A borracha acreana que percorre o mundo

"A Vert quer apoiar um projeto de reflorestamento dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, de onde compramos todo o FDL utilizado em nossos sapatos. Agora precisamos do dobro da borracha do ano passado. Aqui, na Resex em Assis Brasil, é onde tudo começou" Francois Morillon (D), presidente da Vert (Foto: Arison Jardim/Secom)
“Aqui, na Resex em Assis Brasil, é onde tudo começou”, afirma Francois Morillon (D), presidente da Vert (Foto: Arison Jardim/Secom)

Dando cor e formas diversas para a borracha amazônica, o seringueiro moderno do Acre confecciona o látex em sua própria “colocação” (área de terra). Da sapatilha colorida feita por artesãos na floresta acreana a sapatos produzidos na França e vendidos para o mundo todo, a borracha em forma de Folha Defumada Líquida (FDL) acrescenta mais valor para o trabalho nas estradas de seringa.

A técnica foi implantada pela Universidade de Brasilia (UnB) no estado há quase 20 anos. Fruto disso, na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, a Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista de Assis Brasil (Amopreab), com apoio do governo do Estado, mantém uma parceria com a empresa francesa Vert, que produz sapatos vendidos em diversos países, há nove anos. Cerca de 100 famílias extrativistas estão envolvidas, vendendo entre 6 e 10 toneladas de FDL.

Enquanto a Vert paga R$ 8,50 pelo quilo de FDL, o governo completa o valor com o subsídio de R$ 3,50, totalizando R$ 12 por quilo de borracha.

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“O seringueiro se sente com orgulho da sua produção”, afirma o professor Floriano Pastore, professor da UnB responsável por difundir o processo da folha de borracha na Amazônia. “Essa iniciativa consiste em agregar valor ao produto e ao trabalho do seringueiro. O cernambi, látex extraído e que não recebe manufatura, tem um valor mais baixo. Agora, existe uma alternativa”, diz o pesquisador.

Além do valor financeiro, a produção de FDL difere do modo tradicional de processar o látex em borracha. Pastore explica o passo a passo do procedimento: “O seringueiro colhe o látex e o leva para casa, coagula com o ácido pirolenhoso, e depois passa em uma espécie de prensa até afinar o coágulo. O próximo passo é estender a folha que sai, que é um material de alta qualidade”.

Assinatura da renovação de contrato da empresa Vert com os seringueiros de Assis Brasil (Foto: Arison Jardim/Secom)
Assinatura da renovação de contrato da empresa Vert com os seringueiros de Assis Brasil (Foto: Arison Jardim/Secom)

Dando novo passo na parceria, a Vert pretende agora apoiar o plantio em áreas degradadas dos seringueiros que lhe fornecem a borracha. Com isso, ganhará um aumento na produção, que já tem mercado garantido pela empresa, e o reflorestamento da Resex.

“A Vert quer apoiar um projeto de reflorestamento dentro da Resex, onde compramos toda a FDL utilizada em nossos sapatos. Agora precisamos do dobro da borracha do ano passado. Aqui, na Resex em Assis Brasil, é onde tudo começou”, diz Francois Morillon, presidente da Vert. Ele explica ainda que nos próximos anos a demanda vai aumentar, já que em 2017 a empresa precisa de 17 toneladas de FDL.

Durante a renovação de mais um contrato, no último mês, as conversas dos trabalhadores com a equipe francesa mostram o impacto do grupo de seringueiros que protege a Resex Chico Mendes. Eles provam que viver nela gera renda.

Na comunidade Castanheira, dentro da Resex, filho de seringueiro, crescido na cultura da borracha, Erivan Silva segue os passos do pai e também é um dos fornecedores de FDL. “Antes, quando meu pai ia cortar seringa, vendia a borracha por R$ 0,40. Botava em um burrinho e ia vender na cidade. Voltava com nosso mantimento. Hoje, a borracha que eu tiro, vendo em FDL por R$ 12 para a Vert”, relata o jovem, que consegue até R$ 1.000 de renda mensal.

Agora não é mais o pequeno burro que carrega os mantimentos para casa – o seringueiro e a família vão para a cidade fazer faculdade com a renda da borracha e da castanha, sem abandonar sua “colocação”, como é o caso de Silva e a mulher.

"Antes, quando meu pai ia cortar seringa, vendia a borracha por R$ 0,40. Hoje, a borracha que eu tiro, vendo em FDL por R$ 11,90 para a Vert", diz Erivan Silva, Resex Chico Mendes, Assis Brasil (Foto: Arison Jardim/Secom)
“Antes, quando meu pai ia cortar seringa, vendia a borracha por R$ 0,40. Hoje, a borracha que eu tiro, vendo em FDL por R$ 11,90 para a Vert”, diz Erivan Silva, da Resex Chico Mendes, Assis Brasil (Foto: Arison Jardim/Secom)

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