Câmara escura é “luz” para servidores com deficiência visual do HC

O auxiliar de radiologia Sebastião de Souza encontrou na função oportunidade de trabalho (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)
O auxiliar de radiologia Sebastião de Souza encontrou na função oportunidade de trabalho (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)

“Trabalho aqui há 24 anos, mas nunca me senti discriminado, nunca disseram para mim que eu não era capaz”, conta Sebastião Henrique de Souza, 67, um dos dois servidores do Hospital das Clínicas (HC) de Rio Branco que possuem deficiência visual. A câmara escura, sala de revelação de exames de raios-X, tem sido o local de trabalho desses funcionários desde 1991.

Souza ficou cego aos 18 anos em um acidente de trabalho. Ele relata que encontrou na função de auxiliar de radiologia um escape para a angustia de ficar sem trabalhar. “Eu quis me desesperar logo que fiquei cego, mas alguns programas do governo da época buscavam capacitar pessoas com deficiência para o trabalho, foi quando fiz o treinamento para trabalhar na radiologia do hospital, aprendi e estou aqui até hoje”.

Revelar o filme, limpar o chassi, organizar o espaço e outras tarefas são algumas das atribuições destes profissionais. Este serviço tem que ser realizado na mais completa escuridão, pois a revelação de filmes necessita de ausência total de luz.

Segundo o responsável pela Radiologia do HC, James Paula de Oliveira, o hospital é a única unidade de saúde do Acre que trabalha com deficientes visuais em câmaras escuras. “Talvez para uma pessoa que enxergue seja mais difícil se adaptar ao serviço”, pondera Oliveira.

“Eu sou feliz porque todos gostam de mim e me respeitam, sou um profissional valorizado”, conta Francisco Rodrigues (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)
“Eu sou feliz porque todos gostam de mim e me respeitam, sou um profissional valorizado”, conta Francisco Rodrigues (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)

Francisco Rodrigues, 51, perdeu a visão na adolescência e, como Sebastião, teve a oportunidade de trabalhar e ter uma vida produtiva. “Eu ando para todo lugar, não dependo de ninguém. Ao longo desses 24 anos, acostumei-me com o hospital, com as pessoas, e sou feliz porque todos gostam de mim e me respeitam, sou um profissional valorizado”, relata o auxiliar de radiologia.