Assessor Especial dos Povos Indígenas do Acre contesta notícias sobre canibalismo dos índios Kulina

Em nota divulgada nesta quarta-feira, 11, Francisco Pianko afirma que não há comprovação de atos de canibalismo praticado pelos índios Kulina

Em nota divulgada nesta quarta-feira, 11, o Assessor Especial dos Povos Indígenas, Francisco Pianko, falou sobre as recentes matérias publicadas nos veículos de comunicação sobre a suspeita de atos de "canibalismo" praticado pelos índios Kulina da Terra Indígena Cacau.

O representante reafirmou que o caso ainda está sendo invetigado pela Polícia do Amazonas (onde fica localizada a aldeia) e que por enquanto não há comprovações de tal relato. Pianko também fez um alerta para que notícias como essa não promovam situações de preconceito e injustiça contra os povos indígenas da região.

Leia a nota:

GOVERNO DO ESTADO DO ACRE

Assessoria Especial dos Povos Indígenas

Tendo em vista as consultas feitas à Assessoria Especial dos Povos Indígenas a respeito de notícias divulgadas na imprensa local, dando conta de suspeitas de um assassinato e de atos de "canibalismo" praticados por índios Kulina da Terra Indígena Cacau, a Assessoria esclarece que:

1.  Tomou conhecimento das suspeitas acima relacionadas por meio de matérias publicadas em site e jornal impresso nos dias 7/2 e 8/2.

2.  Localizada no Município de Envira, no Estado do Amazonas, a TI Cacau está jurisdicionada à Administração Executiva Regional da FUNAI em Manaus, estando o posto indígena do órgão mais próximo situado na cidade de Eirunepé.

3.  Conforme informam as referidas matérias tratam-se de "suspeitas", que ainda carecem de qualquer confirmação. As investigações sobre o suposto assassinato estão a cargo, por ora, da delegacia de Polícia Militar em Envira e poderão envolver representantes da Administração da FUNAI em Manaus e em Eirunepé e da Polícia Federal.

4.  Não se tem qualquer registro, na mitologia do povo Madijá (como os Kulina se auto-denominam), na sua história recente ou em relatos de viajantes, missionários e antropólogos, a respeito de práticas de canibalismo ou mesmo da consumação ritual dos corpos dos parentes mortos.

5.  Lamenta o tratamento dado ao caso na capa de um jornal local impresso no dia 8/2, na qual a chamada da matéria "Culinas acusados de canibalismo" está ilustrada com o desenho de um ser sobrenatural que dilacera o corpo nu de um humano. Este tratamento, reforçando a imagem dos índios "canibais", "animais selvagens", retoma estereótipos largamente utilizados pelos patrões seringalistas por quase de um século, com intenção de estigmatizar e subjugar os Madijá (e outros povos indígenas). No atual contexto, serve para fomentar sensos-comuns ainda vigentes e abre caminho para a perpetuação de preconceitos infundados a respeito dos povos indígenas em nossa região.

6.  Para informações adicionais a respeito do andamento das investigações, a Assessoria sugere que contatos sejam feitos diretamente com a Administração Executiva Regional da FUNAI em Manaus.

Rio Branco, 11 de Fevereiro de 2009

Assessoria Especial dos Povos Indígenas

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