Em quatro anos projeto vai investir cerca de 2 milhões de reais em pesquisas relativas aos efeitos das queimadas em Cruzeiro do Sul e Rio Branco (AC) e Alta Floresta (MT)
Uma parceria entre a Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp/campus de Guaratinguetá), Embrapa Acre, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Universidade Federal do Acre (Ufac), Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Washington, Serviço Florestal Americano e outras instituições nacionais e internacionais, está permitindo o desenvolvimento de pesquisas inéditas sobre os impactos da retirada da floresta e do uso do fogo, sobre vários aspectos do meio ambiente, no bioma Amazônia.
Em quatro anos o projeto "Combustão de Biomassa de Florestas Tropicais", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vai investir cerca de dois milhões de reais em pesquisas relativas aos efeitos das queimadas e suas emissões nos municípios de Cruzeiro do Sul e Rio Branco (AC) e Alta Floresta (MT). Segundo o pesquisador da Embrapa Acre, Falberni Costa, os estudos serão realizados a partir de testes de derruba e queima controlada em áreas rurais, obedecendo à legislação ambiental. "Esta metodologia permitirá resultados mais precisos sobre estes aspectos, que poderão subsidiar políticas públicas para o manejo adequado da floresta", explica.
No Acre serão realizados dois testes de queimadas e o primeiro está previsto para setembro de 2010. Entre 23 de junho e 11 de julho pesquisadores da Unesp, Inpe, Embrapa e Ufac estiveram em Cruzeiro do Sul, realizando as primeiras atividades do projeto, envolvendo a demarcação da área experimental, inventário florestal e amostragens de solo. A visita dos parceiros ao Acre também incluiu ações de divulgação do projeto junto a diversos públicos.
Caráter multidisciplinar
Na terça-feira, 14, alunos do curso de engenharia florestal da Universidade Federal do Acre e profissionais da área participaram de palestra com o coordenador geral do projeto, João Andrade de Carvalho Júnior, professor da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG/Unesp), para conhecer as propostas de trabalho, objetivos e resultados esperados, além de outras experiências de pesquisa nesta mesma linha. "Nossa intenção é atrair novos parceiros para as pesquisas e incentivar a participação de estudantes universitários em trabalhos de iniciação científica no âmbito do projeto", afirma Carvalho Júnior.
Com um caráter multidisciplinar, o projeto "Combustão de Biomassa de Florestas Tropicais" agrega diversos estudos temáticos relacionados aos efeitos das queimadas. Dentre as principais atividades está a quantificação do estoque de carbono no solo, antes e depois da queima, visando à obtenção de indicadores de impactos ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa (gás carbônico e metano). Pesquisas semelhantes vêm sendo realizadas nos estados do Amazonas e Pará desde 1991.
De acordo com Carvalho Júnior, o carbono é o principal formador do dióxido de carbono (CO2), principal gás de efeito estufa. O aumento da concentração deste elemento no ar contribui para elevar a temperatura do planeta, gerando problemas como o degelo e aumento do nível dos mares.
Outra pesquisa estudará a propagação do fogo rasteiro, identificando os fatores que influenciam este tipo de queimada. Os incêndios rasteiros se espalham rapidamente, podendo percorrer até oito quilômetros em uma semana. Para Carvalho Júnior, a falta de umidade é um fator decisivo para a propagação do fogo, por isto florestas recortadas, geralmente mais secas, são mais susceptíveis às queimadas. "O fogo rasteiro derruba as folhas das árvores, possibilitando maior radiação solar no chão da floresta, aumentando as chances de grandes queimadas", explica.
Estudos recentes na área de combustão, conduzidos por Carvalho Júnior, revelaram que o fogo só se propaga em florestas onde a umidade é inferior a 15%. Outra constatação é que, nestas condições, a eficiência de combustão da floresta fica em torno de 50%. "Apesar de ter um efeito devastador, o fogo não queima tudo. Troncos de árvores de grande porte resistem às chamas", afirma.
Paralelamente às questões provocadas pelo uso do fogo, serão estudadas as conseqüências das queimadas para a saúde humana. Durante um ano profissionais da área de saúde coletarão informações em postos de saúde da região de Cruzeiro do Sul, identificando os tipos de doenças mais freqüentes no período das queimadas e avaliando em que medida a sua incidência está relacionada ao tema.