Acre mantém guerra contra a dengue – Série Doenças Tropicais

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Caracterizada como uma doença urbana, a dengue é hoje a maior endemia de Rio Branco. É uma doença localizada em um espaço limitado denominado “faixa endêmica”. Isso quer dizer que endemia é uma doença que se manifesta apenas numa determinada região, de causa local. E por isso, Rio Branco concentra 80% dos casos, exigindo uma luta cada vez maior a cada ano.

Cada doença tropical tem uma coordenação por meio do Ministério da Saúde, que descentraliza as ações. “O governo do Estado é responsável apenas pelo monitoramento, avaliação e supervisão das ações de saúde pública, enquanto o município fica com a prevenção e o atendimento, mas no caso da epidemia de dengue, o Estado é obrigado a complementar as ações do município”, explica Izanelda Magalhães, gerente do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).

É uma doença que tem exigido uma verdadeira operação de guerra para a redução dos seus casos. Com o registro mais rigoroso, a dengue saltou de 1.087 casos em todo o estado em 2001 para 42.026 em 2010. Resultado de necessárias ações de controle intensas, o número voltou a cair e em 2012 passou para 8.470 casos. Já em 2013 a doença deixou de ser considerada epidemia em julho.

Foi exatamente após a grande epidemia de 2010 que o governador Tião Viana começou a Operação Guerra Contra a Dengue, contando com ações como o recolhimento de entulho dos bairros, contratação de mais pessoas para controle químico e apoio técnico. As campanhas de prevenção passaram a ter um impacto maior, atentando para o poder de morte da doença. E em 2013 a ação foi intitulada “A Guerra Continua”, com visita de 150 agentes de endemias a todos os imóveis de Rio Branco e distribuição gratuita de tampas de caixa d’água para quem não tem.

Quatro faces

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Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a dengue possui quatro tipos de vírus com uma particularidade: pegou um tipo uma vez, não pega nunca mais. Com uma face urbana, dificilmente se vê a dengue no meio rural, ela está presente até mesmo em cidades muito grandes, como o Rio de Janeiro, que já apresentou uma forte epidemia da doença, mas pode chegar a pequenas, como Feijó, que pela primeira vez registrou 80 casos no ano passado, com um foco oriundo de Rio Branco transportado num comboio de material de construção.

O médico infectologista Thor Dantas conta que no Acre existem apenas três dos quatro tipos da dengue. E para complicar, o tipo 3 é relativamente novo, o que aumenta o receio dos órgãos de saúde pública de que haja uma nova epidemia. “São tipos exatamente iguais nos sintomas e tratamento. É impossível distingui-los pelos exames básicos e indistintos de gravidade – a pessoa pode ficar muito ruim tanto com o tipo 1 como o tipo 4, ou não ficar realmente mal com nenhum”, explica Dantas.

A chamada dengue hemorrágica é a forma grave da dengue, independentemente de seu tipo. “A dengue chega a essa forma a partir do momento que a imunidade do infectado reage demais à doença e se torna grave”, explica o médico infectologista. Ainda assim, mesmo com um impacto tão forte em suas vítimas, a dengue tem um prazo de vida curto se o tratamento for iniciado de imediato – de 7 a 10 dias.

”Provavelmente teremos dengue para sempre”, arrisca Thor Dantas (Foto: Arison Jardim/Secom)

”Provavelmente teremos dengue para sempre”, arrisca Thor Dantas (Foto: Arison Jardim/Secom)

Thor Dantas ainda arrisca dizer: ”Provavelmente teremos dengue para sempre”. O mosquito transmissor é resistente como poucos e os ovos podem sobreviver de um verão a outro, quando começam as chuvas, e eliminar o mosquito é quase impossível. Para erradicar em definitivo a doença seriam necessários investimentos em estratégias genéticas, como eliminar o vírus do mosquito. Mas recentemente o mundo foi pego pela notícia de que o laboratório francês Sanofi Pasteur começou a produzir doses experimentais de uma vacina contra a dengue e promete disponibilizar, a partir de 2015, 100 milhões de doses por ano.

O poder da dengue

Hoje a produtora Camila Cabeça já pode se considerar livre da dengue, mas só depois que pegou os quatro tipos. Contraindo a doença pela primeira vez na cidade de Belém, capital do Pará, em 2001, as outras três foram adquiridas em Rio Branco, depois de se mudar para a capital acreana. “E é igual dor de parto, dor de dente: é uma dor que você não consegue esquecer mais”, revela Camila.

A produtora sofreu de um dos males de adquirir a doença mais de uma vez: à medida que ela ressurge, a intensidade dos sintomas pode ser pior. “A terceira vez [em 2011] foi a pior de todas. Minhas plaquetas caíram pra 30 mil, quando o normal é 140 mil. Eu senti todo tipo de dor, a claridade machucava meus olhos, foi quase um mês de problemas.”

A doença é capaz de derrubar a pessoa. Ela perde o apetite e as forças para manter atividades comuns. É obrigatório que o doente se hidrate bastante e muitos remédios passam a ser proibidos, por isso a importância de ir ao médico. Mas os cuidados têm que ser preventivos também. “Nessa última vez que eu peguei, identifiquei um foco na minha casa. É inevitável: às vezes nos descuidamos, mas não podemos. Depois que você pega dengue fica paranoica, até com medo dos insetos, querendo matar todos”, brinca Camila.

“E é igual dor de parto, dor de dente: é uma dor que você não consegue esquecer mais”, afirma a produtora Camila Cabeça (Foto: Arison Jardim/Secom)

“E é igual dor de parto, dor de dente: é uma dor que você não consegue esquecer mais”, afirma a produtora Camila Cabeça sobre a doença (Foto: Arison Jardim/Secom)

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