O Acre realiza neste fim de mês (26 e 27), em Rio Branco, dois grandes eventos para discutir temas importantes do país e da região. A cidade vai receber mais de 300 convidados especiais da área política e administrativa, entre eles, o presidente Michel Temer, que já confirmou presença ao governador Tião Viana.
O mérito do duplo acontecimento é, aliás, do governador, que se mostra muito preocupado com a violência e a incidência de drogas no país, propondo uma discussão ampla e ações emergenciais na enorme linha de fronteira aberta, transformada em rotas do tráfego principalmente na Amazônia.
Em meio à crise institucional em que vive o país neste momento, parece uma enorme proeza que o Acre possa atrair o presidente Michel Temer, governadores e ministros, até mesmo a presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Cármen Lúcia, e a procuradora-geral República, Raquel Dodge, todos com inadiáveis compromissos em Brasília.
Proeza também porque o Acre, o único estado em que o governo do PT é citado como exemplo de sustentabilidade, reconhecido nos encontros internacionais e que tem credito aberto junto aos bancos de desenvolvimento BID, Bird e KfW (alemão), inclusive para aplicação do REM, projeto financiado com recursos da economia de baixo carbono, tinha tudo para ser um estado demonizado junto com o seu partido e principal líder, o metalúrgico Lula da Silva.
Acontece que o Acre tem tudo para se tornar um “case” amazônico, pelos resultados que vem obtendo com a politica de sustentabilidade inspirada no saudoso líder seringueiro Chico Mendes. Na verdade, o estado, um dos menores da Amazônia, desde as eleições de 1998 vem se municiando de leis ambientais que o colocam em vantagem nas discussões ambientalistas do mundo atual.
Ou seja, o Acre vem fazendo o trabalho de casa. Melhorou a saúde e a educação nos 22 municípios, cuidou da infraestrutura do estado, melhorou a vida dos extrativistas e dos indígenas, trabalha com eles na condição de parceiros do governo, reduziu o desmatamento e agora, no 18º ano de governo em cinco mandatos seguidos, investe na produção sustentável criando cadeias produtivas em áreas anteriormente degradadas, numa parceria governo-empresa-comunidade que vem dando certo com peixes, aves, suínos e também com frutos como o açaí, a mandioca e o coco.
Sem falar na velha e maltratada economia da borracha, que ganha vida nova com seringueiras plantadas no quintal de casa dos extrativistas, aquinhoados com áreas de 300 até 700 hectares de floresta de suas antigas colocações, conquistadas com o modelo agrário das Reservas Extrativistas administradas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade) e garantidas para filhos e netos.
Para o governador Tião Viana, o maior desafio do Acre, hoje, vem da fronteira aberta ao narcotráfico. Um problema nacional, mas que não tem entrado na agenda dos políticos e, parece, muito menos na dos gestores de um modo geral, mais interessados na encrenca entre os poderes ou em salvar a pele na República de Curitiba, sucursal da escola Harvard norte-americana, matriz da ideologia de extrema direita do senhor Sérgio Moro.
* Elson Martins é jornalista