Projeto Cidadão realiza 8,5 mil atendimentos ao longo da BR-364 e atende na cidade de Cruzeiro do Sul por três dias. Ação encerra no domingo, com casamento coletivo na Expoacre Juruá
Maria da Glória da Silva, 32, vive com Valdir Almeida Guimarães, 35, há 20 anos. Agricultores, ele moram no Seringal Natal. Enfrentaram uma viagem de dois dias e meio de barco para chegarem à Cruzeiro do Sul e realizarem o pedido dos sete filhos, o de se casarem oficialmente. Conseguiram diminuir as dificuldades, burocrática e financeira, graças ao Projeto Cidadão. Ficaram sabendo através de amigos que a Caravana da Cidadania estava percorrendo a BR-364 e começaria o atendimento nesta quinta-feira, 28, na cidade. Não perderam tempo e programaram a viagem para estarem na escola Flodoardo Cabral, onde estão sendo realizados os atendimentos, logo no primeiro dia de ação.
Com sorriso acanhado, Valdir até gagueja no momento de repassar os dados pessoais, mas é Maria que fala com firmeza e comenta que no município de Porto Walter, onde fica localizado o seringal em que mora, pouca gente da zona rural procura o cartório para casar, por isso, só fazem "se juntar". O casal é apenas mais um exemplo de muitas outras pessoas que não tem esse, e outros documentos. Muitos, teoricamente, nem existem, pois nem registro de nascimento possuem. E são em oportunidades que acontecem anualmente com a Caravana da Cidadania, que eles passam a exercer o direito garantido pela Constituição.
O Projeto Cidadão é uma iniciativa do Tribunal de Justiça, mas como afirma a técnica, Alessandra Araújo, são os parceiros que garantem sua existência. "Os parceiros são a alma desse projeto. Eles se dispõem a viajar e atender essas pessoas que só agora passam a ser brasileiros, exercendo o seu direito de cidadão", diz.
Em sua quarta edição, ele conta com a parceria do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Segurança Pública, Deracre, Iteracre, e também do Ministério do Trabalho, Caixa Econômica, Exército, INSS. São oferecidos serviços de expedição de Carteiras de Identidade e de Trabalho, CPF, Certidões de Nascimento e Casamento. Também são realizados atendimentos odontólogicos, consultas médicas, palestras sobre direitos humanos, informações sobre o Bolsa Escola, atendimento do INSS.
Durante a viagem deste ano, a Caravana da Cidadania percorreu a BR-364, realizando atendimento de Sena Madureira à Cruzeiro do Sul durante 14 dias. Foram feitos 8,5 mil atendimentos, sendo 5 mil só em expedição de documentos. A equipe começou o trabalho na cidade nesta quinta-feira e encerra no sábado, 30. No domingo, acontece o casamento coletivo na Expoacre Juruá. Até agora, 200 casais estão inscritos. Ano passado, foram 335 casais. Alessandra acredita que o número de participantes deste ano deve ser semelhante ou maior ao ano passado.
Cidadadania – Para quem participa pela primeira vez da Caravana da Cidadania, a experiência é marcante. Flaviano Caruta, 41, é da Secretaria de Segurança Pública e comenta que está sendo muito gratificantes realizar o trabalho. "É uma experiência boa e inesquecível, porque são pessoas que realmente precisam desse projeto", diz. O colega, Tenison Almeida, 39, que já participou de outras caravanas, ressalta que este ano o foco de atendimento também foram as comunidades indígenas. "Um carro transportou os índios Katukinas até o Seringal Liberdade durante todo um dia para que fizessemos o atendimento à eles".
Alessandra diz que a maior experiência aos profissionais que participam da Caravana, é que eles exercem além da função de servidor, o papel de cidadão, realizando uma ação social à pessoas que realmente precisam e são imensamente gratas pela iniciativa. "Se não fossemos até eles, não imagino quando que eles teriam oportunidade de ter tais benefícios, que são direitos. É uma alegria muito grande prestar esse atendimento".
Cidadãos – A Caravana da Cidadania já é esperada com ansiedade pela população do Vale do Juruá. O pedreiro Elizeu Patrício, 51, diz que há três anos utiliza os serviços prestados pelo projeto. Este ano resolveu levar até a escola Flodoardo Cabral, as filhas, Maria Madalena, 14, e Marta Ferreira, 12. Elas vão retirar pela primeira vez o CPF. "Eu fiquei sabendo da caravana pela televisão, decidi vim logo no primeiro dia porque fica mais fácil. Eu sempre venho no projeto porque é gratuito e rápido", diz.
O jovem Joelison Ramos, 17, trabalha como peão e pela primeira vez tem suas Carteiras de Identidade e de Trabalho. Ouviu no rádio que poderia ter o documento de graça e bem rápido, através do projeto. Também optou em ir cedo à escola. Lá mesmo retirou a cópia da Certidão de Nascimento e a foto para a os novos documentos. "Eu achava difícil tirar documento, mas aqui é fácil. A gente se sente mais gente", diz.
Todos os anos a procura pelo Projeto Cidadão é grande. Otimista, Alessandra diz que a iniciativa vêm cumprindo sua função, mas será ainda melhor quando a procura for pequena, e o motivo ser o fato de muitos já terem seus documentos.