A BR-364 e o desafio de concluir e cuidar

Faltam 47km entre Feijó e Jurupari para conclusão da BR-364 (foto: Gleilson Miranda/Secom)

Faltam 47km entre Feijó e Jurupari para conclusão da BR-364 (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Seiscentos e trinta e um quilômetros de estrada estão entre a capital acreana Rio Branco e a segunda cidade mais populosa do estado, Cruzeiro do Sul. A BR-364, rodovia que une o Acre de uma ponta a outra é reconhecida como um dos maiores desafios de engenharia do Brasil, mas um desafio que finalmente está sendo vencido. Depois da conquista de mantê-la aberta o ano inteiro, apenas 47 quilômetros não estão concluídos. Falta o trecho entre a cidade de Feijó e a região conhecida como Jurupari, a última etapa, que deve ser asfaltada definitivamente este ano.

Pela primeira vez na história da BR-364 é o próprio Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deracre) que está realizando a obra de construção de um trecho, com seus funcionários e sem empresas terceirizadas na execução. São mais de 100 máquinas (sendo 42 caçambas) e 300 pessoas envolvidas. Só este ano foram investidos no total R$ 85 milhões na estrada, 51 vindos do governo federal e o resto de recursos próprios do estado.

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“Aqui se trabalha por metas. E o nosso tempo é curto, mesmo que o verão deste ano esteja ajudando. Já, já começa a chuva e ela é nossa maior inimiga”, conta o diretor do Deracre, Ocírodo Oliveira Júnior. São seis equipes de trabalho e todo dia tem reunião para discutir os equipamentos que serão utilizados, funções e remanejamentos. Todas as equipes são importantes, mas atualmente é a equipe que faz a base da estrada que tem a maior responsabilidade. O Deracre está um ritmo de trabalho alucinante para que até 30 de setembro esse trecho esteja finalizado.

Mas por que é tão difícil?

Em alguns pontos, foram retirados 12 metros de barro “tabatinga” para preencher com barro vermelho (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Em alguns pontos, foram retirados 12 metros de barro “tabatinga” para preencher com barro vermelho (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

“O primeiro problema é o solo. O segredo para fazer qualquer estrada é pedra. E isso o Acre não tem”, explica o engenheiro responsável pela obra, Fernando Moutinho. O famoso barro “tabatinga” que existe em toda a região não tem nenhum valor, qualidade e não é capaz de suportar camadas asfálticas. “No início era horroroso, tivemos que arrancar todo esse material ruim. Teve local que arrancamos 12 metros de profundidade e tivemos que preencher tudo. E os lençóis freáticos? Tínhamos que drenar a água toda e ainda lidar com a instabilidade do solo”, reforça Moutinho.

{xtypo_quote_right}O segredo para fazer qualquer estrada é pedra. E isso o Acre não tem{/xtypo_quote_right}

Para complicar ainda mais, todos os importantes rios do Acre cortam a BR-364, alguns trechos ficam completamente alagados no período de chuvas e por isso pontes precisaram ser construídas. Ao todo, a rodovia tem 55 pontes, só na região entre Jurupari e Feijó são cinco. E com uma região tão alagadiça, bueiros e galerias tiveram que ser construídos, existindo três a quatro linhas por quilômetro, o que em comparação a outras rodovias é uma proporção enorme.

Tudo isso gera particularidades únicas para a BR-364. Questões que os protocolos oficiais estabelecidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) não são capazes de resolver. “Cheguei aqui, ajudei na realização de um trecho e estourou tudo. E eu não entendi, porque tínhamos feito tudo correto em relação ao planejamento. Foi necessário desenvolver um protocolo próprio, que terá que ser anexado aos protocolos do Dnit. São especificações próprias. Essa estrada é uma universidade. Eu tenho 40 anos de engenharia e ainda estou aprendendo todos os dias”, contou o engenheiro e consultor Salvador Almeida, que trabalhou em 21 estados antes de vir pro Acre nos anos 80.

“Essa estrada é uma universidade. Eu tenho 40 anos de engenharia e ainda estou aprendendo todos os dias”, Salvador Almeida (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

“Essa estrada é uma universidade. Eu tenho 40 anos de engenharia e ainda estou aprendendo todos os dias”, Salvador Almeida (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

E embora não existam mais travessias de balsa entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul, ainda existe uma barreira que encarece e dificulta a conclusão da BR-364: insumos.

Materiais x Transporte

No começo, os insumos de construção da BR-364 chegavam todos por balsas, transportados no inverno e estocados para que durante o verão amazônico fossem utilizados. Teve seixo que viajou cinco mil quilômetros em balsas para chegar ao Juruá. Hoje, quase tudo chega por terra, o que não diminuiu tanto os custos e tempo. O mais acessível é o barro vermelho, necessário para fazer a base da rodovia. Hilariante, embora a estrada cruze num dos piores tipos de solo da Amazônia, existem jazidas de barro vermelho na região que tem atendido toda a demanda para conclusão.

{xtypo_quote_right}Ao todo, a rodovia tem 55 pontes, só na região entre Jurupari e Feijó são cinco{/xtypo_quote_right}

São 150 mil metros cúbicos de barro vermelho para toda a obra. Mais de 1.000m³ estão sendo usados todo dia, o que dá cerca de 77 caçambas cheias, embora vez ou outra esse número ultrapasse cem descarregamentos feitos pelos caminhões. Mas a base não pode ser feita só com barro, é necessário misturar com cimento. E é aí que começa uma série de dificuldades.

Jazidas locais dão conta de todo barro vermelho necessário para a obra (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Jazidas locais dão conta de todo barro vermelho necessário para a obra (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

“De cimento são 820 mil sacas usadas para misturar com o barro vermelho e fazer a base da obra, que irá segurar o asfalto e mantê-lo firme. O cimento está vindo de Brasília, Cuiabá, onde tiver, qualquer lugar que encontrarmos. As fábricas não estão dando conta da necessidade de cimento do país inteiro. E na medida que o transporte é longo, tudo encarece”, explica Ocírodo Oliveira Júnior.

A brita, fixada na base com piche e comprimida para virar a capa que irá receber o asfalto, vem de Rondônia. E os 47km que faltam exigem 40 mil metros cúbicos de brita. Nas obras da BR-364, um caminhão de brita – que custa entre R$ 60 e R$ 80 em Rondônia, de onde vem – chega a custar até R$ 500 para chegar ao acampamento Massipira, quartel general das obras do Deracre na região. Só no primeiro domingo de setembro, 1, quinze carretas estavam sendo esperadas para descarregar brita. Já a areia vem de Feijó mesmo. São oito mil metros cúbicos.

Um caminhão de brita - que custa entre R$ 60 e R$ 80 em Rondônia, de onde vem - chega a custar até R$ 500 no Acre (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Um caminhão de brita – que custa entre R$ 60 e R$ 80 em Rondônia, de onde vem – chega a custar até R$ 500 no Acre (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Sonho realizado

O lema da etapa final da BR-364 não é “Concluir e Cuidar”  à toa. Após a finalização do trecho entre o Jurupari e Feijó, o trabalho ainda assim não estará acabado. Vale lembrar que equipes de recuperação trabalham em quase todos os trechos da rodovia. E um dos problemas de se transportar os insumos por terra é justamente o de desgastar áreas já finalizadas. Hoje, podem ser vistas ações de recuperação nos trechos entre Sena Madureira e Manoel Urbano, além de Tarauacá à região do Rio Gregório.

“O planejamento das ações do ano que vem será feito ainda esse ano. Para que seja definitivo o término dessa rodovia. O Deracre está completando 50 anos e estamos dando esse presente para o Acre”, enfatizo o diretor do Deracre.

A estrada deve ser inaugurada ano que vem com uma cerimônia com a presidenta Dilma (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A estrada deve ser inaugurada ano que vem com uma cerimônia com a presidenta Dilma (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A ideia é concluir de vez a BR-364 e entregá-la para o Dnit em 2014, para que o Departamento passe a ser responsável pela manutenção, já que é a uma estrada federal. O governador Tião Viana planeja que a inauguração seja um momento único, que deve contar com a presença da presidenta Dilma, por representar a conquista de um verdadeiro marco para o povo acreano.

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