Artistas, produtores e gestores culturais são qualificados para expandir e aprimorar o seu trabalho
Trabalhar com cultura não é tão simples quanto parece. Quem só aprecia o trabalho de artistas e produtores culturais às vezes não sabe quanto esforço há por trás do trabalho de levar um espetáculo ao grande público e, principalmente, o artista retirar do seu trabalho o seu sustento, precisando investir e se qualificar em áreas não tão artísticas assim. Exatamente por isso, surgiu no Acre o projeto Cultura Acreana, que é uma parceria de várias entidades acreanas ligadas à cultura e que tem como objetivo qualificar os processos de gestão e produtores culturais no processo de empreendedorismo.
"A ideia é basicamente despertar os fazedores culturais para o empreendedorismo, para que o artista também tenha atitude e não apenas dependa das atitudes dos outros", explica Alex Lima, um dos articuladores do projeto pelo Sebrae. Assim, através de diversas oficinas específicas para 23 grupos culturais acreanos, produtores, gestores e artistas estão sendo qualificados para saber lidar com o empreendedorismo cultural através da captação de recursos, busca de patrocínios, organização adequada de projetos e editais e trabalho em grupo.
O projeto é ambicioso, pretende chegar a quase todos os fazedores culturais do estado, num período que vai desse ano, até meados de 2011. Alex explica que as oficinas estão ocorrendo no prazo, outras estão sendo articuladas e esse ano o projeto já chegou aos grupos de Culturas Populares, Arte Educadores, Cultura Afro, Produção e Música, que encerrou uma de suas oficinas na última semana.
Qualificando, repassando e ensinando
Em outubro aconteceu uma oficina técnica ministrada pelos produtores culturais Luiz Carlos Sabadia e Liduína Lins, ambos especialistas no desenvolvimento de projetos culturais. Essa oficina qualificou gestores culturais acreanos para dar continuidade ao projeto e se tornarem oficineiros junto aos grupos do estado. Assim, os próprios fazedores culturais são os realizadores, focalizando principalmente uma gestão e produção qualitativa.
A oficina de produção musical foi ministrada por Shelly Torres e Marco Brozzo. Marco explica que "todo artista no Acre também é um produtor do seu próprio trabalho, e muitos tem deficiência e curiosidade na área de formato a cultura". A oficina não se resumiu apenas ao ensino de empreendedorismo, mas também foi realizado todo um levantamento da cultura brasileira, sua história e seu atual momento. "É um projeto que ensina que é possível sim sobreviver e trabalhar com cultura", completa Marco.
Artista que produz
Como no Acre a maioria dos artistas é produzido por si mesmo, nada mais normal que as oficinas de empreendedorismo cultural sejam ocupadas pelos próprios artistas. A cantora Dannah Costa é uma das que saiu maravilhada da oficina. "Foi super esclarecedora, escrevemos vários trabalhos e esse conhecimento só vem aprimorar a nossa linguagem". Durante a oficina, os participantes também visitaram pontos culturais em Rio Branco e agora eles se organizam para trabalhar encima desses locais. "Lógico que iremos respeitar o que já existe no local, não iremos invadir, e sim acrescentar", explica Shelly Torres.
E foi na oficina de música que também encontramos Seu Francisco, que usa o nome artístico de Chico da Mata, um homem de 54 anos, que mesmo analfabeto criou todos os filhos na base da educação e hoje os vê saindo e entrando da universidade. Chico da Mata produz e compõe há décadas e viu na oficina de empreendedorismo uma verdadeira oportunidade de expandir seu trabalho. Ele que já tem um CD, com 19 canções, todas falando sobre o meio ambiente, se mostra um apaixonado pela causa ambiental. "Esse projeto vai me dar um favorecimento dentro do meu diálogo com o público", explica Chico da Mata, mostrando que não há idade para aprimorar aquilo que gostamos de fazer.
O projeto Cultura Acreana é uma iniciativa da Câmara Temática de Música, em parceria com o Sebrae, Governo do Estado (Fundação Elias Mansour), Prefeitura de Rio Branco (Fundação Garibaldi Brasil) e Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.