Brava Gente – Elaís Eluan, uma mulher que respira arte

(Foto: Arison Jardim/Secom)
Elaís estudou piano na infância e as teclas são suas companheiras até hoje (Foto: Arison Jardim/Secom)

Ao entrar na chácara da família Eluan, o visitante é acolhido por um cenário ultrabucólico: estradinha, árvores, arbustos, casinhas de madeira pintadas, flores, patos, o cacarejar das galinhas e muitos carneirinhos berrantes. Entorno harmonioso e doce, parece que tudo ali serve de inspiração para a matriarca Elaís, multifacetada artista acreana.

Desde o seu estúdio, onde emprega suas horas, as notas escapam do teclado e vêm compor com os barulhos do dia. Cercado de telas transparentes, o ambiente é arejado e tem vista privilegiada para o exterior, todo-verde.

O ateliê é dominado pela cor. Flores, mandalas, paisagens, borboletas e outros animais saltam da paleta do seu imaginário e, em tonalidades intensas, ocupam os inúmeros suportes que ela lhes dá: papéis, panos, isopores, madeiras, telas. Ali tudo é digno de receber arte.

(Foto: Arquivo pessoal)
Elaís com o maestro Sandoval dos Anjos (Foto: Arquivo pessoal)

Os materiais de uso são cuidadosamente acomodados em caixas decoradas com capricho e criatividade. Livros de referências, tintas, miçangas, contas e fitas preparados para o ofício e o entretenimento da artista.

A própria Elaís é uma composição bonita: aos 96 anos, conserva traços belos e altivos, sem dispensar o batom e o esmalte vermelhos. Nas peças do vestuário, conversam combinações e contrastes. E seus olhos brilham com vivacidade.

Enquanto isso, do teclado vão emergindo tangos e forrós, canções populares e peças clássicas. Seus dedos dançam, graciosos, sobre as teclas, e visitam todos os estilos. Que Elaís aprendeu piano e balé na infância. E sabe tocar acordeão também. Aos onze anos, foi enviada para o Colégio Santa Doroteia, em Manaus, internato onde permaneceu durante uma década. Ali teve, entre outras, aulas de pintura, desenho, caligrafia e bordado. Ainda, na capital amazonense, aprendeu contabilidade e desenho arquitetônico.

Além de desenho cartográfico, o que lhe foi muito útil quando retornou ao Acre e recebeu a missão de confeccionar o primeiro mapa do estado. Em Xapuri, foi coordenadora do Instituto Divina Providência e presidente da LBA. Na capital, diretora e professora do tradicionalíssimo Colégio Acreano.

Como educadora, guarda princípios firmes e respeitosos: “Meus pais não gritavam comigo e eu nunca disse para um aluno calar a boca. Acho isso feio. Quando um aluno perturbava a aula, eu simplesmente silenciava e, com calma e educação, ficava olhando para ele, até que percebesse a situação que estava causando”, relata. E continua: “Ninguém merece nota zero. Se o aproveitamento está ruim, é preciso questionar a didática e o que está acontecendo com aquele estudante. Os problemas de família atrapalham muito”, ensina.

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A memória, a música e as artes plásticas permeiam o ateliê de dona Elaís (Foto: Arison Jardim/Secom)

Tão cheia de atribuições, casou-se aos 26 anos – “Não tive pressa”. Deu à luz três filhos e uma filha, hoje é avó e bisavó. “Minhas netas e minha nora são muito atenciosas, trazem lanches, remédios e tudo o que eu preciso. E meus netos são carinhosos, quando menos espero encontro um bilhetinho em minhas coisas: ‘Vó, eu te amo’. Todos me tratam muito bem e prepararam este espaço para mim”. De fato, o grande trunfo de dona Elaís, hoje, é uma família atenta às suas necessidades e bem-estar.

O Estado também reverencia a sua contribuição e, em 2011, entregou-lhe a Ordem do Mérito Cultural Acreano. Assim, do alto de uma vida plena de dedicação, alegrias e realizações, ela conquistou o direito de experimentar a velhice respirando arte.

Detalhes poéticos não faltam em sua história. Dona de um olhar tão lúdico para a existência, a vida resolveu presenteá-la e fazer do seu próprio nome um poema cheio de sonoridade: Elaís Meira Eluan! Porque artista tem nome.

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