Com extensão territorial de 164 mil quilômetros quadrados, 22 municípios e uma população estimada em cerca de 780 mil habitantes, o Acre, geograficamente, possui singularidades próprias. Por um capricho da natureza, as duas principais regiões do Estado não mantêm comunicação hidrográfica.
Os rios Acre e Juruá até que têm muito em comum – nascem no Peru, cortam o mesmo território e desembocam em um mesmo Estado, o Amazonas. O Acre é tributário do Purus, ao passo que o Juruá deposita suas águas barrentas no Solimões.
Apesar de muito importantes na vida da população que vive em suas bacias, não existe, em nenhum deles, o sentido de integração do território acreano. Nossos rios correm paralelos, cortando o Acre em sentido transversal.
O papel de integrar o Estado, tirando o Vale do Juruá do isolamento e do atraso econômico e social, foi dado a BR-364, rodovia federal que nasce na cidade de Limeira, no Estado de São Paulo.
Em 2 de fevereiro de 1960, em meio a uma reunião com os governadores dos estados do Norte, o presidente Juscelino Kubitschek decidiu construir a então BR 364, ligando Cuiabá a Porto Velho e Rio Branco, abrindo o Oeste brasileiro – trecho que só foi asfaltado em 1983.
A etapa dentro do Acre, iniciada na gestão do governador Orleir Cameli, teve impulso maior durante os governos de Jorge Viana e Binho Marques. Na atual gestão de Tião Viana, a rodovia federal se consolida, passando efetivamente a condição de elemento de integração econômica e social do estado.
Após três anos de tráfego ininterrupto no trecho entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, com todas as pontes sobre rios e igarapés construídas, a rodovia federal faz a diferença no extremo ocidental do país. Desde o ano de 2011, quando o governador Tião Viana decidiu que a mesma não fecharia mais durante o inverno, a vida de quem habita o Vale do Juruá mudou. E mudou para melhor!
Os impactos positivos ocorreram na economia, com a queda dos preços, sobretudo de produtos perecíveis, com consequente mudança no hábito de consumo das famílias mais carentes, como conta a dona de casa Márcia Lima: “Entre as mudanças em nosso modo de vida está a redução no preço das botijas de gás, dos alimentos da cesta básica e uma maior oferta de frutas, aves e verduras fresquinhas”.
No campo social, há maior possibilidade de interação entre as populações das diversas microrregiões do estado e do país como um todo – com o transporte coletivo rodoviário intermunicipal e passagens mais baratas que a aérea. Segundo o aposentado Edmundo Negreiros, a construção da BR-364 é um sonho realizado e “é uma pena que a conquista veio quando estou numa idade tão avançada. Mas favorece a população cruzeirense carente que não tem condições de pagar passagens aéreas. Os meus agradecimentos ao governo Tião Viana, que nos integrou ao restante do Acre”, salientou.
De acordo com o taxista Erisson de Oliveira Lima, com o transporte rodoviário, os motoristas de taxi passaram a contar com mais uma clientela – aquela que embarca e desembarca na rodoviária, até mesmo com as pessoas que precisam ir com mais urgência para a capital, no atraso das viagens.
Quem viaja muito tem notado uma mudança no aeroporto. Ele está menos movimentado. Cruzeirenses estão trocando o avião pelo transporte rodoviário coletivo ou particular e novas empresas de ônibus estão chegando ao mercado. O resultado é que ficou mais barato viajar para a capital e outras cidades brasileiras, até mesmo para países vizinhos.
Francisco Castro de Souza, sócio proprietário da agência de passagens aéreas Evastur Turismo, comenta que a abertura da BR-364, diminuiu o fluxo de passageiros no trecho CZS/Rio Branco: “A tarifa de passagens é alta, então as pessoas preferem se deslocar para a capital nos ônibus, ou em seu próprio veículo, causando a diminuição do fluxo de passageiros nesse trecho”, retrucou.
Comerciantes que transportavam, por meio de balsas frigoríficas, produtos perecíveis, de Manaus a Cruzeiro do Sul, em grandes quantidades no final de cada inverno, praticamente abandonaram esse modal, fazendo uso quase exclusivamente do rodoviário.
Para o empresário Marcos Vinícius de Souza, que atuou durante seis anos à frente da Associação Comercial, a obra é a libertação do povo e dos empresários do Vale do Juruá.
Para garantir a trafegabilidade durante o ano todo, o Departamento de Rodagens do Acre (Deracre) ainda trabalha na recuperação dos trechos que apresentam problemas e necessitam de reparos.
Segundo o gerente regional do Deracre, Josinaldo Batista Ferreira, os trabalhos não param até a recuperação total da BR. “Mesmo no inverno, teremos equipes atuando nos trechos. São equipes que trabalham na manutenção da rodovia com reparo de buracos e bueiros, permitindo o acesso e segurança das pessoas que trafegam na estrada”, afirma.
Para evitar que o alto fluxo de cargas cause danos à pista, o governador Tião Viana determinou que houvesse uma regulação no limite de carga máxima permitida. No segundo semestre de 2012, a determinação voltou a ser válida no início do período de chuvas. “O órgão autoriza apenas veículos com peso bruto de até nove toneladas trafegando na via, também é permitido o tráfego de caminhões com cargas de até 400 botijas de gás, caminhões que transportes entre 10 mil litros e 12 mil litros de combustível e os ônibus estão liberados”, detalhou Josinaldo.
Em extensão, o sonho tem 642 quilômetros, com mais de 40 anos de espera. Os investimentos chegam a mais de R$1 bilhão – recursos provenientes do governo federal/DNIT e governo do Acre.