira, 10, pelo menos 11 pessoas estavam sendo internadas na unidade com Covid-19 e com sintomas da doença Foto: Odair Leal/Secom

Embora até esta sexta-feira, das 815 pessoas já testadas pelo laboratório privado, ao menos 745 tinham tido os exames descartados, o número de casos positivos vem se mantendo numa média de 4 por dia e chegou a 8 nesta sexta, subindo de 62 para 70 o número de confirmados em todo o estado.

Segundo explica Tania Bonfim, chefe da Área Técnica de Influenza e Covid-19, da Sesacre, as notificações no Acre começaram a acontecer no dia 2 de março, seguindo até o dia 15 do mesmo mês, com uma média de duas notificações diárias.

Ruas de Rio Branco no início de tarde de um dia de semana, logo após o governador Gladson Cameli decretar medidas de quarentena; hoje, a população não coopera mais como devido Foto: Odair Leal/Secom

“Foi logo após a confirmação dos primeiros três casos, no dia 17, que as notificações foram só aumentando”, observa Bonfim. Então, não se engane, porque o número verdadeiro de casos é muito maior que o oficial, considerando que as pesquisas mostram que 86% dos infectados não apresentam sintomas, ou quando eles existem são na sua forma mais leve, ‘enganando’ como um resfriado comum, por assim dizer, a quem tem Covid-19.

O Acre está na 4ª semana da pandemia, enquanto que estados do sul e do sudeste do país já avançam na 13ª semana. A 4ª semana tem como referência os dias corridos que começaram em 17 de março, data em que os primeiros três casos no Acre foram registrados oficialmente.

Fisioterapeuta Karla Araújo, uma das profissionais de Saúde heroínas de Acrelândia, dedicada à coleta de amostras no segundo maior município com incidência de Covid-19 no Acre Foto: Odair Leal/Secom

E o que isso significa? Quer dizer que estamos longe do pico da pandemia, quando os casos mais graves da doença tenderão a crescer, a exemplo do que se vem registrando em outros estados do território nacional nesta sexta-feira, regiões que estão há semanas à frente do Acre. Daí a expressão proferida quase sempre pelo secretário de Estado de Saúde do Acre, Alysson Bestene, de que o Acre ‘está ganhando tempo’ para medidas como a instalação de novas Unidades de Terapia Intensiva, as UTIs, em Rio Branco e no interior do estado.

Secretário de Saúde, Alysson Bestene, em entrevista para emissora de TV local; preocupação com o atual momento Foto: Odair Leal/Secom

Nesta sexta, o Brasil atingiu 1.057 mortes registradas por Covid-19, com 19.638 casos oficiais. Mas se no Acre estamos bem aquém do que, supostamente está por vir nas próximas semanas, as recomendações de isolamento domiciliar continuam preciosamente valendo.

E entenda por quê. O maior receio atualmente é que a curva do crescimento de casos no estado, que hoje está se delineando vagarosamente, mas numa linha constante, se acentue cada vez mais se as pessoas continuarem nas ruas.

No Acre, o que mais se viu nos últimos dias foi gente se aglomerando em locais como lotéricas e agências bancárias, negligenciando o limite de segurança de até dois metros de um para outro. Em supermercados, amontoados de crianças de colo e idosos não são raros nas compras, famílias desatentas aos pedidos da Vigilância Sanitária de que apenas um membro familiar se desloque às compras.

Agência bancária no início desta semana; clientes na fila ignoram qualquer recomendação de segurança para evitar o contágio do coronavírus em Rio Branco Foto: Odair Leal/Secom

Esse tipo de comportamento é prejudicial, sobretudo agora que sabidamente estamos numa fase de contágio comunitário, aquele tipo que abre, como por exemplo, esta reportagem, quando dois homens foram contaminados sem saber de quem pegaram a doença. A contaminação desenfreada, além de ser perigosa para o colapso do Sistema Único de Saúde, pode gerar mortes em massa, desencadeando uma situação trágica em que os profissionais poderão ter de escolher quem deve viver e quem vai morrer.

Agência bancária no início desta semana; clientes na fila ignoram qualquer recomendação de segurança para evitar o contágio do coronavírus em Rio Branco Foto: Odair Leal/Secom

É como explica a médica Paula Mariano, secretária-adjunta de Saúde do Acre. “[A transmissão comunitária] era o nosso receio e motivo também de nosso apelo para que as pessoas continuassem em casa. Nosso objetivo era justamente o de controlarmos os focos da doença, evitando até que a produção de exames para identificarmos esses mesmos focos, fosse comprometida”, observa ela.

Sete casos positivos internados

UPA do Segundo Distrito, porta de entrada para pessoas suspeitas de contaminação por Covid-19 Foto: Odair Leal/Secom

Pelo menos sete pessoas seguem internadas com Covid-19, sendo quatro delas inspirando cuidados especiais no Pronto-Socorro de Rio Branco e outras três em outras unidades hospitalares, neste momento.

Conforme o secretário de Estado de Saúde do Acre, Alysson Bestene, a UPA do Segundo Distrito “sempre será a porta de entrada para casos moderados”, enquanto que ao Pronto-Socorro cabe a internação na UTI Covid, no 5º andar do Pronto-Socorro.