A magia do teatro boliviano chega na segunda etapa do FestUsina

Grupo de Teatro de Los Andes traz dois espetáculos e oficinas para Rio Branco

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Espetáculos revelam trabalho em equipe desenvolvido pelo grupo Teatro de Los Andes (Fotos: Luciano Pontes/Secom)

Quando estava exilado na Itália, o argentino Cezar Brie tinha um sonho, o de voltar para a América do Sul e montar um grupo de teatro. E foi com a também argentina Naira Gonzalez e o italiano Giam Paolo que em agosto de 1991, eles foram para Sucre, na Bolívia e fundaram um dos grupos teatrais de maior prestígio do país, o Teatro de Los Andes. Agora, chegam pela primeira vez ao Acre, na segunda etapa do Festival Usina de Arte de Teatro, trazendo os espetáculos "En Un Sol Amarillo – Memorias de un Temblor" e "Te Duele?".

O Teatro de Los Andes vive de sua própria produção, e ao longo dos anos ganhou prestígio nacional e internacional, se apresentando em vários países da Europa e América. "Mas a Bolívia é um país muito rico em tradições culturais, possui uma raiz muito forte e enriquecemos o nosso trabalho com essa tradição. Nossos fundadores juntaram a formalidade européia com a tradição boliviana", conta Alice Guimarães, brasileira, que faz parte do grupo e mora em Sucre desde 1998.

O que caracteriza o Teatro de Los Andes é acima de tudo o seu trabalho em grupo. Cada participante mostra o que pode ser feito, o que pode ser acrescentado, modificado. Todos são ouvidos e tudo é aproveitado. Tudo isso para aprimorar a relação com o público que determina o nosso trabalho: fazer teatro e trazê-lo para onde o povo esta, universidades, bairros, aldeias e comunidades locais. Encontrar um novo público para o teatro e criar um novo teatro para o público.

São os atores os responsáveis por tudo, desde a preparação do espetáculo, montando cenários, até passar ferro no figurino. Os espetáculos serão apresentados em espanhol, mas de uma forma clara e limpa, além da força das imagens que serão apresentadas, nas duas peças que o grupo traz, a denúncia e crítica social são pontos bastante explorados.

En Un Sol Amarillo – Memorias de un Temblor

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Texto de En un sol amarillo, memorias de un temblor denuncia corrupção na Bolívia (Imagem cedida)

O texto da peça vem de uma fonte coletiva, é o resultado de um longo processo de síntese, montagem e edição de centenas de depoimentos coletados nas cidades de Aiquile e Totora, e as comunidades rurais de buracos, Chijmuri, Loma Larga e Chakamayu Antakawa, atingidas por um forte terremoto, devastadas, com casas destruídas, centenas de feridos e dezenas de mortos. Em pouco começaram a circular vozes, que se converteram em clamores, sobre o roubo das ajudas, desvio de fundos, abusos contra as pessoas.

É um espetáculo de denúncia, com o total objetivo de falar sobre a corrupção boliviana. Estará em cartaz nos dias 6, 7 e 8 de agosto, às 20 horas, na Usina de Arte. Ingressos: inteiro R$ 5 e meio R$ 2,50.

Te Duele?

A violência doméstica atravessa todos os níveis sociais. Uma a cada duas famílias. Esse espetáculo traz centenas de imagens e metáforas visuais ao redor desse tema. A casa de recém-casados é um ringue de boxe: um espaço fechado onde as brigas se alternam às tréguas, situação da qual não se espera que os moradores saiam, na maioria dos casos, a não ser derrotados, destruídos psiquicamente, feridos ou mortos.

Esse retrato sobre a triste realidade da violência estará em cartaz nos dias 13, 14 e 15 de agosto, às 20 horas, na Usina de Arte. Ingressos: inteiro R$5 e meio R$2,50.

Oficina e trajetória

O Teatro de Los Andes também ministrará uma oficina de improvisação física e vocal para a cena, de 10 a 14 de agosto, na Usina de Arte. A oficina vai trabalhar a base da criação dos espetáculos, além da improvisação e criação de imagens e como transformar tudo isso em teatro. Além da oficina, uma demonstração de trabalho será realizada no dia 7 de agosto. As inscrições estão sendo feitas na secretaria da Usina de Arte.

É a primeira vez do grupo de teatro boliviano no Acre, mas eles já vieram outras vezes no Brasil. O Teatro de Los Andes esteve várias vezes em Londrina, no Paraná, além de já terem se apresentado no Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte. Mas foi em Los Angeles, que o grupo viveu uma de suas histórias mais interessantes.

Em uma série de apresentações na cidade norteamericana, o grupo teve a visita numa de suas apresentações do grande ator Kirk Douglas, que recebeu três indicações ao Oscar, e estrelou Spartacus sobre a direção de Stanley Kubrick. De idade avançada e vitima de um derrame, Kirk Douglas dificilmente ficava até o fim de um espetáculo teatral devido sua condição, mas se encantou com o trabalho do Teatro de Los Andes, ficou até o final da apresentação, desejou parabenizar o grupo após o espetáculo e mandou uma carta elogiando ainda mais o trabalho de todos. Todas as apresentações em Los Angeles tiveram casa cheia, feito que o grupo espera repetir no Acre.

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