Entrevista com Los Porongas

Em um bate-papo descontraído, os roqueiros falam sobre as novidades desta vinda ao Acre, a vida em São Paulo, influências da banda e o novo disco que será lançado em 2010

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Banda se prepara para gravação do segundo CD em São Paulo (Foto: Divulgação)

Em meio ao calor escaldante, típico das 13 horas de Rio Branco, os músicos da banda Los Porongas, Diogo Soares (vocal) e Jorge Anzol (bateria) chegaram a Agência de Notícias do Acre. Numa conversa descontraída eles falaram sobre os shows que a banda vai fazer pelo Estado e as novidades para este final de 2009 e início de 2010.

Agência de Notícias – Desta vez vocês voltam ao Acre com algumas novidades, entre elas um show acústico que acontece dia 19 no Teatro Plácido de Castro. Como surgiu essa idéia?
Jorge Anzol –
O acústico surgiu em São Paulo, onde vez por outra a gente tocava em alguns lugares pequenos onde não era possível tocar com os instrumentos elétricos por causa do volume. Então a gente começou a desenvolver um show onde a gente tocava as músicas num formato mais acústico, com violão, continuando com a bateria, mas usando vassourinha, umas coisas para tirar um pouco do volume. Os shows começaram a ficar legais e a gente pensou na ideia de transformar o show e fazer um acústico. Foi quando a resolveu vir pra cá e fazer esse show, que na  verdade é uma consequência do que já vem acontecendo em São Paulo, e aí como a gente tinha dois shows pra fazer aqui em Rio Branco, a gente optou por fazer um acústico e o outro elétrico . O acústico acontece no dia 19, no Teatão, e o outro show no dia 9 de agosto, no Festival Chico Pop.

Agência de Notícias – E o projeto Pixinguinha?
Jorge Anzol –
Na verdade a gente está aqui por conta do projeto Pixinguinha, que garante a banda que ganha o prêmio a condição para gravar um álbum e oferece também a possibilidade de a banda fazer uma mini turnê no estado de origem. Então nós vamos fazer dois shows em Rio Branco e mais dois shows no interior, um em Tarauacá e o outro em Cruzeiro do Sul. A expectativa para esses shows é bem legal, porque são lugares difíceis para um artista sair de Rio Branco para fazer um show, por conta do isolamento e as dificuldades que a gente já conhece. Então assim, se é difícil para um jovem fazer música aqui em Rio Branco e ter uma banda de roque, você imagina lá em Tarauacá, Cruzeiro do Sul. Então, esse projeto é muito legal porque não é só o show, junto com o show, vamos ter um bate-papo com os músicos, com os produtores culturais, justamente para dividir a nossa experiência e ouvir também a experiência deles. E na verdade é um papo para trocar uma ideia mesmo e tirar algumas coisas para melhoria da cena no lugar. E também a gente vai oferecer uma oficina de bateria para os músicos locais. Então, nós vamos fazer o show e algumas ações que compõem esse show.

Agência de Notícias – Como estão os preparativos para o novo álbum?
Diogo Soares-
A gente já estava em um momento de produção do segundo disco. Estávamos começando a compor as músicas e como tivemos nosso projeto aprovado, então juntou a fome com a vontade de comer. Porque a gente já estava fazendo as músicas e já tinha a ideia de lançar o disco em 2010, passar 2009 trabalhando, divulgando o DVD que a gente lançou no começo do ano e ainda, em meio a tudo isso, compondo o disco novo. Então, com o projeto, a gente só sacramentou aquilo que a gente já havia decidido. Estamos gostando muito do resultado que está surgindo. A gente agora tem um novo estúdio em casa, onde o Anzol pode tocar a bateria, o Magrão o baixo, João a guitarra, teclado, violão e dá pra cantar, e gravar. O João é quem cuida e opera isso. Assim, a gente está conseguindo produzir o disco novo em casa e a ideia é lançar esse disco depois do carnaval do ano que vem. Por enquanto a gente já tem pré-finalizadas, acho que umas dez músicas. Mas a proposta é chegar a, pelo menos, 20 para poder escolher um número x para poder colocar no disco, e ser um processo diferente do que aconteceu com o primeiro disco dos Porongas. No primeiro, lançado em 2007, as músicas que a gente tinha, foram as que entraram no disco.  Agora, como a gente tem mais tempo, com um estúdio em casa e como a gente está vivendo para isso, queremos chegar a um número maior de canções para poder ter as melhores músicas dentro do disco.

Agência de Notícias – Vocês saíram do Acre para São Paulo para viver da música. Como é a vida lá?
Diogo Soares –
A gente mudou a nossa rotina completamente. Acho que a única pessoa que não mudou a rotina de vida foi o Magrão.  Porque ele continua trabalhando no banco, então é o único que continua acordando cedo, chegando em casa a tarde e tal. Mas eu, o João e o Anzol, que moramos na mesma casa, mudamos completamente a nossa rotina. A gente tá vivendo um momento agora muito voltado pra música. Acho que quando mudamos para São Paulo, sofremos muito com adaptação ao lugar e com a adaptação à nossa convivência. Porque a aqui cada um morava na sua casa. Lá a gente foi morar junto. E depois de dois anos estamos saindo desse processo de adaptação e entrando num processo de produção de música. Então estamos nos relacionando mais com outros músicos que também tão em São Paulo, que também tem banda, outros artistas. Estamos interagindo melhor com a cena de lá. Na verdade São Paulo é uma cidade de muitas cenas. Às vezes as pessoas perguntam como é a cena no Acre, é fácil dizer, pois você lembra de cabeça quem são as bandas de roque e tal. Em São Paulo não tem como saber, mas acaba que sempre tem um show, sempre tem um ponto para quem faz arte. E é importante sempre estar aprendendo e se conectando com as pessoas. Nossa vida está muito focada na música. Agora a gente está numa fase de produção bem voltada para o disco. Porque no fim das contas, o que fica mesmo são as músicas, são as canções que a gente vai fazer. Essa vinda para o Acre tem a ver com isso. Pois é quando a gente recupera uma energia que de alguma forma a gente perde. Quando você está longe da sua família, você já perde naturalmente, mas de um lugar como o Acre, que tem várias peculiaridades… Eu mesmo, sinto muita falta de ir para o mato, ir para o rio. Em São Paulo é mais complicado, apesar de ter também, mas ainda que tenha é diferente.

Agência de Notícias – Você disse que sente falta dessa energia do Acre. Nas músicas que vocês já fizeram, tem esse toque de acreano. Agora que vocês estão em São Paulo, como fica isso? Há mesmo esse regionalismo na música de vocês?
Diogo Soares –
Não sei se Jorge concorda comigo, mas eu não via, eu não conseguia identificar na nossa música muitas coisas que identificassem como uma música feita no Acre. Alguma coisa aqui e acolá, nas letras principalmente. Algumas falam sobre temáticas, por exemplo, Ao cruzeiro que é uma música que fala sobre o Santo Daime, então claro, tem uma relação com o Acre. Nós somos outras pessoas agora. Essa ida para São Paulo fez com que a gente mudasse interiormente. E quando você muda, sua música muda naturalmente. O lance do espaço onde você vive, a vida do artista é essa, do poeta, do músico, do escritor, é traduzir a realidade dele. Então assim, a gente está em outra realidade, viver em São Paulo está influenciando a nossa forma de compor. Há dois anos o Jorge está estudando com um dos melhores bateristas do Brasil que é o Zé Eduardo Nazário, um cara que tocou com todo mundo, com o Hermeto Pascoal, com a Elis também. Isso tudo interfere nessas músicas novas e aí São Paulo mesmo está presente nessas músicas. Uma coisa que não tem tanto no primeiro disco é a reflexão sobre o tempo. Isso não está presente no primeiro disco e eu acho que é bem forte. O lamento sertanejo, que essa história de ter ido embora da sua terra, eu acho que isso também está forte. E outra perspectiva com relação ao sujeito da música. Acho que as músicas do primeiro disco, elas não falam sobre relação entre as pessoas, elas falam sobre um universo mais interior. Esse segundo disco eu sinto que tem isso, tem histórias, uma relação entre uma pessoa e outra.  Essas são algumas coisas que consigo ver agora.

Jorge Anzol – Acho que o que faz as pessoas acharem que tem uma coisa de Acre, uma coisa regional, tem haver com a letra das músicas. Algumas expressões, algumas palavras. Tipo, em Enquanto uns dormem, quando ele fala que faz escultura a luz do lampião, ou então em Ao Cruzeiro, quando o Diogo canta "a proa quando apruma avoa", são expressões que quando você fala lá em São Paulo, ninguém vai nem entender o que é. E aí acho que no inconsciente puxa essa coisa do Acre, uma coisa regional. Mas no som, eu acho que não tem. Quando você vai criar arte, você está refletindo aquilo que te cerca, então você está o tempo todo fazendo leitura das coisas de todas as coisas. E quando você vai fazer arte, quando você vai fazer música, a gente traz todas essas informações. O Led Zeppelin influenciou o Anzol e o Diogo que moram em Rio Branco e influenciou o Júnior e o Alberto que moram no Rio de Janeiro, e o cara que mora em Nova Iorque. Cada um faz a sua leitura do Led Zeppelin e essa é a diferença. A nossa é uma leitura amazônica, completamente diferente da leitura do cara que mora em São Paulo. Musicalmente falando, é uma leitura que a gente faz se utilizando de linguagens universais, se utilizando da linguagem do roque, que é a mesma linguagem que o cara do Rio, de São Paulo de Nova Iorque, Londres está se utilizando também. A gente foi tocar em Uberlândia, aí teve um cara, um músico que chegou pra mim e falou assim "cara eu percebi uma coisa de tambores, um negócio indígena, muito forte". E eu falei "cara sinto te decepcionar, mas esses tambores que você ouviu aí, tem muito mais haver com Legião Urbana ou com a levada de soldados que é feita nos tambores do que com qualquer ritual indígena". Eu me sinto mais influenciado pelo roque, pelo Legião Urbana, pelo roque de Brasília, pelas bandas inglesas, do que um ritual indígena.

Agência de Notícias – Vocês agora estão trabalhando com uma nova forma de divulgação do trabalho de vocês por meio de botons, camisetas, coisas que vocês não usavam antes. Como veio essa ideia?
Jorge Anzol –
Isso é uma resposta a nova realidade da música brasileira. Hoje em dia, a banda é uma empresa. E a gente começou a ver que a maioria das bandas que a gente trombava na estrada, elas produziam um material para vender e para lógico ganhar uma grana. Então percebemos que isso além de ser uma forma de ganhar uma grana, é uma maneira de divulgar também a banda. Por isso, pela primeira vez, antes de vir para Rio Branco, a gente produziu esse material. São camisetas, adesivos, botons, chaveiros, todos personalizados com o nome da banda, que a gente trouxe para comercializar. E isso agora vai seguir com os Porongas. De agora em diante, para onde os Porongas forem essas "tralhas" vão atrás (risos).

Agência de Notícias – Voltando para o show do dia 19, quais as peculiaridades que o público pode esperar para esta apresentação?
Jorge Anzol –
Tocar as músicas com um arranjo diferente do arranjo original. A gente até começou a brincar dizendo "Los Porongas como você nunca ouviu". É meio que uma desconstrução das músicas. Claro que não deu para fazer em todas, mas a gente procurou desconstruir as músicas. Fazer de maneira diferente. E esse é o barato do acústico, fazer diferente do original.

Diogo Soares – Apesar de às vezes compor com o violão, com o bongô, para gente está sendo uma novidade. E é uma novidade boa. A gente experimentou isso em São Paulo e viu que era legal. Como a gente vinha para cá e toda vez que a gente volta para o Acre, a gente volta muito na pilha de trazer uma novidade para o público. Porque o público que está aqui, que vai para o show já conhece a banda, já gosta da banda, já tem o disco. A maioria pelo menos. Então a gente se preocupa tanto com as pessoas que vão conhecer a banda, quanto as que já conhecem e já viram o que a gente está apresentando. Como esse foi um show que deu muito certo lá em São Paulo e a gente também está numa pegada de experimentar novas coisas… o João agora está tocando mais teclado, mas uma vez juntamos a fome com a vontade de comer e decidimos em fazer esse show acústico no Teatrão.

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