Índios Kuntanawa vão à Groenlândia participar da Cerimônia do Fogo Sagrado

Cerimônia acontece entre os dias 17 e 19 de julho

 

 

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  Moradores da aldeia Kuntamanã no rio Tejo, Haru e Iavu Kuntanawa, seguem hoje para a Groelândia (Foto: Flaviano Schneider/Secom)

O indígena Haru Kuntanawa e seu pai Iavu Kuntanawa, habitantes do rio Tejo, alto Juruá, embarcaram hoje para São Paulo e de lá para a Groenlândia, onde participarão nos dias 17 a 19 de julho da Cerimônia do Fogo Sagrado, evento que reunirá milhares de representantes de todo o planeta e pretende ser um alerta sobre as conseqüências do aquecimento global. A Groenlândia é a maior ilha do mundo, fica situada no extremo nordeste da América do Norte e sua maior parte está dentro do Círculo Polar Ártico. Tem mais de dois milhões de quilômetros quadrados, com 80% do território coberto de gelo. É um dos locais do mundo onde já é visível que a temperatura está subindo, com o derretimento de gelo e até surgimento de vegetação em algumas partes do Sul da ilha.

Haru e Iavu saíram de sua aldeia Kuntamanã, no rio Tejo, importante afluente do Juruá e, já em Cruzeiro do Sul, durante pajelança com a bebida sagrada Uni, falaram da mensagem que seu povo Kuntanawa leva ao encontro. ‘Vivemos na Amazônia, vivemos na floresta e sabemos cuidar dela’. Segundo Haru, os índios, a consciência indígena está tranqüila quanto ao aquecimento global. "Nós cuidamos de preservar nossa floresta e não danificar o meio ambiente. Na Groenlândia, vamos levar esta mensagem não apenas em nome do vale do Juruá ou do Acre, mas de toda a Amazônia".

Haru é um jovem líder na aldeia. No ano passado esteve na Europa, onde recebeu o convite para participar da cerimônia do fogo. Além de participar da cerimônia como militante global, ele pensa em sua aldeia e vai tentar aumentar a rede de amigos e apoio internacional em prol da causa de sua gente que luta para ter sua terra indígena demarcada e oficializada. Segundo ele, a terra indígena é uma maneira de garantir que a natureza não será destruída. Os Kuntanawa são cerca de 400 atualmente. Foram quase exterminados no início do século XX pelo avanço dos seringais e com isso sua cultura e língua praticamente desapareceram. Acabaram se confundindo com a população cabocla do alto rio Juruá.

Posteriormente, ajudaram a fundar a Reserva Extrativista do Alto Juruá, mas delas se retiraram por discordarem sobre o usufruto dos recursos naturais e passaram a agrupar-se em torno do local onde se situa seu agrupamento principal, a aldeia Kuntamanã (mais conhecida pelo antigo nome Sete Estrelas). Desde o ano, 2001 eles reivindicam à Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a demarcação de suas terras. No ano passado, o Ministério Público Federal no Acre ingressou com ação civil pública para obrigar a Funai e a União a procederem a demarcação e o registro das terras, localizadas na região do Rio Tejo, próximo à localidade "Restauração", município de Marechal Thaumaturgo.

A profecia esquimó – Uma antiga profecia esquimó dizia: "Os anciões dizem que um dia, quando o "Grande Gelo" começar a derreter, é sinal de que o mundo estará em grande perigo e, quando o mundo mais precisar, o Fogo Sagrado voltará para a Casa do Povo do Topo do Mundo".

Os povos da região desde a antiguidade usaram o óleo de focas para queimar, devido à inexistência de árvores e material lenhoso. Agora com o aquecimento global, o surgimento de vegetação na Groenlândia, o fogo poderá ser alimentado por elas. Angaangaq, um xamã esquimó e um dos organizadores do encontro, viaja pelo mundo inteiro divulgando a mensagem do derretimento do gelo e da necessidade do homem "derreter o gelo de seu coração", permitindo que a energia do Amor se instale plenamente na humanidade. Todos os povos do planeta que participarem levarão cinzas de fogo sagrado de sua região. Haru disse que vai levar consigo as cinzas com que faz o rapé, utilizado amplamente por seu povo como elemento de limpeza e cura.

 

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