A nova classe média rural

O governo do Acre aposta no fortalecimento do meio rural e no incentivo aos produtores do estado (Foto: Angela Peres/Secom)

O governo do Acre aposta no fortalecimento do meio rural e no incentivo aos produtores do estado (Foto: Angela Peres/Secom)

São mais de 40 mil produtores rurais em todo o Estado do Acre. Desses, 15 mil são atualmente assistidos pelo governo estadual, segundo os números da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). Ainda é pouco, e o governo do Estado pretende chegar a todos, mas o caminho é longo e está sendo feito de maneira correta e coesa e já apresenta resultados animadores. O governador Tião Viana decidiu que em sua gestão a produção rural seria uma das maiores prioridades, com as políticas públicas para todos os produtores. Com as importantes ações tomadas nos últimos dois anos, já é possível observar uma mudança – o surgimento de uma classe média rural no Acre.

São famílias que estão sendo assistidas pelo governo do Estado e seus programas, investindo, capacitando-se e, principalmente, sem medo de trabalhar (Foto: Angela Peres/Secom)

São famílias que estão sendo assistidas pelo governo do Estado e seus programas, investindo, capacitando-se e, principalmente, sem medo de trabalhar (Foto: Angela Peres/Secom)

São famílias que estão sendo atendidas pelo governo do Estado e seus programas, investindo, capacitando-as e, principalmente, sem medo de trabalhar. Os produtores estão se estruturando, ampliando seus horizontes e garantindo novas conquistas. Para o governo, investir na produção rural e na agricultura familiar é uma das melhores maneiras de o Acre movimentar sua economia e melhorar a qualidade de vida de milhares de famílias que antes não tinham perspectivas.

“Hoje, um produtor que tem mais de uma atividade em desenvolvimento na sua terra pode ter uma renda de mais de R$ 60 mil por ano”, exemplifica o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Lourival Marques. Não adianta ser apenas assistido pela Seaprof. O secretário explica que é necessário trabalhar bastante e ter visão de empreendedor, apostando em várias culturas, como a horticultura, a piscicultura, o leite, a farinha ou uma das tantas outras disponíveis.

“Hoje, um produtor que tem mais de uma atividade em desenvolvimento na sua terra pode ter uma renda de mais de R$ 60 mil por ano”, disse Lourival Marques (Foto: Angela Peres/Secom)

“Hoje, um produtor que tem mais de uma atividade em desenvolvimento na sua terra pode ter uma renda de mais de R$ 60 mil por ano”, disse Lourival Marques (Foto: Angela Peres/Secom)

“A produção rural é uma prioridade porque queremos que o Acre tenha uma receita agroindustrial própria, para que nossa economia deixe de depender só dos investimentos do governo”, ressalta Lourival Marques.

Sem medo de trabalhar

Em Cruzeiro do Sul, o produtor Dedimar Lopes de Oliveira é um dos bons exemplos de que não só possível, mas também viável, o sonho de ver formada no Acre uma classe média rural forte, na qual os produtores vivam de forma confortável e lucrativa apenas daquilo que eles são capazes de produzir no campo. Em seus 30 hectares de terra, Dedimar passou a tirar uma renda de R$ 100 mil por ano. “Com trabalho e apoio do governo”, declarou o trabalhador de Cruzeiro do Sul.

Rogevane Nascimento, do Bujari, foi assentado pelo governo estadual, sua maior produção é resultado dos investimentos da horticultura (Foto: Angela Peres/Secom)

Rogevane Nascimento, do Bujari, foi assentado pelo governo estadual, sua maior produção é resultado dos investimentos da horticultura (Foto: Angela Peres/Secom)

Dedimar foi um dos produtores que apostou na diversificação da produção e não focou seus esforços em apenas uma cultura. Em meio hectare, o produtor plantou 300 pés de maracujá, que rendem R$ 20 mil por ano. Da produção de peixe ele faturou R$ 48 mil brutos, com lucro de 40%. Vêm ainda a melancia, o leite e o coco, em que cada hectare gera R$ 12 mil/ano. Muito disso com apoio do governo, na construção dos tanques de piscicultura, na liberação de sementes e no calcário, que é dado de graça pelo governo no Juruá para a reparação da terra para plantio.

Mesmo distantes 710 quilômetros, o produtor Rogevane Nascimento, do Bujari, tem muitas semelhanças com Dedimar. O produtor foi assentado pelo governo estadual, com o título definitivo de seus nove hectares de terra. Sua maior produção é resultado dos investimentos da horticultura. São 30 estufas cuidadas por seis funcionários, que geram produção diária para abastecer três dos maiores supermercados do Estado.

Mas nem sempre foi assim. Antes de ser assentado pelo Estado em 2000, Rogevane tinha apenas três hectares de terra e uma produção muito modesta. Devidamente assentado em uma área maior e com o título de suas terras em mãos, ele teve acesso a crédito e coragem para requisitar. “Foi o acesso ao crédito através do Mais Alimentos que mudou a minha vida. Mudou demais mesmo”, recorda. E não foi esse o único incentivo recebido do Estado. Rogevane foi beneficiado recentemente com as horas de trabalho das máquinas do Estado para a construção dos seus tanques de piscicultura, que devem começar a dar resultado em um ano.

“Há oito anos eu fiz quatro estufas e comprei um Pampa. Entregava minhas verduras em Rio Branco, dormia nos mercados para vender. Hoje eu estou com uma produção grande e pretendo expandir ainda mais. Estou recusando pedidos porque não consigo dar conta”, revela Rogevane. O produtor, que vive na propriedade com a mulher e os três filhos, já colocou os dois meninos que tem para trabalhar com ele e assina a carteira de trabalho dos outros funcionários. A casa foi reformada e ampliada, agora tendo ar-condicionado central e TV a cabo. Para ele, só faltam investimentos novos no ramal. E já está pagando em dia as parcelas do financiamento concedido pelo governo.

A família aliada à mecanização

Vindo de São Paulo com boa parte da família, Luiz Petelin Rodrigues, o “Seu Juca”, está assentado no Acre pelo Incra há quatro anos, numa propriedade com 12 hectares próximo ao Trevo das Quatro Bocas, que liga a BR-364 e a BR-317. O que ele não imaginava é que a vida pudesse mudar tanto, indo além da difícil mudança de moradia. “Tá tudo melhorando”, afirma.

"Seu Juca", está assentado no Acre pelo Incra há quatro anos, numa propriedade com 12 hectares (Foto: Angela Peres/Secom)

“Seu Juca”, está assentado no Acre pelo Incra há quatro anos, numa propriedade com 12 hectares (Foto: Angela Peres/Secom)

Juca planta principalmente milho, mas também trabalha com os outros familiares em suas terras na cultura de feijão e melancia, e pensa fortemente em investir na soja. O milho que ele colhe agora em janeiro foi plantado em setembro. Cresceu forte e bonito, e segundo sua mulher, Adriana Rodrigues, “está uma delícia. Fizemos um bolo de fubá delicioso”.

Produção de melancia (Foto: Angela Peres/Secom)

Produção de melancia (Foto: Angela Peres/Secom)

A colheita do milho está sendo feita através de uma das máquinas do governo. O governador Tião Viana entregou no ano passado 364 máquinas, distribuídas entre os 22 municípios e que beneficiam diretamente a produção familiar. Elas são coordenadas pelos escritórios da Seaprof. E a única contrapartida dos produtores é o óleo diesel. Para oferecer essa alternativa que garante ganho na produtividade sem aumentar a pressão sob a floresta, o governo do Acre investiu R$ 37 milhões em 364 máquinas para a mecanização agrícola.

A colheita do milho é feita através de uma das máquinas do governo (Foto: Angela Peres/Secom)

A colheita do milho é feita através de uma das máquinas do governo (Foto: Angela Peres/Secom)

A máquina colheitadeira, nova em folha, faz um trabalho surpreendente – a cada 15 minutos colhe 80 sacas de milho. E cada saca é vendida a R$ 30. “Seu Juca” exalta: “Eu mesmo vou atrás e vendo. Num mesmo dia vendi 250 sacas já”. O produtor faz questão de ressaltar que os incentivos do governo tiveram um papel fundamental em sua produção. “Sem essa ajuda eu não teria conseguido. É um governo bom para os acreanos. O que me falta é um financiamento, só falta o documento definitivo da terra lá no Incra. Em São Paulo a gente tem mais apoio dos bancos, mas lá o governo não ajuda a gente como aqui, emprestando essas máquinas, esse apoio dos técnicos da Seaprof”, revelou.

Para “Seu Juca”, o sucesso depende unicamente do esforço e da ousadia. Ele mesmo comprou o calcário para corrigir a terra para o plantio, e enquanto os secadores de grãos do governo do Estado entraram em reforma e ampliação na região, aluga espaço  e paga com 10% dos seus lucros. “Tenho medo de trabalhar não, o que a gente faz aqui é trabalhar”, conta o produtor, que explica como a vida está melhorando e já planeja até comprar um trator.

Exemplo de perseverança

A Fazenda São Raimundo, localizada na Estrada do Quixadá, é hoje conhecida como uma das maiores propriedades que investem em piscicultura no Estado. Ivan de Souza é seu proprietário e sua história é um exemplo de perseverança, visão e empreendedorismo. Seu projeto de piscicultura começou em 1985, quando, “com a cara e a coragem”, fez um empréstimo de 10 milhões de cruzados no banco para investir na criação de peixe, coisa que ainda não existia no Acre – e para desespero da família. Mas o tempo passou, e hoje a renda de Ivan é de R$ 700 mil por ano, com 100 toneladas de pescado anual e com planos de aumentar seus negócios.

A piscicultura é uma das apostas do governo do Estado para a diversificação da produção (Foto: Angela Peres/Secom)

A piscicultura é uma das apostas do governo do Estado para a diversificação da produção (Foto: Angela Peres/Secom)

Ivan tem algumas cabeças de gado, mas são poucas, e afirma que seu principal negócio é a piscicultura. “O boi só devasta. O peixe é sensacional. E aqui nas minhas terras eu tenho um potencial hídrico enorme, água de qualidade”, explica o piscicultor, que viajou para diversos lugares para entender as técnicas de manejo da pesca e cujos pirarucus já foram capa da revista Globo Rural. Hoje, além da engorda de peixe, o produtor construiu um “laboratório” – tanques para reprodução dos peixes e criação de alevinos, um déficit ainda existente no Acre. “Eu tinha passado no vestibular para Direito em 1985. Recusei fazer e investi no meu sonho de verdade. Piscicultura é uma faculdade que você nunca se forma. Cada dia tem uma novidade”, declara.

Sem ampliar o espaço para gado, a área fechada nas terras de Ivan são utilizadas tanto pela Universidade Federal do Acre (Ufac) para pesquisa e aulas de campo como operações de treinamento do Exército Brasileiro, com o qual o fazendeiro mantém uma estreita relação. Ivan planeja construir mais 100 tanques este ano com o apoio do governo, que também o auxiliou tecnicamente no laboratório de alevinos. Quando indagado sobre o caminho para sair do pouco e chegar a tanto, Ivan é enfático: “Tu tem que ser honesto e trabalhador. Esse é o único segredo do sucesso”.

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