Feira neste ano mostrou a força da produção regional e dos empreendedores do Juruá
A Expoacre Juruá confirmou o sucesso esperado: muitos negócios foram realizados, fortaleceu o intercâmbio com os vizinhos peruanos e a população da região teve quatro dias de lazer e diversão. Empresários cruzeirenses aproveitaram o momento para mostrar seus produtos, e, principalmente, o setor de movelaria conta com uma recuperação do setor daqui para frente.
O empresário Francisco Lima Mesquita, proprietário da indústria Fruta Sid, expôs seus produtos como polpas de frutas, bananas fritas, doces e salgadas na intenção de mostrar aos visitantes o que se produz no Juruá. Ele, já há oito anos, sobrevive com sua pequena indústria e basicamente tinha clientes em Cruzeiro do Sul e cidades próximas, mas agora está apostando em ampliar o mercado consumidor: "Agora, quero ter clientes de fora", disse. Outra empresa cruzeirense que também se dispôs a expor seu produto foi o Frigo Quinder. Seu charque é conhecido na região e agora há o mercado potencial do Peru que está se abrindo e que tem grande interesse por importar carne acreana. Já a empresária Lenira Pontes veio de Rio Branco com o seu ‘Sabão Floresta’. A empresa é nova, tem apenas quatro meses, mas devido ao sucesso que seu produto está fazendo no vale do Acre, Lenira vislumbrou a possibilidade de expandir seu negócio para o Juruá. Ela conta que já fez vários contatos com empresários do ramo de supermercados em Cruzeiro do Sul e está confiante de que vai fechar contratos.
Moveleiros animados
O presidente da Associação dos Madeireiros e Moveleiros de Cruzeiro do Sul, João Evangelista, analisa que a Expoacre foi muito promissora para os moveleiros. Ele disse que, já no ano passado, alguns moveleiros conseguiram encomendas que garantiram trabalho durante todo o ano. "A expectativa para este ano ainda é maior", disse.
Ele destaca o lançamento em Cruzeiro do Sul da nova coleção de móveis elaborados pelo núcleo de design do Polo Moveleiro do Estado do Acre. Composta por várias peças como sofá, mesa, poltrona, cadeira alta, mesa alta, aparador de resíduos, mesa de centro, etc, a coleção passará a ser fabricada também pelos moveleiros de Cruzeiro do Sul.
O moveleiro Raimundo Nonato Couto Aragão, proprietário da Marcenaria Couto, também acredita no potencial de marketing da Expoacre para seus produtos. Ele diz que o mercado para os móveis cruzeirenses é garantido.
Artesanato
A tenda que abrigou o artesanato regional mostrou bem a pujança da arte popular na região do Juruá. Segundo o técnico do setor de artesanato do Sebrae, Aldemar Maciel, 48 artesãos da região do Juruá e do rio Envira expuseram seus produtos, uma infinidade de itens como pulseiras, colares, cordões, arte em madeira,cipó, fibras, sementes, etc.
Destaque para a Associação de Biojoias do Juruá. A Entidade produzia exclusivamente biojoias, mas há algum tempo resolveu diversificar, passando a produzir objetos com cipó e palha e talos de buriti, como conta a presidente Angela Nascimento. E foi o que trouxe para a Exposição. Entre seus potes, baús, bandejas, cadeiras, mesas, tudo feito com cipó e buriti, uma curiosidade: a caçoá – pequena cesta – utilizada originariamente por indígenas que se leva pendurada às costas. Segundo a artesã, Sebastiana Silva dos Santos, na próxima-feira ela vai fazer um ‘remanchim’, que também é uma cesta de cipó que se leva às costas, só que bem maior, e é muito utilizada por seringueiros.
Intercâmbio com o Peru
Foi muito dinâmico durante os quatro dias da Expoacre Juruá o processo de integração com os peruanos de três estados fronteiriços ao Juruá: Ucayali, Ancash e Huanuco. Agora, passada a festa como vai ficar? Segundo o deputado Estadual Edvaldo Magalhães, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, no próximo dia 11 de dezembro uma comitiva de acreanos vai a Pucallpa e depois por terra, juntamente com delegações dos três estados peruanos, até Lima, capital peruana, no momento em que o presidente Lula estará visitando o presidente peruano Alan Garcia.
Na visita, os dois presidentes pactuarão uma série de medidas políticas e administrativas que facilitam o intercâmbio fronteiriço, como, por exemplo, a desoneração aérea. "Hoje se paga 35 dólares por passageiro, só de taxas de embarque em veos internacionais; Se esta região de Ucayali e Cruzeiro do Sul virar uma região de interesse inter-fronteiriço, assim como a região de Porto Maldonado com Rio Branco, essas taxas vão cair para três dólares, portanto a passagem vai ter um preço bastante competitivo para este intercâmbio de passageiros de turismo entre nossas regiões", disse.
Edvaldo cita ainda que um segundo pacto firmado estabelece que haverá um esforço político envolvendo as instituições aduaneiras dos dois países para que se possa retomar a importação de produtos hortifrutigranjeiros a partir da primeira semana de outubro que é justamente quando se calcula que a BR-364 estará fechando, numa tentativa de manter abastecida a região do Juruá aos preços do verão.
Finalmente, ficou acertado entre os dois países um intercâmbio cultural estudantil. Uma delegação de 100 estudantes dos três estados fronteiriços, Ucayali, Ancash e Huanuco, virá Cruzeiro do Sul e irá a Rio Branco no final do ano e ao mesmo tempo uma delegação de 100 estudantes do Ensino Médio da região do Vale do Juruá vai até Pucallpa e dali até Lima, capital peruana.
A feira também tem outras boas novas. No domingo houve assinaturas de três contratos envolvendo negócios entre os dois países. O primeiro, de venda de carne, numa quantidade inicial de 72 toneladas; importação de cinco mil metros cúbicos de brita para as empresas que trabalham na BR-364, com importação via fluvial descendo o rio Ucayali/Solimões e daí subindo o rio Juruá e também a importação de quatromil toneladas de calcário para recuperação de solo.