Por Márcia Cristina Portela de Mesquita Souza*
Assim como muitos nordestinos que migraram para região amazônica e foram responsáveis pela formação da população do nosso estado, meu pai fez o mesmo percurso. Mas, diferente dos jovens que vieram para trabalhar na extração do látex, ele veio criança ainda, acompanhando a mãe e o padrasto.
Não preciso relatar aqui as dificuldades que essas famílias passaram em nossos seringais, pois essas são nossas velhas conhecidas. E a vida do seu Manoel não foi diferente. Sua mãe retornou para o Ceará, mas ele resolveu permanecer por aqui. Teve uma infância e adolescência difíceis, pois teve que enfrentar vários desafios sozinho, incluindo a necessidade de fazer parte de uma família, para ter acesso aos documentos civis e se tornar um cidadão de direitos. Para isso, recebeu os sobrenomes da família que o acolheu no lugar de um filho falecido. Mas essa não é a parte mais importante da sua história.
Alguns o chamam de Manoel Branco, outros, Manoel Arigó, mas eu o chamo apenas de Pai. No decorrer de sua vida, constituiu família e foi o genitor de cinco filhos, sendo três homens e duas mulheres. Teve uma vida dura, baseada na busca constante do sustento para a família, mas sempre colocou a necessidade de prover e educar em primeiro lugar.
Temos na Bíblia vários exemplos de pai, mas tenho um como referencial, José, o carpinteiro. Aquele que amou e educou seu filho, Jesus. É bem verdade que não era filho biológico, mas para aquele pai não fez a menor diferença. Diferente de José, os cinco filhos do seu Manoel foram biológicos, mas, mesmo com uma quantidade de filhos considerada grande, ele sempre partilhou o que produzia com os vizinhos, ajudando na alimentação daqueles que precisavam. Sempre foi presente em nossas orações e sempre nos abençoava de uma forma tão linda que hoje somos capazes de sentir o poder das suas bençãos em nossas vidas. Assim como José, meu pai é um homem justo, honesto, simples e humilde.
No meio da dura realidade vivida por nossa família, os momentos de diversão e aprendizado eram compartilhados em meio à realização das tarefas domésticas. Seja quando o acompanhávamos em alguma colheita, ou até mesmo nas idas à cidade, para negociar a venda do que era produzido. Nossa maior diversão eram as pescarias, que, apesar de não sabermos, eram fundamentais para o nosso sustento. Até hoje, essa prática nos une e nos faz compreender a magnitude do amor do seu Manoel para conosco, pois não era um simples gesto de entretenimento, mas sim de prover o alimento para nosso sustento.
É bem verdade que o seu Manoel não era um homem de muita paciência, mas hoje vemos esse ciclo sendo quebrado na convivência com os netos, principalmente os menores. Mas, apesar da curta paciência, sempre estávamos aprendendo com ele de alguma forma. Nosso principal legado, sem dúvidas foi a honestidade, responsabilidade, zelo pelo nome limpo, amor pela família e muitos outros valores, que hoje tentamos passar para nossos filhos.
Ser pai sempre foi e será sinônimo de amor, respeito, responsabilidade, compromisso e vontade de fazer as coisas darem certo. É dar a vida pelo filho literalmente, amando-o incondicionalmente e, principalmente, educar pelo exemplo. As conversas do meu pai não eram longas, mas compreendíamos o conselho que estava nos dando, muitas vezes pelo olhar de ternura e carinho ou até mesmo de repreensão.
Seu Manoel pouco estudou, mas faz questão de assinar o nome e, apesar do pouco acesso que teve ao ensino formal, me ensinou muito em matemática, utilizando o noves fora para tirar a prova real, verificando se as contas estavam certas.
Hoje, no dia em que comemoramos o Dia dos Pais, aproveitamos para comemorar a dádiva de termos um pai. Alguém que sempre esteve presente nos bons e maus momentos e, mais do que isso, nos ensinou a enfrentar nossos problemas com coragem, seriedade e leveza. Hoje temos muito a comemorar!
Quando escolhi o título para este texto, foi com o intuito de homenagear todos os pais, aqueles que têm o mais importante título, que é ser apenas Pai, e aos que também se aventuram em outras profissões.
Sei que meu pai representa muitos outros pais hoje e isso me traz grande felicidade, pois tenho a certeza que seus filhos foram criados e educados com amor e tendo como exemplo um grande homem.
Feliz dia a todos os Pais!
*Márcia Cristina Portela de Mesquita Souza, gestora de políticas públicas, atualmente é ouvidora-geral do Estado. Licenciada em Letras/Vernáculo, especialista em Educação, possui MBA em Gestão Pública com Ênfase em Controle Externo, MBA em Governança Pública e Gestão Administrativa, e é certificada em Ouvidoria e Compliance