Enquanto milhares de peixes saltam no açude para abocanhar a ração da tarde, o acreano Luiz Benício de Melo aponta orgulhoso os frutos do trabalho que considera a salvação para o pequeno e médio produtor: a piscicultura. Com planos de aumentar os lucros, ele relata as vantagens de ter construído dez hectares de açudes: “Olha a conversão alimentar [relação do peso do peixe com o consumo de ração] como é boa. Com água e ração de qualidade, o peixe come maravilhosamente bem”.
Em 2011 começou uma mudança no mercado de pescados acreano. Governo, fundos de investimento e produtores entraram na empreitada de construir um empreendimento para a cadeia produtiva. Com investimento de R$ 65 milhões, o frigorífico, a fábrica de ração e o centro de alevinagem, inaugurados em 2015, formam o Complexo Industrial de Piscicultura Peixes da Amazônia, que deu um novo ânimo para os produtores. “Com essa indústria, a venda é garantida e o governo dá incentivo, temos muita oportunidade”, avaliza Benício.
Localizada na Estrada do Quixadá, a alguns quilômetros da zona urbana de Rio Branco, a propriedade Boa Vista, administrada por Benício, é reflexo do que está acontecendo com diversos outros espaços em todo o Acre. Vender peixe virou bom negócio. Com ração produzida pela própria indústria, assistência técnica fornecida também pela empresa e por técnicos da Secretaria de Agricultura Familiar do Estado (Seaprof), o pescado local a cada mês ganha mercados nacionais e internacionais.
O peixe produzido por agricultores familiares, como Benício, é vendido para empreendimentos como Outback, Applebee’s, Vivenda do Camarão, Sociedade Hípica Paulista, Barbacoa, Pão de Açúcar e Extra. Ainda há a exportação para o Peru: a cada dez dias, dez toneladas seguem para Puerto Maldonado. “Desta propriedade tiro 12 toneladas, com as outras duas que tenho e mais os dez hectares de tanque que construí, espero chegar a 40 toneladas neste ano. Depois que chegou a indústria, passei a produzir em grande escala”, afirma Benício.
Pintado, tambaqui e pirarucu
Os peixes que pulam durante a alimentação na colônia de Benício são pintados e tambaquis, duas das espécies comercializadas pela indústria acreana. Outro pescado que começa a ganhar espaço é o pirarucu. “É um mercado em crescimento, tem potencial devido à qualidade da carne e pelo grande aproveitamento do animal, inclusive da pele”, afirma Fábio Vaz, diretor da Peixes da Amazônia, sobre o pirarucu. Ele acrescenta que é um movimento iniciante e que precisa ainda da regularidade de oferta.
No complexo de piscicultura são produzidos alevinos dessas espécies e vendidos para os piscicultores. Benício e alguns outros criadores já começam a apostar no pirarucu pelas boas características para a criação em cativeiro.
Segundo publicação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Acre, o espécime pode alcançar dez quilos no seu primeiro ano de criação, tem ampla taxa de sobrevivência e suporta altas densidades de estocagem. Além de ser um peixe de respiração aérea, o que facilita a criação em ambientes com baixa oxigenação.
Acrescente-se a tudo isso o fato de que o mercado tem aceitado muito bem sua carne, é possível ver belas postas em cardápios do Brasil todo. Recentemente, a LSG Sky Chefs, uma das maiores fornecedoras de refeições para empresas aéreas como a Latam, tornou-se cliente da Peixes da Amazônia. “Nosso peixe está sendo vendido no país todo, isso é muito orgulho”, afirma Benício.
Acompanhando o crescimento da indústria Peixes da Amazônia, que processou em 2016 quase duas mil toneladas de pescado, fornecidas por cerca de 58 produtores, está o entusiasmo de criadores como Benício. Com grande sorriso no rosto, ao lado da esposa e do filho, ele percorre seus açudes todos os dias alimentando seu futuro e deseja o mesmo para quem quiser ingressar na área: “O conselho que dou é que tem que entrar no ramo da piscicultura. Para o pequeno e médio produtor não tem coisa melhor. Quem tem um tanque já consegue um bom dinheiro para ajudar a sustentar a família”.