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Acre sedia congresso Intramuros Sobre Encarceramento Feminino

O Acre recebeu nesta semana o 1° Congresso Intramuros do Brasil sobre Encarceramento Feminino, realizado na Unidade Penitenciária Manoel Neri da Silva, em Cruzeiro do Sul. Organizado pela Associação Elas Existem em parceria com o governo do Estado, por meio Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) e polícia penal, o evento foi realizado dentro da unidade prisional e reuniu gestores, policiais penais e as detentas. O congresso foi realizado na quarta-feira, 11, e quinta, 12, e se finaliza nesta sexta, 13, no Teatro dos Náuas.

Detentas participam do 1° Congresso Intramuros do Brasil sobre Encarceramento Feminino. Foto: Paulo Henrique Costa

Elas Existem é uma organização sem fins lucrativos, que tem como missão lutar pelo desencarceramento, pela redução do sofrimento e pela garantia de direitos de mulheres e adolescentes cis (pessoa que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu) e trans (pessoa que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu) em privação de liberdade.

Caroline Bispo, presidente e coordenadora geral do Elas Existem, veio ao Acre estudar as prisões femininas e trouxe a Organização Não Governamental (ONG), para realizar o congresso.

“Vim ao Acre fazer uma pesquisa, o perfil das grávidas presas, e vi que podia trazer a ONG para o estado e mostrar ao mundo o trabalho que é feito aqui, e mostrar como é possível realizar a reintegração social junto com a sociedade”, explica.

Caroline Bispo, presidente do Elas Existem, com uma reeducanda e confecção produzida durante oficina. Foto: Paulo Henrique Costa

O evento contou com oficinas e debates entre os servidores do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), as detentas e membros do movimento. O Acre Existe e Elas Existem é o tema do congresso, que promoveu uma importante política pública de reinserção de mulheres privadas de liberdade na sociedade, por trazer o debate do encarceramento feminino, e também incentivar a remissão de pena por meio do artesanato.

Preta Ferreira conta sua trajetória durante o cárcere. Foto: Paulo Henrique Costa

“Em 2019 sofri uma prisão injusta, minha família e eu fomos perseguidos politicamente, e hoje posso estar aqui conversando com as encarceradas, que é o que eu queria viver enquanto estive presa: trazer o sentido de liberdade e libertação para essas pessoas, incentivar mulheres a serem livres,  mostrar que a prisão não é o fim, e que existe vida após o cárcere“, conta Janice Ferreira da Silva, mais conhecida como Preta Ferreira, cantora, atriz e ativista de São Paulo, que recentemente lançou o livro “Minha Carne: Diário de uma Prisão”, que relata seus dias no cárcere.

Elves Barros, diretor da unidade, destaca a importância do evento para a penitenciária e para as detentas.

“É interessante para que as apenadas se sintam valorizadas, e no futuro sejam reinseridas na sociedade, constituam família e tenham empregos. São mulheres que vão poder transformar a sua própria realidade”, frisa.

As reeducandas participaram de oficinas e rodas de conversa durante a programação na unidade prisional. Foto: Paulo Henrique Costa

Glauber Feitoza, presidente do Iapen, destaca que o congresso é um importante meio de trabalhar de forma humanizada com as detentas do Acre: “Junto com o Elas Existem, desenvolvemos trabalhos que vão desde assistência jurídica até o atendimento social, o fato é que a proposta de fornecer e ter um olhar diferente no cumprimento da pena, pois sabemos o quão difícil é o cárcere feminino“, afirma.

S.C.R, uma das presas da unidade de Cruzeiro do Sul, relata o quão agregador e importante foi a realização desse evento para as mulheres em situação de cárcere.

“Ficamos muito gratas a todos que colaboraram com o programa, foi muito importante para todas as reeducandas, o que a ONG trouxe, de que podemos expressar nosso sentimento em relação ao cárcere. Nos mostrou também que temos voz ativa e podemos libertar a nossa mente”, relata.