Asfaltamento do ramal 3 mudou a vida no Projeto Santa Luzia

São 15 km de asfalto que facilitaram o acesso às escolas, ao posto de saúde e possibilitou o escoamento da produção

008.jpg
agricultoras_no_ramal_3_santa_luzia.jpg

Asfaltamento do Ramal 3 melhora condições de vida de agricultores que podem escoar melhor a produção e ter acesso a centro de saúde e escolas (Fotos: Onofre Brito/Secom)

A região do projeto de assentamento Santa Luzia, estabelecido na década de 1980, no município de Cruzeiro do Sul, tem muita história para contar em termos de sofrimento e pobreza, devido ao isolamento. Com o asfaltamento da BR-364, permitindo acesso à sede municipal, as coisas começaram a melhorar, mas ainda assim, em muitos ramais durante o período chuvoso o tráfego de veículos é interrompido, devido à fragilidade do solo. O governo do Estado entendendo a dificuldade de ano após ano recuperar ramais, que duram apenas uma temporada, resolveu investir de forma definitiva nos ramais mais importantes através da construção de pontes, bueiros, piçarramento e até asfaltamento.

Na região o governo está beneficiando trechos críticos em cerca de 4 km no ramal 2, em trechos alternados, em ladeiras ou onde formam formar atoleiros. O ramal do Mineiro – que dá acesso à antiga sede do Incra, onde se localizará a sede do futuro município  – está todo asfaltado, bem como toda a área central da pequena vila. O maior impacto, porém, foi causado na região pelo asfaltamento dos primeiros 15 km do Ramal 3, o maior (52 km) e mais populoso da região a um custo de R$ 7,5 milhões.

O ramal 3 é antes uma estrada vicinal, já que os moradores das linhas 8, 9, 10, 11, 12 e 13, tem acesso à BR-364 por ele, e também se beneficiaram com o asfaltamento, num total de 1,5 mil famílias, aproximadamente quatro mil habitantes. Santa Luzia é grande produtora de grãos, frutas e farinha e o asfaltamento do ramal 3 favoreceu o escoamento da produção. A área educacional também foi grandemente beneficiada, possibilitando mais fácil acesso de professores e alunos às duas escolas do Ramal 3: a Escola de Ensino Fundamental e Médio Humberto de Campos e a Escola de Ensino Fundamental Jáder Machado. O asfaltamento possibilitou também uma maior interação entre as pessoas e comunidades da região, antes quase impossibilitadas ao convívio social.       

Melhora para a agricultura

A agricultora Maria Luciene Souza Rodrigues foi até o posto de saúde municipal em busca de consulta para sua filha. Ela, que planta arroz, feijão e roça, disse que a vida no ramal melhorou muito depois do asfalto, especialmente o escoamento da produção. "Agora sempre tem caminhão, antes era no carro de boi" – disse. Mais uma vantagem é para ela a possibilidade de ir facilmente até onde está o auxílio médico. Maria Luciene mora no ramal há 15 anos e conta que viu muita gente ser retirada doente de rede, para chegar até Cruzeiro do Sul. "Antes do asfalto, já tinha posto – constata – só que não funcionava".    

Uma das famílias mais antigas na região é da senhora Maria Aparecida dos Santos. Ela chegou à região, proveniente do Mato Grosso do Sul, com o marido Paulo (falecido há sete meses) há cerca de 30 anos para trabalhar na agricultura, quando, para chegar ao sítio atual havia apenas uma picada. Hoje, ela com os três filhos e respectivas famílias formam uma laboriosa comunidade, no km 16, produzindo feijão de vários tipos, arroz, mandioca, frutas e amendoim. Dona Maria sabe o que é dificuldade na vida, tendo vivido e presenciado muitos dramas oriundos do isolamento em que viveram por muitos anos. De certa feita foi retirada em rede até a BR-364 de onde uma camioneta do INCRA a conduziu a Cruzeiro do Sul. Muitas vezes ajudou o marido a levar a pouca produção ao mercado de Cruzeiro do Sul, pagando o ‘carreto’ (transporte em carro de boi) até a BR, ajudando a carregar e descarregar sacos de produtos deixando os filhos ainda pequenos sozinhos em casa. Para ela, hoje rodeada dos filhos noras e netos, o asfaltamento significou a libertação e o começo de uma vida melhor. "Agora agradeço a Deus porque estou num berço de ouro pelo que passei em vida".

O filho Antônio é agricultor desde o nascimento. Ele também conheceu os tempos difíceis de isolamento. "Para chegar com nossos produtos era muito complicado e demorado. A gente tirava em carroça na lama, levava até três dias até Cruzeiro do Sul. Hoje a gente chega com a mercadoria no mesmo dia no mercado e no dia seguinte já está de volta". 

ramal_3_santa_luzia.jpg

Santa Luzia é grande produtora de grãos, frutas e farinha e o asfaltamento do ramal 3 favoreceu o escoamento da produção (Foto: Onofre Brito/Secom)

Melhor para a educação

 

professora_tica.jpg

Professora Francisca Moura, Tica, diz que o asfaltamento facilitou a presença dos alunos em sala de aulta (Foto: Onofre Brito/Secom)

Com a chegada do asfalto, ir às aulas ficou bem mais fácil para duas colegas da escola Humberto de Campos, Maria Taline dos Santos Silva e Césia Silva Gomes, alunas da sexta série, que costumam ir andando juntas pelo ramal em direção à Escola Humberto de Campos, em caminhada de cerca de 20 minutos. Maria Taline lembra que, antes, a caminhada era no meio da lama, levava mais tempo e ela ainda chegava suja na escola. Outra vantagem, segundo Césia, é a possibilidade de carona e poder ir também de bicicleta o que acontece muitas vezes.

A professora Maria Soares da Silva trabalha na Escola Humberto de Campos há dez anos. Durante seis anos fez diariamente o percurso de casa até a escola a pé, ida e volta quase duas horas de caminhada, o que fez com que adoecesse, ficando com hipertensão e ainda a fez pegar o que se chama na linguagem popular de ‘esporão de calcanhar’. Agora ela sempre vem de carona com uma colega. Para ela, o asfaltamento melhorou muito a vida dos alunos. "Muitos pais tem motos ou bicicletas e trazem os alunos, o que melhorou a presença em classe" – disse.

Francisca Pereira do Nascimento Moura (Tica) é a mais antiga professora da Escola Humberto de Campos; há 27 anos atua na escola desde quando ela ainda funcionava em parceria entre o INCRA e o Estado. Ela disse que juntamente com os anexos, a Escola atende mais de 300 alunos da região. "Minha história é bonita; sou nordestina e cheguei aqui em 1983. Quando cheguei não tinha asfalto nem na BR. Hoje temos tudo isso, graças a Deus. Hoje o caminhão leva e traz. Se sair de manhã pode voltar de tarde. A educação aqui mudou para melhor; sempre temos visitas de supervisores e professores de fora e o acesso à escola melhorou para professores e alunos. Foi muito difícil para nós, andar a pé na lama para ir à cidade. Algumas vezes a gente tinha que sair às três da madrugada para pegar caminhão na BR. Eu caía na lama me sujava porque eu não tinha costume de andar na lama, hoje, pela bênção de Deus, estamos no asfalto".

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter