A Associação de Mulheres pela Paz com o apoio do governo do Estado, por meio da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SEPMulheres), realizou nesta quinta e sexta-feira, 6 e 7, no auditório do Pinheiro Palace Hotel, em Rio Branco, a Oficina Redefinindo Paz que abordou a temática do Tráfico de Pessoas e Violência Sexual. Cerca de 60 profissionais, que atuam diretamente na Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, participaram do evento.
A oficina faz parte de um projeto da Associação de Mulheres pela Paz, que tem o intuito de contribuir na luta pelo enfrentamento da violência contra a mulher que se materializa na violência doméstica e sexual, além do tráfico de mulheres, interferir na implantação e implementação de políticas públicas e aumentar a sensibilidade da mídia e da opinião pública sobre a gravidade dessas questões, como consequência das desigualdades de gênero.
“Somos uma associação não governamental e estamos realizando este projeto em todo o Brasil, principalmente nos estados que fazem fronteiras e estão na lista de rota de tráfico humano. Quando nós entramos em contato com a SEPMulheres, a Concita prontamente nos atendeu e apoiou. É reconfortante chegar aqui e encontrar um Estado que tem uma Secretaria da Mulher funcionando de fato e de direito”, explicou Vera Vieira, diretora executiva da Associação de Mulheres pela Paz.
No Acre, essa temática teve seu inicio em 2008, na gestão do então governador Binho Marques. Na época foi firmada uma parceria entre o Estado do Acre e o governo federal, para a implantação de dois Núcleos Especializados de Enfrentamento ao Tráfico Humano. Cruzeiro do Sul e Brasileia, fronteiras diretas com o Peru e Bolívia, foram os municípios escolhidos para receber sediá-los.
Segundo o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, o tráfico humano é resultado de um processo histórico, vividos pelos países colonizados, que faziam uso de mão-de-obra de pessoas escravizadas. “O tráfico era prática comum. Muitas pessoas eram escravizadas e isso era aceito pela sociedade. Apesar de hoje isso ser crime, ainda é considerado natural para quem o coordena”, disse.
Contudo, discutir políticas públicas de gênero perpassa sobre a necessidade de fazê-las com o recorte de raça, pois segundo o Anuário de Mulheres Brasileiras, no Brasil a pobreza tem cor e sexo, ou seja, ela se caracteriza em mulher e na raça negra. Acredita-se que essa vulnerabilidade socioeconômica torna as mulheres negras mais suscetíveis a violência e ao tráfico.
“A pobreza e a discriminação impulsionam essas mulheres para a busca de uma vida melhor. Infelizmente, boa parte delas acaba caindo nas mãos dos traficantes que se aproveitam de sua humildade e falta de informação para enviá-las a outros países, onde elas serão obrigadas a se prostituir”, ressaltou a secretária-adjunta de Igualdade e Promoção Racial de Rio Branco, Lúcia Ribeiro.
A secretária da SEPMulheres, Concita Maia, considera o evento uma imersão reflexiva. “Estamos tendo o privilégio de nos reapropriarmos dos instrumentos que nos ajudam a fortalecer e implementar políticas públicas. Fomentar o debate sobre o tráfico de mulheres e violência sexual dentro de nós mesmo é uma forma de enfrentarmos esta problemática, todos juntos: sociedade e governo”, enfatizou.
Troca de experiência
Durante os dois dias de Oficina, os participantes puderam trocara experiência de trabalho e ouvir um pouco da trajetória de vidas das cinco participantes internacionais da Indonésia, Suíça e Uruguai.
A ex-freira uruguaia, Beatriz Benzano Seré, e também candidata ao Nobel da Paz 2005, contou que quando resolveu deixar Ordem Dominicana para atuar junto ao Movimento Tupamaros em 1972, foi presa, torturada e confinada por quatro anos. Depois do exílio na França, voltou para ao seu país onde fundou a ONG intitulada Grupo da Madrugada da Nova Paris, que organiza a construção de cooperativas e projetos de trabalho que encorajam as mulheres na criação de pequenos negócios, além de organizar creches para seus filhos.
“Não podemos ser apenas vítimas, ou assistir que outras mulheres se tornem vítimas. É necessário que cada um faça a sua, do jeito que puder. Não concordar com aquilo que nos é imposto e lutar por justiça já são um inicio para a mudança”, disse Beatriz Benzano Seré emocionada.