Ceja leva o nome de Hélio Koury, educador pioneiro no ensino de jovens e adultos no Acre
O governador Binho Marques inaugurou nesta sexta-feira, 20, a sede definitiva do Centro de Educação de Jovens e Adultos Hélio Koury, na avenida Epaminondas Jácome, em Rio Branco. O antigo prédio do arquivo geral do Estado foi recuperado e revitalizado, passando a abrigar os departamentos de administração do Ceja, a biblioteca, sala de multimeios, sala para portadores de necessidades especiais. Em anexo foi construído o pavilhão com nove salas de aula. Estiveram presentes o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim; a secretária de Estado da Educação, Maria Corrêa, familiares de Hélio Koury, gestores e educadores, como Iris Célia Cabanellas Zanini, presidente do Conselho Estadual de Educação e seu esposo, Nilo Zanini, e Moacyr Fecury, secretário de Educação de Rio Branco.
O Ceja funcionou durante vários anos em um prédio na avenida Getúlio Vargas e agora, está em um espaço muito mais amplo e moderno, com sala de informática com 16 computadores, espaço multimeios, banheiros adaptados para deficientes, estacionamento, cantina, almoxarifado e ambiente para os professores. Entre reforma, ampliação e aquisição de equipamentos e mobiliários foram investidos cerca de R$ 1,5 milhão no projeto. O anexo das salas possui três pavimentos. Nos andares superiores a vista é uma das mais privilegiadas da capital: das salas, alunos e professores podem contemplar o rio Acre e espaços históricos, como o Calçadão da Gameleira, onde nasceu a cidade.
O Ceja tem como finalidade atender as demandas de escolarização de pessoas que não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos na idade adequada. Hoje, além da modalidade, o centro engloba também a Coordenação de Exames Especiais, que oferece exames supletivos para aferição de conhecimentos e habilidades, com o objetivo de certificar a escolarização total ou parcial, no ensino fundamental ou médio.
Funcionando em três turnos, o Centro de Educação de Jovens e Adultos Hélio Koury atende cerca de 1.330 alunos por etapa. A escola também mantém o Programa de Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos (Proeja) no qual os alunos cursam o Ensino Profissionalizante paralelo à escolarização e onde atualmente é oferecido o curso de Auxiliar Administrativo para os alunos do Ensino Fundamental. Desde sua inauguração até hoje, cerca de 25 mil alunos já passaram pelo Ceja concluindo o ensino fundamental ou médio, recuperando assim, seus espaços na vida e no mercado de trabalho. Quando Hélio Koury começou seu trabalho de alfabetização de jovens e adultos, na década de 1960, ensinou várias pessoas a ler e escrever sempre com pensamento cidadão e inclusivo. Para isso, Koury utiliza a metodologia pregada por Paulo Freire. "A educação de jovens e adultos foi o ideal que Hélio sempre perseguiu", disse Iris Célia Cabanellas.
A coordenadora de educação de jovens e adultos da SEE, Fernanda Maria, lembrou que essas ações fazem parte de uma política pública e têm em seu âmbito conquistas recentes como a introdução da merenda e transporte. Fernanda citou o Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Acre (ProAcre), que dotou o sistema de novos formatos de ensino, como o semi-presencial e à distância.
Para Binho Marques, o Governo do Estado tem uma grande dívida com Hélio Koury e nada mais justo e adequado do que ter denominado o Ceja com o nome do educador falecido recentemente. "Temos de compensar, retribuir tudo o que ele fez por nós acreanos", disse o governador. As novas instalações do Ceja, que possui equipe comprometida com a educação de qualidade, fazem do local algo muito especial. "Este prédio foi feito com muito carinho. Isto aqui faz parte de um sistema", completou Binho Marques.
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Francisco Alves Barros é deficiente visual e devido à necessidade de trabalhar para sobreviver, somente agora, aos 46 anos, retomou os estudos. Ele cursa o ensino médio na unidade de recursos para portadores de necessidades especiais do Ceja e quer se tornar especialista na área de política para futuramente candidatar-se a um cargo eletivo. {/xtypo_rounded2}
Angelim destaca luta de Hélio Koury e o Pacto pela Educação
O prefeito Raimundo Angelim destacou o Pacto da Educação, compromisso institucional que promove grandes investimentos no ensino fundamental e médio da capital, como um dos instrumentos que vem melhorando significativamente a educação na capital. Ressaltou também o trabalho de Hélio Koury: "Era um exemplo de homem que sempre lutou pelas boas causas", disse o prefeito. Rio Branco é a única cidade brasileira onde o ensino tem a gestão compartilhada entre Município e Estado. O processo se iniciou envolvendo o município e várias instituições ligadas ao ensino, como o Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinteac) ainda quando Jorge Viana era prefeito de Rio Branco – e foi potencializado a partir de 1º de janeiro de 2005, quando Angelim assumiu a Prefeitura.
A parceria vem dando muito certo e trouxe resultados muito positivos para a capital. Há programas que puseram fim às filas de matrícula na porta das escolas, e o sistema de gestão compartilhada foi apresentado em seminário internacional sobre educação. Sobretudo, entre vários outros exemplos, a capital acreana, que passou a figurar entre as 37 cidades brasileiras de melhor índice de alfabetização.
Entre outras metas, o Pacto Pela Educação garante que toda criança e jovem de 5 e 17 anos esteja na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; aprendizagem adequada à série, e faz com que todo jovem tenha acesso ao ensino médio.
{xtypo_quote}Este prédio não tem significado apenas de estrutura física, mas de um olhar que valoriza o aluno trabalhador, as minorias. |
Ex-aluno dá testemunho emocionante
Hoje na casa dos trinta anos, Rivelino Pereira de Souza só retomou os estudos em 2008, após anos longe da escola. Os motivos de ter se afastado dos bancos escolares são praticamente os mesmos de outros jovens: a necessidade de trabalhar para sobreviver e ajudar no sustento da família sempre é o que fala mais alto. Com apoio de várias pessoas, Rivelino conseguiu matricular-se no Ceja e este ano concluiu o ensino médio, sendo convidado a participar da inauguração das novas instalações do centro e contar uma breve história de sua trajetória como aluno da instituição. "Os alunos de hoje são privilegiados por receberem uma sede como esta", disse Rivelino, que durante o curso não faltou nem um dia.
O esforço rendeu-lhe benefícios: ganhou de um amigo uma bolsa de curso de inglês e foi escolhido representante do Acre no Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (Eneja) cuja última edição foi realizada em Belém (PA). Rivelino agradeceu ao governador, professores e trabalhadores do Ceja, e anunciou seus planos para o futuro: "vou fazer uma faculdade de educação física".
Depois de ouvir esse testemunho, a ex-esposa de Hélio Koury, Nabiha Bestene, disse o exemplo de Rivelino mostra que o esforço do educador valeu a pena. "A luta de Hélio não foi em vão", afirmou.
Um homem à frente de seu tempo
Hélio Koury foi professor de vários trabalhadores acreanos, ensinando não apenas a decifrar códigos, mas formando cidadãos, a partir do pensamento socialista de Karl Marx e das idéias revolucionárias da educação, inspirado na filosofia de Paulo Freire. Essas atividades, em sua maioria, eram realizadas na clandestinidade por um dos maiores comunistas que a história do Acre conheceu.
Nascido em Belém (PA), em 1928, Hélio Koury formou-se em Ciências Políticas na PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro e especializou-se em alfabetização de jovens e adultos pelo método Paulo Freire, aplicado por ele no Acre, na década de 60. Filho de pai libanês e mãe cearense, Hélio foi casado com a professora universitária Nabiha Bestene. Morou boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde subia os morros para expandir os ideais de reforma agrária, mas foi no Acre que desenvolveu grande parte de seu trabalho na educação de jovens e adultos na luta contra a ditadura militar.
Sua longa vida foi marcada pela perseguição política durante o regime que se instalou no país a partir de 1964. Foi acusado de subversão por querer alfabetizar jovens e adultos utilizando o método Paulo Freire, o qual lhe rendeu duas prisões. Certa vez em entrevista dada a um jornalista, ele fez a seguinte declaração: "A minha ideia de riqueza era a do conhecimento, o capital intelectual. Isso me valorizava financeiramente".
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