Por Enilson Amorim*

Desde seu surgimento na cidade chinesa de Wuhan, a Covid-19 (doença infecciosa causada pelo novo coronavírus) não só continua matando milhões de pessoas no mundo e politizando seus mortos, mas propondo a permanência de hospedeiros, através do anúncio de que a vacina pode matar as pessoas. Mas a verdade é que a ciência sempre esteve a favor do bem-estar do ser humano e de sua prole, desde o surgimento das primeiras civilizações. Prova disto é a descoberta do fogo, o domínio do aço e as técnicas para deixar a pedra pontiaguda. Tudo isto visando buscar uma forma de se alimentar melhor e se proteger com maior segurança e eficácia. Isto quer dizer que aquele ser humano que, dantes comia carne crua e era alimento fácil para os animais, agora poderia comer carne assada no fogo e se defender de seus predadores. As descobertas científicas são coisas maravilhosas.

Naquilo que diz respeito aos grandes cientistas, coube, por exemplo, à mente brilhante do polímata Leonardo da Vinci buscar compreender como era o funcionamento dos vasos sanguíneos e sua relação com as batidas do coração. Mas, para isto, o mestre das artes teve que conseguir autorização da grande cúpula da igreja para ter acesso aos corpos cadavéricos e dissecá-los para obter certezas mais concretas de suas convicções. Tudo isto era algo mágico e surpreendente para a época, mas ao mesmo tempo perigoso, isto porque, na maioria das vezes, esses homens das ciências e das grandes descobertas, em períodos anteriores, eram incompreendidos e tidos como bruxos e queimados na fogueira da ignorância e aplaudidos por grupos que tinham sido embriagados pelo vinho da intolerância.

Diante do caldeirão de tantas descobertas históricas, agora chega a vez de o homem buscar tecnologia para guiá-lo em suas viagens marítimas, na busca de contatos físicos com outros povos. E o lugar que ele achou para se debruçar nas pesquisas foi na Escola de Sagres. Um lugar perfeito para encontros de engenheiros e ilustres pensadores que, juntos, construiriam inúmeros recursos tecnológicos, como as modernas caravelas, astrolábios, sextantes e a tão famosa bússola, que nos conduziria no planeta até a chegada do moderno GPS. Sem dúvida dávamos um salto inovador na maneira de nos deslocar de um ponto para o outro no continente europeu. E as Américas de Colombo agradecem até os dias de hoje.

Ao direcionarmos os nossos olhares à Primeira e Segunda Grande Guerra e darmos ênfase ao uso de recursos tecnológicos e científicos, como instrumento de inúmeros massacres, em massa, a exemplo das bombas atômicas lançadas pelo Enola Gay, nas duas cidades japonesas, Hiroshima e Nagasaki, provocando a morte de mais de 200 mil pessoas, não pode ser racional alguém buscar argumentos para culpar a ciência, visto que a ação deve ser deslocada na figura do homem que usa seus conhecimentos para praticar genocídios e outros crimes contra a humanidade. A este tipo de sabedoria a Bíblia cita no livro de Tiago, no cap.3, a partir do vers. 15, que diz: “…portanto, este tipo de sabedoria não vem dos céus, mas é terrena; não é celestial, mais é demoníaca…”.

Quando nos reportamos ao nosso país, mesmo que nos deslocando da chegada de nossos colonizadores e, passando pelo império, daremos uma parada em tempos republicanos, buscando uma discursão mais autêntica e próxima ao tempo atual, especificamente em 1902, ano em que o Presidente Rodrigues Alves assume a presidência da República. Naqueles tempos, a capital brasileira não estava somente com suas ruas, becos e cortiços repletos de sujeira, atraindo ratos e demais bichos peçonhentos, o que motivou o surgimento de inúmeras epidemias como a peste bubônica e a febre amarela, mas o país também se encontrava sujo de ignorância, estimulado pela permanência de métodos educacionais positivistas dentro do processo de informação. Por isso os sanitaristas e demais homens da ciência encontraram muita dificuldade para conscientizar a população da importância da vacina que combatia aquelas epidemias. O engenheiro Pereira Passos e o médico sanitarista Oswaldo Cruz utilizaram métodos primários para produzir uma propaganda medíocre e fracassada, por isso tiveram que pagar um preço bastante caro durante aqueles tenebrosos tempos. E um destes fracassos foi o estímulo à exclusão social, iniciada pela expulsão dos moradores de seus casebres e promovendo a demolição de seus cortiços, encurralando-os nas regiões montanhosas do Rio de Janeiro, dando origem às tão famosas favelas.

Dentro daquele caldeirão de dificuldades, os homens da saúde pública de Rodrigues Alves tornaram a vacina obrigatória. Esta atitude motivou o caos social. Às autoridades sanitárias era permitido entrar nas casas e vacinar as pessoas à força. Além desta terrível arbitrariedade, o governo federal tentou, de forma fracassada, criar um estímulo à matança de ratos, propondo pagar para a população por cada rato morto. Isto gerou uma quantidade de pessoas criando ratos em suas casas para adquirir uma renda extra, levando o governo a suspender a campanha. Em seguida, grupos contrários à campanha da Lei da Obrigatoriedade da Vacina começaram a se organizar para uma revolta popular. O certo é que, em poucos dias, grupos contrários às normas estabelecidas pelo governo iniciaram a depredação de órgãos públicos e acabaram planejando inúmeras organizações de conflitos populares que foram rapidamente sendo sufocados pela violência das tropas federais. Após a revolta, uma grande parte dos líderes do conflito foram presos e enviados para o Acre como forma de castigo, afinal de contas, naqueles anos de 1902, poucos queriam vir para essas bandas.

Na atualidade, em nosso país, é claro que é pouco provável que uma revolta dessa natureza aconteça novamente, afinal de contas o governo federal caminha de forma democrática, mesclando o esclarecimento da importância da vacina e ao mesmo tempo não permitindo a obrigatoriedade dela, dando sinal de que as arbitrariedades do passado não terão valor nenhum em dias atuais e, acima de tudo, este governo não demonstra, em hipótese alguma, uma negação à ciência.

No Acre, o governo de Gladson Cameli propõe um modelo de esclarecimento da importância da CoronaVac, com base nos direitos individuais de cada cidadão. Mas, ao mesmo tempo, alerta de forma bastante eficaz sobre os perigos que a população acreana estará passando caso não tome a vacina. Neste sentido sua equipe de Comunicação Social dá um grito mais alto a favor da “VIDA”, manifestado nas cores, nas linhas, nas fontes, nas luzes e em cada texto produzido em sua campanha pró-vacina intitulada VACINA#MIMDÊQUEEUTOMO. Seria como um pintor modernista que não usa somente a beleza de sua pintura como o único discurso da obra, mas estimula o observador a identificar a importância do discurso científico contido nas cores. Neste sentido, identificamos uma narrativa bastante visível da valorização da ciência em cada material artístico produzido pela Secom.

Ao mesmo tempo, Cameli foca na materialização das ideias, procurando concretizar seu discurso através da aquisição lépida da vacina, na construção de hospitais, ampliação de novos leitos, aquisição de novos respiradores e acima de tudo estruturando o sistema de saúde pública em todo Estado, marcando seu governo como um dos mais humanistas que já houve na história do Acre. No entanto, acreditamos que, em tempos modernos, a revolta da vacina também não acontece no Acre, já a valorização da ciência e de seus métodos sempre estarão presentes em toda estrutura do governo de Gladson Cameli e os negacionistas dela (se é que existem nas terras de Galvez) serão sempre combatidos.

A revista americana Science elege as vacinas contra a Covid-19 como o feito científico deste ano e alerta que os desafios não acabaram. Combater as fake news e imunizar, também, a população dos países mais pobres são alguns dos obstáculos a serem vencidos. Parabéns ao governo por acreditar na ciência, sem ela o mundo seria um completo caos. Salve a ciência, que salva vidas!

 

*Enilson Amorim é historiador, possui especialização em Docência do Ensino Superior, autor dos livros Mapinguari a Lenda, o Canto do Uirapuru, Abelardo e o Curupira, Clarinha e o Boto e a Lenda da Cobra Grande e é titular da cadeira de número 07 da Academia Acreana de letras (AAL)