Os moradores do Polo Agroflorestal Hélio Pimenta, na Estrada de Porto Acre, passaram por mudanças de impacto no segundo semestre de 2009. As obras de infraestrutura foram concluídas na região, com o asfaltamento e a sinalização, e o acesso à leitura passou a ser fortalecido. Nesse último caso, a responsável é a dona Cleonice Santos, uma personagem que busca estimular histórias de sucesso dentro da sua comunidade.
Mesmo fora das salas de aula de primeira à quarta série, chegou a ensinar alguns dos produtores rurais da Vila Caquetá a escrever. “Eles aprenderam a assinar os seus próprios nomes”, conta. Agora um detalhe: todos faziam parte da faixa etária da terceira idade. Depois disso, ela decidiu que iria continuar atuando na área de uma forma diferente. Foi quando voluntariou-se como agente de leitura para receber o Arca das Letras em casa.
Trata-se de um instrumento do Governo Federal que possibilita a implantação de bibliotecas nos pontos mais distantes do país, seja via terrestre, aérea ou fluvial. Que o diga Elisangela Costa, a coordenadora estadual do programa, que diz não se importar por ter enfrentado lama até os joelhos durante a fase de entrega do benefício.
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“Em 2006 nós iniciamos a identificação das comunidades rurais e em 2008 fizemos a entrega da primeira unidade. É muito gratificante chegar nessas destinos e ver a alegria das pessoas ao te receber. Ver que elas acreditam que a leitura realmente pode mudar o futuro delas pra melhor”, comenta.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) entra com a oferta literária, que inicialmente possui cerca de 200 a 240 títulos, e cabe ao Departamento Estadual do Livro e da Leitura, da Fundação Elias Mansour (FEM), disponibilizar os móveis e a capacitação dos envolvidos, como o procedimento padrão que é utilizado para o controle de empréstimo dos livros. A doação também é uma fonte indispensável para a renovação do acervo, o contato pode ser feito pelo e-mail arcadasletras@mda.gov.br ou diretamente na Biblioteca Pública, no Centro, e o repasse será feito.
Hoje são mais de 50 cadastrados apenas na comunidade do Hélio Pimenta, com gente de todas as idades. No caso dos estudantes do ensino médio, o que tem mais saída são os materiais que servem de pesquisa para os exames do Enem, o que evita a necessidade de gastos com o transporte público. “Antigamente não tinha isso aqui, é muito legal. Já lemos muitos livros”, dizem as crianças Gabriela, Kailani, Isaque e Marcos. Além do parentesco, eles também se identificam com uma outra grande paixão, a preferência pelos gibis.
É uma nova realidade, silenciosa, que deve render mais experiências positivas à longo prazo, com o esforço de quem acredita na educação como base para abrir as portas para o mercado de trabalho e também para a formação intelectual.
“Acho importante levar ajuda pra quem precisa, já tinha um pouco de expreriência, conhecimento, e a gente quer passar esse conhecimento pra frente”, são palavras de dona Cleonice, que daqui a menos de um mês, em 22 de junho, deve completar 65 anos. Ela mostra que a consciência do papel transformador de cada cidadão pode ser exercido de forma plena, lúcida e sem discriminação de idade no meio em que vivemos. É possível crescer junto!