Cineclubes vêm ganhando mais espaço como uma forma de apreciar e discutir cinema
A maioria das pessoas está acostumada a assistir apenas filmes dublados e produções hollywoodianas, mas o cinema não se limita a isso. O cinema, como grande ferramenta artística, traz em si, várias artes em uma só. Ele é capaz de abranger música, literatura, teatro, fotografia, e muitas outras em uma única obra. Assim, é de suma importância para o aprendizado, conscientização e, claro, para o aprimoramento do senso crítico de seu público. Dessa busca por discutir e compreender cinema que surgiram os Cineclubes.
O Cineclube é uma associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo e debates junto à exibição de filmes selecionados. Eles têm uma história própria, que liga a evolução do seu trabalho às diferentes situações nacionais, culturais e políticas em que se desenvolveram. São instituições que surgem em resposta a necessidades que o cinema comercial não atende, exibindo um tipo diferenciado de cinema, mais complexo e profundo.
A importância dos Cineclubes se da à medida que as pessoas sentem a necessidade de uma visão ampla do mundo, de acesso aos mais variados meios de transmissão do conhecimento. Talvez pelo costume de assistir apenas grandes filmes comerciais, algumas pessoas percam-se nas legendas e na trama dos filmes que os Cineclubes exibem. Mas, tal como o conceito do cinema televisivo foi construído, o conceito de Cineclube possa surgir, também poderá ele dar lugar a inovações na apreciação de arte tão versátil em temas e abordagens.
E no Acre?
No Acre, o movimento cineclubista anda crescendo e tomando forma. Com a nossa limitação de salas de cinema, os cineclubes acabam se tornando uma válvula de escape para os apreciadores de obras audiovisuais que vão além das superproduções comerciais. Ainda assim, esse é um movimento pequeno, incipiente, que ainda está se articulando.
Em Rio Branco temos os Cineclubes Batelão, Aquiry, Cine Mais Cultura, Cinemacre, Filmoteca da Biblioteca Pública Estadual e Filmoteca do Sesc. O Batelão é um projeto de cineclube da Universidade Federal do Acre, aberto a toda a comunidade, que passa filmes e documentários com grande enfoque social.
Já o Cine Mais Cultura é um programa nacional que através de editais e parcerias diretas, disponibiliza equipamento audiovisual de projeção digital, obras brasileiras do catálogo da Programadora Brasil e oficina de capacitação cineclubista, atendendo prioritariamente periferias de grandes centros urbanos e municípios. Em breve esse projeto chegará nos municípios e teremos 22 salas de cinema no estado que podem vir a se transformar em cineclubes.
O Cinemacre, que acontece na Biblioteca da Floresta Marina Silva, a Filmoteca da Biblioteca Pública Estadual e a Filmoteca do Sesc também realizam exibição de filmes fora de circuito, mas superproduções também, e raramente acompanhadas de discussões e debates. Porém, no Sesc, a Associação Acreana de Cinema, Asacine, realiza aos sábados uma exibição de filmes com temática regionalista, seguidos por um debate com Adalberto Queiroz, um dos pioneiros produtores audiovisuais do Acre.
Mas é o Cineclube Aquiry, que retoma as suas atividades agora em julho, que mais possui um espírito cineclubista. Pretendendo realizar uma programação semanal elaborada em ciclos temáticos, o Aquiry inicia as sessões do segundo semestre de 2009 debatendo o seguinte tema: Sistemas Opressores. Já o tema e a programação dos próximos ciclos serão pensados e discutidos nas sessões envolvendo todos os participantes que comparecerem.
Discutindo a cena
Para Juliana Machado, presidente da Samaúma Cinema e Vídeo, o que precisa melhorar "é as pessoas se conscientizarem da necessidade de um cineclube não só para exibição de filmes, mas pela possibilidade de acesso aos bens culturais produzidos em diversas partes do Brasil e em outros países”. Discutir e compreender a temática e a problemática apresentadas no filme sempre será o espírito do cineclubismo. A socialização desse conhecimento passa a ser o ponto chave.
Além disso, a produção cinematográfica nacional ainda é bastante marginalizada. Os grandes cinemas comerciais não valorizam o produto nacional e os cineclubes também funcionam como uma forma de apresentá-los a população, além do próprio cinema regionalista, produções que saem do eixo sul-sudeste.
No Acre, os avanços no setor audiovisual estão sendo amplamente discutidos entre produtores, cineclubistas e a comunidade. Recentemente aconteceu o I Fórum Setorial Audiovisual e o Circuito em Construção, ambos para alavancar essas discussões. Não só a auto-sustentabilidade das atividades cineclubistas são discutidas, mas também outros pontos mais complexos como os “direitos autorais” das obras audiovisuais, um tema polêmico junto a atividade dos cineclubes e a democratização da internet.
O papel do Cineclube acaba sendo de grande importância nesse momento de fortalecimento da nossa identidade cultural. Vai muito além da exibição de filmes, possibilitando o contato humano e uma ampla troca de informações. Não é só uma discussão sobre o filme, discute a questão do acesso, da produção, de uma experiência rica e completa, maior do que apenas ir ao cinema, ver a obra e sair de lá, sem questionar nada.