A margem do erro

Eu erro, tu erras, ele erra e nós erramos, essa é a convicção da humanidade, a certeza de que podemos nos equivocar ou confundir, e seguindo aquele ditado eterno: “errar é humano, mas persistir no erro é burrice”. Vamos então refletir; como o erro se apresenta e por que é tão espetacularizado, sobretudo, a partir do século XXI?

Sim, vivemos na sociedade do espetáculo, e nela, o indivíduo prefere a representação à realidade, tal como proferiu o pensador francês, Guy Debord, consequentemente, o compartilhamento, a promoção e a divulgação das falhas e deslizes parece ser o motor que estimula a maioria das pessoas a expor a imagem dos “pecadores” incansavelmente, seja instituições públicas, privadas, personalidades influentes na sociedade ou até pessoas comuns, estas menos frequente.

Sinto muita verdade no desabafo: “Sempre faço a coisa certa, e isso é obrigação, mas quando falho sou censurada como se não tivesse acertado outras vezes, porque errar dar ibope”. Comemorar o erro do outro, expor, e evidenciar o deslize é tão feio quanto mentir, fazer fofoca, ser invejoso ou soberbo. É preciso lembrar que o erro faz parte do percurso de aprendizagem e que às vezes,  num ambiente de trabalho, o mouse está danificado, o teclado emperrou, o computador “tá” travando ou tudo isso e a fadiga nos abateu.

Como existem muitos erros, vou tentar classifica-los, de acordo com os comportamentos e o sistema, respectivamente, logo, erros de percurso por condições psicológicas, são definidos como lapsos de memória, falhas de reconhecimento e deduções equivocadas, eles ocorrem por preocupação, cansaço ou pressa, esta, relacionada com os anteriores, e isso é popular, mas não é visto com olhos ternos na maioria das vezes.

Quanto ao sistema, a sociedade convencionou que o humano é imperfeito, e falhas são comuns, isso independe da posição do gestor ou da categoria da empresa. Não estou falando de erros propositais que possuem uma finalidade perversa, nem muito menos da culpabilização de um indivíduo, o famoso bode expiatório, discorro sobre a dinâmica do erro natural do indivíduo.

Então, por que o erro do outro salta aos nossos olhos, e o nosso não? Entre outras coisas, quando ocorre de uma pessoa que temos afinidade errar, automaticamente “passamos o pano”, bem como disseminou a internet midiática. Nesse sentido, até que ponto, nós, sujeitos sociais, somos capazes de decidir julgamentos e penalizar ações, quer dizer, somos competentes, se não somos, por que o fazemos? A quem pode interessar a repercussão constante de fatos errôneos?

Se pudesse fazer uma retrospectiva de erros nacionais e locais, não seria possível terminar este texto, contudo, que lição poderia ser aprendida? A correção, não é? Reparar é a melhor maneira de consertar um engano, além do acompanhamento do pedido de perdão, no entanto, muita gente gosta de enaltecer e comemorar a falha do outro, sim, outro, no sentido crítico apresentado pela antropologia social, que pretende observar o humano não no sentido de estrangeiro, invasor, mas com uma noção de que existe pessoas singulares, que entendem o mundo da sua maneira e que não há erro nisso.

Não temos controle do presente, passado ou futuro, mas carrego uma convicção paralela à música do Capital Inicial, “Se um dia eu pudesse ver, meu passado inteiro, e fizesse parar de chover, nos primeiros erros”, então, presumo que o estresse físico e mental, o ritmo de trabalho e fatores pessoais são os propulsores de alguns erros, não é vitimização, é uma fatalidade da sociedade, e precisamos entender como ocorreu o erro e não simplesmente apontar o outro para expô-lo.

Danna Anute é estagiária de Jornalismo na Fundação Hospital do Acre 

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