A história da minha mãe

Por Márcia Cristina Portela de Mesquita Souza*

A história da minha mãe é semelhante a de outras mães acreanas. Ela tem ascendência indígena e nordestina. Nasceu e foi criada nos seringais de Tarauacá, interior do Acre.

Sua história reflete um pouco o que foi o Ciclo da Borracha, pois, assim como seus irmãos do sexo masculino, ela também cortou seringa e trabalhou no manuseio do látex.

Filha de uma família numerosa, ajudou na criação dos irmãos mais novos, além de trabalhar com a extração da seringa e na agricultura familiar, pois, naquela época, consumiam o que produziam e também o que criavam, além dos produtos obtidos por meio de trocas.

Ela casou-se aos 19 anos e teve cinco filhos. Quando meu irmão mais novo tinha 2 anos, aconteceu a separação de nossos pais.

Após o casamento, o trabalho realizado por ela não mudou muito, pois os cuidados eram voltados para os filhos, em vez dos irmãos. Além da criação dos filhos, mesmo na década de 1980 e mesmo trabalhando na zona rural do interior do Acre, sempre trabalhou fora para complementar a renda familiar.

Essa é uma história comum, de uma família comum, mas de uma mulher e mãe extraordinária. Que, apesar do pouco estudo, educou e criou os filhos, preservando sempre os valores repassados por seus ascendentes.

A história da minha mãe tem um fundo sagrado, aliás todas as mães têm um lado sacro. Ela se chama Maria, assim como a Virgem Santíssima, mas também é do Carmo, assim como os carmelitas, na Terra Santa. Carmo em hebraico significa “vinha”. Maria é a vinha do Senhor e a nossa Maria do Carmo é nossa vinha, nosso porto-seguro. Aquela que sempre esteve ao nosso lado, nos educando, nos alimentando, nos incentivando.

Ela é uma mãe que nos ensinou a dividir a comida, quando não era suficiente para todos, e que muitas vezes não se alimentou, para que não nos faltasse. Nos ensinou a plantar para colher. E nos ensinou a pescar; aliás, na maioria das vezes nossa alimentação dependia da sorte na pescaria.

Hoje, que sou mãe, consigo perceber todas as renúncias que a dona Maria do Carmo fez por nós. E como tudo acontecia de uma forma tão leve, que não fazíamos ideia de todas as necessidades pelas quais passávamos. Ela nos mostrou quão importante é estudar para ser alguém na vida, vencer com o próprio esforço.

Nos natais, não ganhávamos presentes, não tínhamos uma ceia farta, mas ela nos contava belas histórias sobre Papai Noel, que nos faziam perceber que nós éramos os verdadeiros presentes.

Sou mãe, mas serei sempre filha para disputar seu colo macio e seu cheiro doce com meus irmãos. O seu carinho conosco sempre ultrapassou todas as barreiras das dificuldades.

Minha mãe é uma jovem senhora de 65 anos e o seu amor e carinho parecem se multiplicar, pois a chegada dos netos fez com que ela ganhasse nova vida e faz questão de dizer que agora é mãe duas vezes. Ela é a pessoa que nos une, que faz questão de reunir todos os filhos e netos para o almoço de domingo. Na sua casa, sempre tem café quentinho para oferecer e dois dedos de prosa.

Ela usou a educação escolar que não tinha para nos mostrar a importância de estudar. Nos mostrou o quanto o trabalho e a honestidade dignificam o homem e a mulher também. Sempre nos educou no amor!

Mãe, nesse dia, meu grande desejo é continuar sendo filha!

Feliz dia a todas as mães!

Márcia Cristina Portela de Mesquita Souza, ouvidora-geral do Estado do Acre, e sua mãe Maria do Carmo. Foto: Arquivo de Família

*Márcia Cristina Portela de Mesquita Souza é ouvidora-geral do Estado do Acre

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