"Em nome do povo acreano, muito obrigado pela sua vida", agradece governador ao padre que dedicou a vida em favor dos excluídos e em defesa da Amazônia
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 Governador entrega condecoração ao Frei Heitor Maria Turrini (Fotos: Gleilson Miranda/Secom) |
O governador Binho Marques condecorou nesta terça-feira, 6, o frei Heitor Maria Turrini, 84, servo da Ordem de Maria, com a Ordem da Estrela do Acre no grau de Grande Oficial, a mais alta honraria conferida pelo Governo do Acre. Binho e o chanceler da Ordem, Edson Manchini, chefe do Gabinete Civil, afixaram a insígnia. A cerimônia, realizada no gabinete do Governador, contou com as presenças de antigos amigos do frei, como o cientista Foster Brown, da Universidade Federal do Acre, o padre André Ficarelli, e os secretários de Estado Eufran Amaral, do Meio Ambiente, e Anibal Diniz, da Comunicação Social; o assessor do governador, Francisco Carioca, além do superintendente regional do Banco da Amazônia, Marivaldo Lopes, e gestores públicos.
Frei Heitor Turrini viajou para a Itália nesta quarta-feira, 7, retornando à terra natal, Bolonha, de onde saiu há 60 anos para viver no Brasil. O pároco dedicou praticamente toda sua vida em favor dos excluídos e, em cinqüenta anos percorrendo os rios e florestas do Acre, clamou em defesa do meio ambiente e de um modelo de desenvolvimento justo e sustentável. Pela sua conduta ética e moral e a incansável luta por um mundo melhor, frei Heitor recebe o grau de Grande Oficial como promoção ao grau de Comendador, do qual era signatário em condecoração realizada pelo então governador Jorge Viana. "Nada no mundo cobre o que o senhor fez pelo Acre", agradeceu o governador Binho Marques. "O Acre hoje é um bom lugar para se viver porque nós fizemos a nossa parte. Muito obrigado, em nome do povo acreano", disse o governador. O amigo desde os tempos de seminário na Itália, André Ficarelli, falou sobre o frei: "Heitor fez um trabalho maravilhoso. Sempre levou a mensagem de amor e de fé em Cristo".
Frei Heitor despediu-se agradecendo pela homenagem. "Sonho um mundo unido, sonho uma Floresta Amazônica que viva porque ela é fantástica. Sonho um Brasil bonito, um Acre bonito, todos numa só família", disse, bastante emocionado.
{xtypo_rounded2}O secretário de Meio Ambiente, Eufran Amaral, fez leitura de um histórico que relata a trajetória de frei Heitor. Eis o texto na íntegra:
A vida de um homem, assim como uma partitura, não se avalia por uma nota, por um ato, mas pelo seu conjunto, pela sinfonia.
E, o Frei Heitor é um exemplo de uma boa sinfonia na qual cada nota contribuiu para o grande legado em favor da floresta e de seu povo.
Um pouco desta sinfonia:
Frei Heitor Maria Turrini nasceu em 27 de maio de 1926, em Maserno di Montese, Modena, Itália. Chegou ao Brasil em Novembro de 1950 (tinha 24 anos), são 60 anos de dedicação, humildade e serviço em prol dos mais pobres.
Estudou teologia no seminário Arquidiocesano em São Paulo, ajudando na arrecadação de recursos;
Em 1956, cooperou na construção do colégio Nossa Senhora das Dores em Rio Branco – Acre.
De 1957 a 1960 ajudou na construção da Segunda parte da Colônia Santo Antonio Pucci, em S. Jose dos Campos, São Paulo e a Segunda parte do seminário do Turvo, em Santa Catarina
Nesta época, Fez Curso de Piloto,feito em Pirassununga e São José dos Campos (Não conseguia entender a viagem de Boca do Acre a Santa Rosa e levava 13 dias de barco).
Vivia sonhando com o avião para visitar mais vezes o povo dos Rios e ajudar nos transportes nos vários municípios. (Naquela época, no Acre não havia nenhuma outra pequena aeronave).
Em 1959 a 1960 cooperou na construção da Igreja N.S. das Dores em S.Paulo.
Em 1965 conseguiu em campanha na Itália e na Alemanha conseguir um avião novo bimotor Dornier. Mas a fábrica do avião Dornier em Munchen, delicadamente disse, "Frei Heitor, primeiro aprenda alemão e depois falaremos de avião". Desta forma estudou dia e noite por 60 dias e voltou à Fábrica, voltando ao Brasil com o bimotor Dornier.
Nesta época, ajudou na construção do primeiro centro de treinamento pastoral do Acre em Rio Branco – AC e cooperou para a construção do Hospital Santa Juliana
Em 1970 fez a primeira viagem à China Continental. É daquele tempo a primeira visita às Ilhas Filipinas.
Em 1971 serviu um ano com os presos políticos, e no serviço pastoral às moças de vida livre em São Paulo.
Voltou ao Acre, e durante vários meses continuando o serviço e trabalho com o problema da prostituição em Sena Madureira.
1973 à 1983, serviu tanto em Brasiléia, quanto em Sena Madureira.
Em Brasiléia, visitou todas as famílias da paróquia (visita em todo município e do lado da Bolívia). Foram cerca de 22 mil horas a pé na floresta.
De 1977 à 1984, em Sena Madureira, fez desobrigas no Rio Purus e no Rio Caeté.
Em 1980 conseguiu dos Superiores um ano sabático, de repouso,de oração e de estudo. E passou seis meses em Bangladesh estudando a língua (O Bangladesh com a mesma superfície do Acre, enquanto no Acre temos menos de um milhão de pessoas e no Bangladesh temos 138 milhões de pessoas)
Na Universidade Gregoriana de Roma estudando Taoísmo e Islamismo no Instituto Apolinare. (E ainda hoje Heitor entusiasta do Islã sonhando que um dia teremos o encontro religioso entre todos os países do planeta)
Em 1981 conseguiu obter de 600 toneladas de materiais para a construção da Galeria meta para apoiar a autonomia da Diocese e Convento de Rio Branco.
Em 1984 a 1990, serviu na Missão dos Servos de Maria nas Ilhas Filipinas, cooperou na fundação da ordem nas Filipinas;
De 1990 a 1991, serviu em São Paulo cooperando na construção da Creche Nossa Senhora das Dores no Ipiranga.
Em 1992, cooperou na reforma do Instituto Santa Juliana em Sena Madureira.
Em 1993, frei Heitor cooperou em Sena Madureira para a construção da nova Igreja de Cristo Libertador.
Em 1995, fez a campanha SALVE A SELVA com a comunidade OSM de Sena Madureira com o apoio da CNBB e da Diocese de Rio Branco. (Enviando 42 mil assinaturas ao Presidente da República Dr. Fernando Cardoso de Almeida para que fosse anulada a Lei 4.771 que permitia a destruição de 50% por cento da selva Amazônica) – Em 2000 a reserva legal na Amazônia é alterada para 80%
De 2000 a 2004, trabalhou em Sena Madureira e acompanhando as comunidades do município de Manoel Urbano e de Santa Rosa. Nos últimos anos vem realizando visita nas comunidades de ramais e estradas, procurando visitar casa por casa, família por família.
Em novembro de 2001, juntamente com Padre Paolino e colaboradores, cria a Fundação Amigos da Amazônia-FUNAAM, com o objetivo de implantar algumas obras sociais que pudesse colaborar de forma direta com a diminuição da desigualdade social no município de Sena Madureira. E no ano de 2010 doa a Fundação totalmente ao Povo de Sena Madureira, para que a mesma continue seus serviços em defesa da Amazônia, em favor da juventude em especial dos mais pobres.
Entre 2008 e 2009 buscou a impressão em duas línguas de 100 mil livros: A AMAZONIA QUE NÃO CONHECEMOS distribuído no Brasil e na Itália. Nesta campanha, fez um pedido pessoal ao Santo Padre o Papa, ao Presidente Lula e ao Presidente da Itália e ao Governador do Acre para um maior amor e maior justiça em favor da nossa Amazônia.
Devido ao seu trabalho realizado ao longo desses anos já recebeu várias homenagens, entre elas, o DIPLOMA DOCTOR HONORIS CAUSA recebido solenemente pelas mãos do Reitor da Universidade UFAC.
Frei Heitor, os seus sonhos, dedicação e exemplo de uma vida se constituem em fonte de inspiração para os povos da floresta, para Sena Madureira, para o Acre, para o Brasil e para o mundo.
O homem ao amar a Deus estabelece a sua verticalidade. Ao amar o próximo determina a sua horizontalidade. E ao amar a natureza ele integra a sua profundidade.
O senhor, na sua vida, conseguiu integrar esta totalidade, amando a Deus acima de todas as coisas; amando o próximo e em especial aos mais pobres e tendo no amor a Floresta a sua principal bandeira de luta.
Desta forma, finalizando com duas frases suas "Amazônia: todos somos floresta" e " Sim, Um outro mundo é possível" é que fica claro que na sinfonia da sua vida o senhor em muito ajudou numa construção de um mundo melhor, mais justo e sustentável.
Muito Obrigado pela sua Vida.{/xtypo_rounded2}
Carta de despedida do Frei Heitor Turrini
Ordem dos Servos de Maria
ADEUS Sr. Governador e amigos,
ADEUS Irmãos e povo de Sena Madureira e do Brasil.
Esta noite voltarei à Itália, motivos de minha idade, 84 anos e de minha saúde e meus superiores me chamaram.
Agradeço a Deus o presente grande de estar no Brasil por quase 60 anos junto ao Fr. Paolino e ao Fr. André e a Dom Giocondo. Chegamos ao Brasil no mesmo dia, 18 de novembro de 1950, éramos em nove e somos ainda em quatro.
Não sou capaz de agradecer bastante a Deus e a vocês a oportunidade de conhecer um povo grande como o Brasileiro e tantos, tantos amigos como vocês.
Mesmo de longe e muito mais no paraíso estaremos juntos.
Sim, como dizia São Paulo: "Cursum, consumavi, fidem servavi".
Acabei minha caminhada, conservei a fé.
Gostaria de agradecer um por um, num instante gostaria chegar nos rios, nas fazendas, nos seringais, nas colocações e sentados no chão rezar e agradecer com vocês o dom da vida, o dom da Amazônia que tanto amamos, o dom de conhecer tanta gente, especialmente pobres, presos, índios, seringueiros e os mais abandonados.
E peço a vocês um grande favor, continuemos unidos na oração e no serviço, na fé e no entusiasmo.
A vocês de Sena Madureira, de Rio Branco, Xapuri, Boca do Acre, Plácido de Castro, Brasiléia, Manoel Urbano e Santa Rosa, onde nestes 90 anos os Servos de Maria com infinito entusiasmo e fé trabalharam.
Neste momento lembro o Fr. Paolino que com tanto amor atende aos doentes, 5 dias por semana, distribuindo tonelada de remédios grátis com tanto amor, fé, oração e sacrifício.
A vocês, especialmente de Sena, pedimos, repito um grande favor. Cada um se sinta responsável de todas as obras realizadas e a serem realizadas pela vossa boa vontade e pela vossa fé.
Pedimos vosso amor e vosso serviço em favor dos mais pobres, dos que estão em perigo de vida material, social e espiritual.
Pedimos vossa fé total ajudando com o exemplo e com a palavra e lutar contra as divisões e contra qualquer sujeira social, que infelizmente chega aos nossos lares.
Sim, com todas as energias colocamos a vida e todo nosso sangue em nome de Jesus contra qualquer forma de injustiça: pedimos que o governo e o povo encontrem novos caminhos para acabar com a droga, fumo, álcool e gasolina.
Temos a luz do sol com calor fantástico que, com sua energia pode mover todos os motores do mundo numa viagem bonita e silenciosa sem sujar o ar que respiramos. Um dia de sol pode dar energia suficiente para mover todos os motores do mundo por 30 dias.
Pedimos vossa fé total numa fraternidade quotidiana que rompe todo tipo de egoísmo e leva a fraternidade nacional e universal.
Um último favor: todos os que forem convidados a Assembléia da FUNAAM, Fundação Amigos da Amazônia, participem ativamente com conselhos que levem a vivencia fiel dos Estatutos em favor de obras concretas em favor dos objetivos de serviços cada vez mais diretos para a vida da nossa Amazônia, e para maior fraternidade e justiça entre nossas famílias.
Sim, pedindo perdão pelos meus limites e meus defeitos, levando todos vocês em meu coração com todo povo do Acre e do Brasil, prometendo minha oração e comunhão com todos vocês na terra e no céu, unidos a Deus com fé total em Jesus nosso Salvador, unidos ao Espírito de nossa querida mãe Maria, são estes os votos dos Servos e Servas de Maria que celebram 90 anos de serviço no Acre.
Saúdo todos vocês e em nome de nossa comunidade, Fr. Paolino que está em desobriga, Fr. Pedro e Fr. Rodrigo, unidos para sempre com dom Giocondo, Dom Júlio, Dom Moacir e Dom Joaquim.
A todos vocês,
ADEUS!!!
Frei Heitor Turrini
SAÚDO-VOS E VOS ESPERO COMIGO NO CÉU
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