Valdir Miguel dos Santos, agricultor de Capixaba, passou por uma tragédia familiar no fim de 2015, ao perder o filho em um acidente. Mas a vontade de fazer o bem foi maior que o sofrimento, e ele e a esposa decidiram doar os rins, o fígado e as córneas do rapaz.
“Eu já sabia que era desejo do meu filho ser um doador, porque ele era um menino muito bom e gostava de ajudar o próximo. Não pensei duas vezes e autorizei a doação. Foram cinco vidas ajudadas por uma única doação”, disse Santos, emocionado.
Já Silvania Pinto teve nova oportunidade ao receber um rim, há pouco mais de cinco anos. Durante quase 11 anos, Silvania teve que se submeter a sessões de hemodiálise.
Agora, ela só tem a comemorar: “Eu não conheço a família que fez a doação, mas sei que a pessoa manifestava o desejo de ser doador, e hoje eu agradeço a Deus por essa família ter acatado ao desejo do ente querido e ter me dado a oportunidade de viver um pouco mais. Hoje, minha vida é diferente, mesmo com as limitações”.
Mas nem sempre as histórias terminam bem. No Acre, sete em cada 10 famílias se recusam a doar os órgãos de seus entes falecidos, segundo informações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (Abto). É um número bastante elevado, levando-se em consideração a média nacional de recusa, que é de 44%.
Doe Vida
Visando desmistificar os mitos e preconceitos que ainda existem em torno da doação de órgãos, aumentando, consequentemente, o número de doações, a Central de Transplantes do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Acre (Fecomércio/AC) deu início nesta sexta-feira-feira, 20, a uma campanha de doação de órgãos. O lançamento foi no auditório da federação, pela manhã.
Participaram do evento a vice-governadora Nazareth Araújo, o secretário de Estado de Saúde Gemil de Abreu Junior, diretores e representantes da rede Fecomércio do estado e da Região Norte, além de familiares de doadores e transplantados.
“Doar órgãos é doar vida. Saber que um órgão foi doado e que alguém está vivo por causa disso é imensamente gratificante”, disse o secretário Gemil de Abreu Junior.
Ao longo do ano, as equipes da Central e da Organização de Procura por Órgãos (OPO) realizarão uma extensa programação em toda a rede Fecomércio, com palestras e cursos para falar da importância para a sociedade de se tornar um doador de órgãos, explicou a coordenadora da Central de Transplantes, Regiane Ferrari.
Segundo o presidente da Fecomércio, Leandro Domingos, serão realizadas ações de conscientização dentro das escolas do Sesc e Senac e também nas escolas e universidades públicas e particulares de Rio Branco.
Transplantes no Acre
Nos últimos 10 anos, foram realizados no Acre 252 transplantes, sendo 166 de córneas, 76 de rim e 10 de fígado. Atualmente, cerca de 50 pessoas aguardam na fila de espera por um rim, fígado ou córnea.
Em 2015, o estado atingiu um número recorde de transplantes de rim. Foram efetivados 16 procedimentos. Em compensação, este ano nenhum transplante foi feito, pois a recusa das famílias foi de quase 100%.
“Há uma necessidade muito grande de mudar a forma de pensar da população com relação à doação de órgãos”, avalia Regiane Ferrari, coordenadora da Central de Transplantes.
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