Cadeia produtiva do leite se consolida no Acre

Com apoio do Governo do Estado, produtores apostam em tecnologia e regularidade de mercado para crescimento da produção de leite

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Foto: Luciano Pontes

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Otimismo dos produtores e acesso às políticas públicas melhoram os índices do setor. (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Gerson Ney Benício é produtor rural em Feijó. Welliton Carneiro e José Afonso de Morais são de Rio Branco e também são criadores de gado leiteiro. E o que eles têm em comum? Apostaram na regularidade de mercado e nas possibilidades de acesso ao crédito, e, com apoio do Governo do Estado, investiram no crescimento da produção de leite do Estado.

Os dados revelam o desenvolvimento do setor. Os números do IBGE mostram que a produção diária no Acre é de mais de 60 mil litros. Os principais polos produtores estão distribuídos em Rio Branco, Acrelândia, Plácido de Castro, Senador Guiomard, Bujari, e mais recentemente em Feijó. O Programa Pró-Florestania permitiu o repasse de R$ 1.900.000,00 para o setor. Este recurso está sendo investido na compra de equipamentos, como tanques de resfriamento e ordenhadeiras mecânicas.

Para o produtor José Afonso de Morais, o papel do Governo do Estado é fundamental no processo de consolidação da cadeia produtiva do leite. “O incentivo do Governo, desde a assistência técnica às indicações das linhas de crédito têm auxiliado o crescimento da produção de leite”. José é um dos produtores que usou os recursos do Pronaf para comprar mais cabeças de gado e também equipamentos que garantissem a qualidade do produto como ordenhadeiras mecânicas e tanques de resfriamento.

Há mais de seis meses, ele deixou de realizar a retirada do leite de forma artesanal e iniciou a mudança. José destaca os benefícios alcançados com a transformação. “Já percebi que o leite tem mais qualidade, o ambiente é mais higienizado. E além de ser mais confortável para os animais, é mais rentável e reduz consideravelmente os gastos com mão de obra”.

A estruturação da cadeia produtiva, que vai desde os processos de melhoria genética, às mudanças na área de manejo de pastagem, novos procedimentos de retirada do leite, maior acesso às linhas de crédito, transporte e venda do produto, irá beneficiar diretamente mais 30 associações produtoras e 550 famílias.

Os técnicos das Secretarias de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e de Agropecuária (Seap) são os responsáveis pela elaboração dos projetos que são apresentados às instituições financeiras para a adesão aos programas de crédito. Depois de aprovado o financiamento, os técnicos acompanham os investimentos e prestam assistência técnica aos produtores.

Investimentos públicos e privados impulsionam cadeia produtiva do leite

Os benefícios da reestrutução das atividades também são apontados pelo produtor familiar Gerson Ney Benício. Morador do quilômetro 3 da BR 364, depois de ter acesso ao programa de crédito do governo federal, investiu na infraestrutura da propriedade. O espaço destinado a ordenha do rebanho foi totalmente remodelado, o que possibilita a maior higienização do leite que é extraído.

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De acordo com o produtor Gerson, o asfaltamento da BR 364 tem impulsionado o crescimento dos investimentos. “O asfaltamento facilita o transporte do gado, já estamos preparando toda a estrutura, na expectativa de aumentar ainda mais nossa renda com a abertura definitiva da estrada”.

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Os recursos foram utilizados ainda na compra de mais cabeças, ordenhadeiras mecânicas e na construção de um ambiente para produção de queijo. Este local, em especial, tem chamado a atenção do patriarca da família Benício, com 74 anos, que já produz queijo há algumas décadas. Ele fala com entusiasmo da produção industrial que será iniciada. “Ainda tenho que me acostumar com as novas tecnologias, mas sei que as mudanças são para melhorar não só o queijo que a gente produz, mas também nossa vida que depende da produção”.

{xtypo_quote_right}O asfaltamento facilita o transporte do gado, já estamos preparando toda a estrutura, na expectativa de aumentar ainda mais nossa renda com a abertura definitiva da estrada{/xtypo_quote_right}Os investimentos dos produtores no aumento da produção de leite em Feijó motivaram a ampliação das instalações do Laticínio Nutril. De acordo com o empresário Cley Clemente, no período de safra 35 produtores entregam diariamente dois mil litros de leite no laticínio. Ele conta também que está investindo na compra de novos equipamentos e na construção de uma sala para vender os produtos, e outra para produzir queijo.

“Estamos investindo para conseguir absorver a produção que vem aumentando gradativamente”, destacou ele. Além do leite pasteurizado, ainda são fabricados a manteiga, queijo coalho, mussarela e iogurte. Os itens são comercializados em Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul. “Contamos também com a melhoria na estrada para ampliar nossa cobertura de entrega. A demanda é grande, e os investimentos necessários para atender o mercado”.

Novas tecnologias e acesso ao crédito prometem aumentar rentabilidade do negócio para produtores

O Governo do Estado, em parceria com os produtores rurais, tem investido na compra de ordenhadeiras mecânicas e também em tanques de resfriamento. Mais de 40 tanques já foram licitados e estão em processo de implantação nas comunidades rurais, enquanto as ordenhadeiras mecânicas são distribuídas pelo poder público e adquiridas pelos produtores.

 

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Governo e produtores investem na aquisição de tanques de resfriamento (Foto:Gleilson Miranda/Secom)

 

Estas medidas irão proporcionar o aumento da produção de até 40%, já que os produtores poderão fazer duas ordenhas; a facilidade no transporte do leite, pelo produto estar resfriado, e também garante mais qualidade para os consumidores.

O Ministério da Agricultura publicou normativa que prevê as condições de armazenamento e transporte e da qualidade do produto final, e para atender esta legislação e consolidar a cadeia produtiva do leite, o Governo do Estado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, tem ofertado cursos explicativos que antecederam a instalação dos tanques de resfriamento.

Com a instalação dos tanques de resfriamento, a proposta é acabar com o tempo em que o produto fica exposto ao calor à espera dos caminhões e possa chegar aos laticínios com mais qualidade. Assim, o leite será coletado no prazo de 48 horas, o produto será refrigerado e mantido a uma temperatura de 4° graus e transportados em caminhões isotérmicos de aço inox que agem como uma garrafa técnica mantendo a temperatura.

As vantagens dos tanques de resfriamento são apontadas pelo diretor da Cooperativa dos Agricultores e Pecuaristas da Regional do Baixo Acre (Coopel) Ezequiel de Oliveira. Segundo ele, além dos tanques comprados pelo governo, os próprios produtores estão apostando no investimento e adquirindo tanques.

{xtypo_quote}As mudanças são para melhor. Em poucos meses a quantidade de leite resfriado era de dois mil litros e saltou para seis mil litros dia. Também é interessante ressaltar que com o resfriamento do leite, diminui o desperdício do produto que era descartado no ato de entrega do leite, o preço pago pelo litro também aumentou.

Ezequiel de Oliveira{/xtypo_quote}

Melhoramento genético

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Melhoria genética garante aumento da produção e qualidade dos animais (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O Acre foi o primeiro estado da região Norte a ser inserido no Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), e a partir da assinatura do protocolo de intenções firmado entre Governo do Estado, Embrapa Acre e de Gado de Leite e a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro, 70 produtores acreanos foram selecionados para receber gratuitamente o sêmen dos touros em prova para realização dos testes de Progênie.

Mauro Ribeiro, secretário de Agropecuária do Acre, acredita que a inserção no Estado no PNMGL é mais um passo para a evolução genética do rebanho acreano, no sentido de ampliar a produtividade. “Por meio do Programa de Melhoramento Genético, o Estado pode quintuplicar a produção”.

Para o produtor Welliton Carneiro, que já inseminou quatro bezerros, os ganhos são certos com as melhorias tanto genéticas quanto as novas tecnologias. “Estou satisfeito com meu trabalho, a tendência é melhorar cada vez mais. A renda que tenho hoje, nem se compara com a de anos atrás, meu ganho é total”.

Fechando a cadeia

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Em breve a indústria será instalada em Rio Branco, com investimentos de R$ 20 milhões (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A Indústria de Leite longa Vida Shefa terá investido cerca de R$ 20 milhões quando a empresa Latícinios da Amazônia estiver em plena operação. O Programa de Promoção de Negócios, iniciativa do Governo do Estado, investe R$ 1 milhão no projeto. A expectativa é de processar 200 mil litros de leite ao dia (numa primeira fase serão 50 mil litros/dia) envolvendo de cerca quatro mil produtores. O empreendimento, que vai gerar 120 empregos, está sendo construído no Novo Distrito Industrial. A previsão é que as operações comecem em dezembro próximo.

O secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Nilton Cosson, acredita que com a modernização da bacia leiteira no Acre, que inclui a ampliação da capacidade de produção, otimização das áreas recuperadas, uso de novas tecnologias, os investimentos públicos e privados, a produção de leite pode se tornar mais rentável aos produtores e atuar como produtos principais nas unidades produtivas. “Estamos construindo a cadeia produtiva do leite a partir de conceitos ambientalmente corretos, novas áreas não sendo incorporadas, mas sim as áreas alteradas estão sendo reincorporadas, este é o grande diferencial”.

 

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