“Apoio do governo tem mudado vida dos yawanawás”, diz Biraci

Tião Viana ouve Biraci Brasil enquanto caminha na floresta (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Tião Viana ouve Biraci Brasil enquanto caminha na floresta (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“No que diz respeito aos povos indígenas, as gestões de governo mais recentes têm sido diferentes. Foram os únicos da história deste estado que, pouco ou muito, fizeram chegar algumas coisas às nossas comunidades. E para os yawanawá não foi diferente”.

Quem diz isso é o cacique Biraci Brasil, em entrevista gravada durante o XII Festival de Música, Dança e Espiritualidade dos índios yawanawá, ocorrido entre os dias 26 e 30 do mês passado na Aldeia Nova Esperança, a 10 horas de barco a motor subindo o Rio Gregório, no município de Tarauacá.

Na entrevista, Biraci Brasil enumerou e comentou detalhadamente a importância, para os índios, de cada uma das muitas ações que mudaram a vida do seu povo, ocupante de uma área de floresta de 187 mil hectares, considerada a segunda maior do estado. Veja, abaixo, a íntegra da entrevista.

Como está o Festival de Dança, Música e Espiritualidade Yawanawá (Yawa) deste ano?

Cacique Biraci Brasil (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Cacique Biraci Brasil (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Estamos dando continuidade, porque é uma coisa que tem despertado entre os yawanawá a beleza interna que nós não conhecíamos. No passado, no tempo dos patrões seringalistas, tinha muito preconceito contra os nossos costumes, nossas crenças, nossos rituais. Nós tínhamos vergonha de apresentar o que era nosso. Essa participação no Festival está tendo um papel fundamental na valorização interna cultural, social e espiritual do povo yawanawá.

O que representa o Festival Yawa para vocês?

O festival é muito mais que uma festa. É a autoestima da nossa família, principalmente com as presenças das pessoas de fora. Hoje, a presença das pessoas de todas as partes do mundo nos enche de esperança. Por isso, toda a nossa geração está aprendendo, está praticando cada vez mais os nossos costumes. O festival virou um lugar de encontro do nosso povo. O festival é o resgate da história de um povo. Esse ano nós tivemos mais de 300 pessoas de 22 países.

Como tem sido a ajuda do governo para o Festival e outras ações para os índios?

No que diz respeito aos povos indígenas, as gestões de governo mais recentes têm sido diferentes. Foram os únicos da história deste estado que, pouco ou muito, fizeram chegar algumas coisas às nossas comunidades. E para os yawanawá não foi diferente.

Você pode enumerar algumas ações da atual gestão nesta terra indígena?

Hoje, a gente tem um completo sistema de luz (energia elétrica) na aldeia. Também estamos com a marcenaria pronta. Temos nossa escola de ensino fundamental e já tem curso de ensino médio, que mudou muito a nossa história, salas para as crianças estudarem, contratação de professores, quase 30. Uma grande contribuição do governo do Acre.

O que ainda está faltando o governo fazer?

A saúde é a única coisa em que nós não atingimos o básico. Mas nesse festival, nos reunimos com o governador e a secretária de Saúde, Suely Melo, para fechar a construção da unidade de saúde aqui. Até porque daqui a dois anos, eu estarei recebendo uma médica, filha desta aldeia, que também é minha filha, que está se formando em Medicina em Cuba. Tem também meu sobrinho cursando medicina na UnB. Eles vão atender muito a nossa comunidade. Aqui na nossa terra indígena tem o programa Saúde Itinerante.

Ações na educação, saúde, energia, transporte e produção

Que ações você destacaria, por exemplo, na área da alimentação?

O governo construiu vários açudes para produzirmos peixes aqui. A Aldeia Nova Esperança tem quatro açudes, já com os alevinos e rações. O governo construiu açudes em mais seis aldeias daqui. Já é um passo importante para o fortalecimento de nossa segurança alimentar. Conversei com o governador para nos ajudar a limpar um lago nativo para a gente criar pirarucu.

O que mais o governo ajudou na área de alimentos?

Temos também a criação sustentável de tracajás, que vem de uma parceria com o Imac na gestão anterior de governo. Já soltamos três mil tracajás para repovoar o Rio Gregório. Agora o governo tem mais uma leva de cinco mil, sendo 2,6 mil só aqui nessa aldeia. Os outros 2,4 mil estão nas outras aldeias de baixo.

Que outros projetos alimentares existem aqui?

O governo tem sido sensível. Estamos indo por etapas. Estamos também com o projeto de criação de abelhas sem ferrão. É muito trabalho porque nós temos que mapear, localizar e depois fazer todo um preparo de trazer elas de volta e acostumar elas nessas caixinhas. Estamos com mais de 60 caixas de colmeia da Secretaria de Pequenos Negócios.

Há ajuda do governo para produtos agrícolas?

Nós já produzimos milho, mandioca, banana, batata, abacaxi e abacate. Nosso rio é muito farto, ainda tem muito peixe e nossa floresta tem muita caça. Se a gente mantiver o equilíbrio como está fazendo agora, daqui a cem anos não haverá problema de alimentação.

O que foi feito aqui especificamente para as mulheres indígenas?

O governo fez casas de produção de artesanato das mulheres, em uma parceria com o escritório do designer Marcelo Rosenbaum e com uma empresa de São Paulo. Agora, estamos produzindo luminárias de miçanga, numa atividade que é só das mulheres. Já estamos tendo uma renda superior a R$ 300 mil por ano só com o artesanato das mulheres.

O que mais foi construído aqui?

Nós também estamos fazendo o que o governo deu o nome de pousadas, mas nós chamamos de casas de hospedagem. O governo também construiu a arena comunitária e o refeitório comunitário. Tem também os barcos que o governo repassou e que estão ajudando no nosso transporte.

{xtypo_quote_right}É um desafio trabalhar na conscientização das famílias, no envolvimento do povo{/xtypo_quote_right}

A renda que circula nas aldeias vem de onde?

Vem do artesanato, de nossos festivais culturais, de encontros que fazemos nas aldeias com gente do mundo todo. O pessoal daqui também recebe o Bolsa Família, e os mais velhos recebem aposentadoria. Aqui nós já somos uma comunidade que também gera recursos de impostos.

Açudes e escolas com professores de 1º e 2º graus (Foto: Romerito Aquino)

Açudes e escolas com professores de 1º e 2º graus (Foto: Romerito Aquino)

O que vai significar para a comunidade a marcenaria construída e equipada pelo governo?

Nós vamos trabalhar aqui com móveis feitos de paxiubinha e do paxiubão. A marcenaria vai envolver a participação de 30 homens no trabalho. A primeira turma já fez a capacitação. Vamos construir casas melhores para a gente morar. Vamos construir móveis a partir das madeiras que caem todos os anos no rio com a cheia do inverno.

Vai tirar a paxiúba da floresta?

Estamos fazendo um reflorestamento de palmeiras. A partir do ano que vem, vamos plantar cem mil mudas de cocão e mais cem mil mudas de paxiubão, que pode durar 50 anos. Queremos plantar até um milhão de mudas de palmeiras. Por que palmeiras? Porque é com as palmeiras que cobrimos nossa casa. Hoje, por falta de palha, nós estamos trazendo telhas de amianto, de alumínio, material que faz mal à saúde e que é caro. Nós não vamos competir com nenhum mercado. E vamos apresentar para o mundo uma nova alternativa de madeira, fora das chamadas madeiras de lei.

A vida do povo yawanawá está melhorando?

A vida do povo yawanawá tem mudado significativamente. Nós estamos crescendo. Temos a nossa cooperativa. É isso que faz a gente progredir. Quando você se propõe a fazer uma coisa, alguém lhe ajuda e, se você não faz, a pessoa que lhe ajudou vai ficar constrangida e você vai perdendo a força de até pedir de novo. A gente aprendeu esse outro lado, de saber aproveitar, de fazer um bom uso daquilo que nós pedimos para o Estado brasileiro, seja municipal, estadual ou federal.

O que você diria para as demais comunidades indígenas do estado?

A maior parte das nossas comunidades traz um problema, uma necessidade para o governo e não sabe usar o que ele oferece. Esse é um negócio que temos de organizar internamente. É um desafio. Trabalhar na conscientização das famílias, no envolvimento do povo. É muito fácil a pessoa falar fora, fazer política fora da aldeia. Agora, fazer dentro da aldeia é que é o mágico. É esse fazer que fica de verdade.

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