A Cidade do Povo é, sem dúvida, o maior programa habitacional do Acre – como dizem por aí, “é uma cidade dentro de outra cidade”. Ela irá abranger uma área de aproximadamente 650 hectares, onde serão construídas 10.518 casas, além de escolas, delegacias, postos de saúde e toda a infraestrutura necessária para atender a população com serviços públicos básicos. Estima-se que terá uma população de 50 mil pessoas.
Um projeto desse porte gera milhares de empregos e contempla diversos profissionais, como pedreiros, engenheiros, carpinteiros, topógrafos, soldadores e mestres de obras, entre outros. Mas o que ninguém esperava era a participação dos marceneiros nesse grandioso projeto.
Graças a uma ação ousada do governador Tião Viana em Brasília, no Ministério das Cidades, ele conseguiu mudar as regras do projeto e foi permitida a utilização de material de origem madeireira nas mais de 10 mil unidades habitacionais da Cidade do Povo. O projeto original permitia apenas o uso de material sintético nas construções.
De acordo com o estudo produzido pelo professor Carlos Franco, doutor em economia da Universidade Federal do Acre (Ufac), será usada em todas as casas e prédios construídos dentro da Cidade do Povo uma quantidade grande de madeira:
Portas: 56.827 unidades
Janelas: 65.967 unidades
Peças de madeira: 12.335 m³
Tábua branca: 9.396 dúzias
Sarrafo: 130.214 metros
Vistas: 1.473.528 metros
Caixilhos: 736.764 metros
Tudo isso será produzido pelos marceneiros do Acre. Há quem duvide que o setor tenha condições de fornecer todo o material, mas o secretário de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), Edvaldo Magalhães, garante o contrário.
“Temos uma indústria marceneira consolidada. São quase 400 marcenarias em todo o Estado. Temos matéria-prima manejada em volume suficiente para atender a demanda, e o mais importante, uma política governamental de apoio e acompanhamento que garante segurança aos empreendedores”, afirma Magalhães.
Em todo o Estado, os marceneiros se preparam e aguardam ansiosos pelo início do trabalho. Domingos Sávio, vice-presidente da Central das Cooperativas de Marceneiros e Moveleiros do Acre, assegura que o momento é de grande expectativa entre os profissionais.
“A Cidade do Povo é tudo que o setor esperava para nos reerguermos de vez. Vamos investir pesado para conseguirmos entregar toda a demanda. Registraremos nossa marca na Cidade do Povo quando cada morador olhar para sua casa e ver que cada pecinha de madeira ali saiu das marcenarias do Acre”, comentou.
Atualmente o Acre possui aproximadamente 400 marcenarias. Se compararmos com a quantidade de produtos madeireiros que serão utilizados nas residências, levamos a crer que todas as marcenarias do Acre estarão envolvidas para dar conta da entrega. Serão gerados milhares de empregos em todas as cidades acreanas.
Marcos Júnior, marceneiro de Feijó, afirma que a expectativa entre os marceneiros do interior é muito grande e já estão sendo preparadas estratégias para dar conta da demanda. “Nós, do interior, sempre ficamos pensando se vai sobrar alguma coisa para a gente, mas com uma demanda dessas, com certeza vai dar para todo mundo trabalhar. Aqui em Feijó nós já conversamos e vamos trabalhar em forma de mutirão. Foi assim quando fizemos o mobiliário escolar: unimos todos os marceneiros para fazer as carteiras e armários, e agora, com essa demanda da Cidade do Povo, vamos nos unir mais uma vez. Todos unidos, vai dar certo”, garante.
Marceneiro sócio do Sindicato dos Moveleiros do Acre (Sindmoveis), José Zanata explica que muitas marcenarias no Acre estão esperando incentivos do governo para conseguir se erguer, e a espera pela demanda da Cidade do Povo anima a categoria. “Eu mesmo já tive 100 funcionários, hoje tenho apenas 15. São as compras governamentais realizadas pelo governo, como a produção do mobiliário escolar, que alavanca nosso negócio, e agora com os produtos que vamos fornecer para a Cidade do Povo nossa situação vai melhorar ainda mais. Vamos ver nossas marcenarias como antigamente, lotadas de funcionários”, disse.
Hoje o Estado é quem mais compra do setor moveleiro do Acre – de 2012 e até agora em 2013 foram mais R$ 7,3 milhões em mobiliário escolar. Muitas marcenarias que estavam à beira da falência conseguiram se erguer com o Programa de Fortalecimento do Setor Moveleiro/Marceneiro do Acre. Agora, com o material que será fornecido para a Cidade do Povo, será mais um estímulo para o setor.
“Não foi fácil mudar as regras para podermos inserir madeira em um programa do governo federal, em que as regras foram decididas lá em Brasília, mas nós conseguimos. E agora serão os marceneiros do Acre que irão produzir portas, janelas e caixilhos para a cidade do Povo. Não vão faltar madeira nem qualidade”, afirma Magalhães.